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Crônicas #PensarNaoDoi

“INACABADOS E INSATISFEITOS! ”

“O ser vive como se fosse inteiro e não mais necessitasse de absolutamente nada, em busca de uma tal felicidade, de complementação de vida...!”

01/11/2024 às 16h34
Por: José Carlos Bortoloti
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“INACABADOS E INSATISFEITOS! ”

“.... Nossos pensamentos têm apenas a energia

que tem nossas palavras...”

Protheus!

 

Declaro, a partir de agora, para todos os fins, que estarei, constantemente, muito insatisfeito com o meu desempenho. Em todos os níveis. Principalmente como Ser.  Também com os resultados, daqueles que precisam e dependem de mim, necessitam ter.

Sim, não estou equivocado!

Insatisfeito!

 

Compartilho, assim, o belíssimo texto de Cortella, por sua vez, citando Guimarães Rosa, no qual inspirou minha meta:

 

A insatisfação.

 

“... O animal satisfeito dorme. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual...”!

 

O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital e confortável com a maneira como as coisas já estão rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.

 

A advertência é preciosíssima:

Não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita amortece.

 

Por isso, quando alguém diz: “fiquei muito satisfeito com o teu trabalho”, é assustador.

O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja?

 Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade?

Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está?

Assim seria apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta.

 

Ora, o agradável é quando alguém diz:

 

“.... Teu trabalho, ou carinho, comida, ou aula, ou texto ou música é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas...! ”.

 

Um bom livro não é aquele que, quando termina deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e distantes, pensando que não poderia terminar?

 

Com a vida de cada um também ter de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.

 

É fundamental não nascermos sabendo, nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição, todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer somente para si próprio.

 

Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e nunca a criar, inovar, refazer, modificar.

Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.

 

Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa que quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse mais velha ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando...

 

Isso não ocorre com a gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo.

 

Por isso, a partir de agora, sou a minha mais nova edição (revista e, ás vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente.

 

Espero que mais seres se sintam insatisfeitos e inacabados. Para que o nosso melhor aconteça sempre...!

 

Afinal, ao menos, pensar não dói...!

 

Baseado em Carta da Fonoaudióloga

 e Prof.ª Andréa Schiavetto -
Leituras & Pensamentos da Madrugada

José Carlos Bortoloti

Escritor & Articulista

Passo Fundo – RS -

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