Desde que esta hipótese apareceu no nosso caminho, o “se” faz parte do imaginário coletivo, quase sempre usado com desdém, como se a prisão de Bolsonaro fosse não mais que uma hipótese mesmo. Só que ganhou grau de importância ainda maior.

Pelos votos discursais dos ministros, existe zero chance de absolvição – não por excesso de provas, eles não têm nenhuma, ou pela ficção iluminista criada na cabeça de Vossas Excelências que justifica o injustificável, mas porque eles querem condenar mesmo.

Bolsonaro está para Alexandre de Moraes assim como esteve Sérgio Moro para Lula. Se alguém quiser argumentar sobre os excessos da Lava Jato, bem, o STF turbinou tudo o que foi feito e ainda se armou para não ser contestado nem pela imprensa.

A parte que recebe recadinho de ministro no celular, revelando o que os atos e autos sempre acabam confirmando mais à frente. E a imprensa independente, além do baixo alcance, da escassez de investimentos e dos riscos, essa, é calada sem dó quando põe as manguinhas de fora, com direito a busca e apreensão, prisão preventiva e ser julgado direto pelo STF.

Tô fugindo do assunto. Volta. E se prenderem Bolsonaro, o que você imagina que vai fazer – além de correr para as redes sociais e participar da conversa? Será que você vai ter coragem de faltar ao trabalho e ir para a rua se manifestar? Será que você, patrão, descontaria a falta do funcionário que comprovadamente fizer isso? Apoiaria e ia para a rua junto?

JÁ PENSOU NO QUE VAI FAZER SE ISSO ACONTECER?

Não quero ser desmancha-prazeres nem rogado de pragas, mas acho bom você começar a pensar nisso com alguma seriedade e celeridade, porque outra hipótese que deve ser levantada nesse momento é que ele seja preso preventivamente por suposto risco de fuga.

Não é exagero afirmar que Moraes não vai perder a oportunidade de cometer esse exagero. E não perdendo. Foi. Prendeu. A gente faz o quê? Já deu para pensar no assunto desde que começou a ler esse texto? Chegou à conclusão de que não estou aqui criando teoria de conspiração?

Quanto mais desmascarados são estes ministros, mais ódio eles sentem, maior é a aposta que eles fazem, e continuam fazendo porque dentro dela está a certeza de que prenderão Bolsonaro e o povo não vai fazer nada.

Um líder preso pode virar mártir. Ou servir de motivo para o esvaziamento de um movimento. Quem decide isso é o povo. Quem precifica o fato é a manifestação do povo. A aposta foi feita com riscos muito bem calculados. Este julgamento para tornar Bolsonaro réu ou não (como se em algum momento o não fosse uma opção real) é um termômetro da manifestação popular.

AS PESSOAS NÃO SE DERAM CONTA DAS POSSIBILIDADES QUE VEM A SEGUIR

Bolsonaro já é réu. Está oficialmente nas mãos de Alexandre de Moraes com sua caneta nervosa. O ministro conseguiu a medalha de ouro, tornando Bolsonaro réu. Agora ele quer o troféu para colocar na prateleira, prendendo Bolsonaro.

Não é impossível que Moraes imponha a Jair Bolsonaro o uso de tornozeleira eletrônica e outras medidas cautelares, como, por exemplo, proibir o uso de redes sociais. E como faz com Daniel Silveira, vai monitorar cada passo do ex-presidente - se não prender preventivamente alegando risco de fuga, não desperdiçará a primeira oportunidade.

Chegamos a um ponto sem retorno, para todos os lados. Os ministros do STF já deixaram claro que não têm interesse na pacificação do país. Da mesma maneira, fazem o executivo e o legislativo, um apoiando, o outro ora apoiando, ora se omitindo.

Se não há via de paz vinda deles, nós teremos que escolher entre a paz como eles nos querem, calados, omissos, amedrontados, financiando bovinamente com impostos os custos da nossa própria desgraça. Ou começar a pensar desde já o que vamos fazer quando Bolsonaro for preso; agora a questão já não é mais se, mas quando.

Queria muito terminar mais otimista, mas me sinto na obrigação de dizer que as redes sociais serão fundamentais quando acontecerem - de difícil a impossível acreditar que a prisão de Bolsonaro não aconteça. Eles precisam igualar a imagem dele à de Lula, rebaixando Bolsonaro a bandido, como Lula. Mas é ingenuidade acreditar que só as redes sociais serão capazes de enfrentar o que vem por aí.

Dessa vez, vamos precisar de muito mais. Gastar sola de sapato na rua. Só de lá poderá vir uma resposta, sem necessidade de violência.

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