“...O conflito não é entre o bem e o mal,
mas, entre o conhecimento e a ignorância...!”
Vários amigos perguntam-me por que tamanha relevância, de minha parte, em escritos sobre Nietzsche!
Facílimo. Primeiro o pensador está, no mínimo, um século, a frente de nosso próprio pensamento na atualidade.
Uma das partes do livro “Além do Bem e do Mal” (do filósofo alemão Nietzsche 1844-1900), publicado em 1886, é composta inteiramente de aforismos, intitulada: “Máximas e Interlúdios“.
Um aforismo em especial chamou a atenção: o 153, que traz a expressão que dá título à obra e que diz: “aquilo que é feito a partir do amor acontece além do bem e do mal” — uma afirmação que abraça conceitos enormes do universo humano e da filosofia. E que coloca o amor em mesmo nível da verdade.
Mas por que estou dizendo isto?
Há algum tempo aconteceu-me algo em que o “mal”, e não precisa ser enviado por alguém mau, ao contrário, fazemos isso tão automaticamente que dificilmente ou inconscientemente temos noção do feito.
O fato me deixou melancólico e, confesso: Não me fez bem. A maioria das filosofias religiosas utiliza também um aforismo para alguns acontecimentos do nosso cotidiano. Nós, brasileses, como um país mais cristão do que qualquer outro tipo de sentimento religioso, utilizados o mesmo, porém do modo cristão quando afirmamos: Ele (Deus) escreve certo por linhas tortas.
Eis um erro de interpretação.
Esta, a interpretação cabe aos estudantes de teologia. Sim os teólogos estudam no mínimo cinco anos para, exatamente, nos darem em noção mais sintéticas e claras os significados de cada grande texto escrito nos grandes livros sagrados.
Com uma correção que o folclore trouxe erradamente até os dias de hoje: O correto da frase é: “Deus escreve certo por linhas que nós enxergamos tortuosas...”! E não o acima.
Mas busco no antropólogo e teólogo Fábio de Mello – perdoem-me se não utilizo seu título de sacerdote. Porém prefiro seus conhecimentos mais profundos daqueles difundidos pelo padre. Em um de seus pronunciamentos, exatamente, sobre o bem e o mal, deixou registrado:
“O bem é algo que alguém vem e diz para você. Como por exemplo; eu te amo. Isto entra em seu ouvido como bom. Você o classifica assim e pronto, recebeu algo bom.
O mal é quando alguém lhe conta que colocaram (metafórico aqui) uma “galinha preta na esquina”. Você certamente não liga, não dá bola... Continua Fábio de Melo.
Mas se este alguém disser: Colocaram uma galinha preta na esquina para você. Este é o mal que lhe foi dirigido e entra em seu ouvido. Você poderá deixar que isto entre. E ficar preocupado... E não dormir... E ficar pensando em quem lhe quer tanto mal para lhe desejar isto. Pronto entrou em você. Você fez a escolha.
Então, continua Fábio de Melo: O bem ou o Mal é algo que você deixa entrar em seu ouvido, aceita, fica com ele. No fundo foi você que aceitou.... Pois ninguém tem este poder sobre você. Só você. ”
Esta explicação tão inteligente e em forma de fábula, de metáfora, ou mesmo um aforismo em meio a toda a brilhante exposição confesso: Pegou-me de jeito.
E continuou meu amigo:
Não adianta grandes leituras, ter lido mil livros, estar em contato com toda a intelectualidade que procuras e buscas o tempo todo, se não colocar em prática para sua própria vivência.
Fico feliz – continuou o amigo – que faças isto tudo e auxilia, ajuda tanta gente que lhe pede conselhos. Mas e você?
À primeira vista pareceu-me um pouco egoísta. E ele continuou.
É óbvio, faz parte de você.... Deve ter pensado em egoísmo e isto você não aceitaria. Só pense no que o Fábio disse... Profundamente... E coloque para você. Só isso.
Foi uma bela lição aprendida. Depois disso tenho limpado e cuidado com mais frequência e acuidade o meu “filtro” do que ouço do Bem e do Mal. Pelos do bem ou pelos que são maus.
Assim deixo entrar somente o que me faz bem, para que eu possa compartilhar com meus amados amigos o que também poderá lhes fazer bem.
Na mesma obra de Nietzsche – Para Além do Bem e do Mal – deixou ele registrado:
“...O amor revela as qualidades sublimes e ocultas do que ama, - o que nele há de raro, de excepcional: nesse aspecto facilmente engana quanto ao que nele há de habitual...! ”
Certíssimo ele.
Revendo muitos pensamentos e atitudes...
Afinal, pensar não dói...!
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
José Carlos Bortoloti
Passo Fundo – RS
Jornalista e Escritor