“Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.”
Óbvio que você deve ter lido uma infinidade de livros que asseguram ter descoberto a fórmula mágica para encontrar senão a felicidade, dias mais felizes.
Não se preocupe, eu próprio já li vários deles desde minha adolescência. Confesso que tirei muito pouca coisa de aproveitamento... O resto páginas lotadas de lixo de autoajuda barata.
O motivo é simples. Para ser distante e até um pouco antipático é preciso estar, de certa forma, com algumas amarguras não resolvidas. Estar amargurado, é na realidade que trará a felicidade.... Ou alguns dias melhores. Você poderá me dizer que é uma “desculpa” dos melancólicos. Pode até ser, mas, o êxito de uma vida não é a busca da própria felicidade que me levará a algum lugar e sim os momentos que fico feliz comigo mesmo.
O restante: mera transferência.
É lógico que você pode pensar que o seu objetivo na vida é ser feliz. Centenas de contos e fábulas infantis, tradições milenares, escritos filosóficos e preconceitos culturais podem tê-lo orientado para a busca da felicidade, ainda que ela possa se parecer com o “Santo Graal” (Santo Graal é uma expressão medieval que designa normalmente o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia, e onde, na literatura, José de Arimateia colheu o sangue de Jesus durante a crucificação, entretanto a origem do Santo Graal é muito anterior ao cristianismo, o Graal já existia entre os Celtas. Milhares de anos antes de Cristo). Ainda que esteja etiquetado com a palavra utopia, e, além de tudo, saiba que milhões de pessoas na história a procuraram antes de você e não obtiveram sucesso.
A felicidade é supervalorizada em detrimento de uma certa amargura, ou se preferir, melancolia.
A busca da felicidade não nos leva a conseguir sermos felizes. Na realidade, precisamos de infortúnios, desgraças, tragédias, catástrofes, crimes, pecados, delírios e perigos nas nossas vidas. E senão os tivermos, nós os inventamos. Por quê?
Porque, no fundo, a felicidade é chata. Imagine um coro de anjos sorridentes pousando numa nuvem e logo estará bocejando; observe então, esses mesmos anjos, discutindo, traindo e sofrendo uns com os outros, e perceberá que está comovido.
Faça, se puder e estiver próximo, uma visita ao jardim zoológico. Observe os animais e repare como todas as suas necessidades estão garantidas: São alimentados sem que peçam, estão protegidos contra as doenças e não tem de temer predadores, pois as suas vidas já não se resumem a uma questão de sobrevivência. Podem se relacionar com outros de sua espécie e passear livremente por um espaço (limitado, isso sim) adaptado às suas necessidades.
Será que esses animais são felizes?
Não é verdade que estão num estado de tédio e de hipnose infinitos? Imaginem agora, o efeito da felicidade em um ser humano.
Encher um humano de felicidade é o caminho mais rápido para aborrecê-lo, para afundá-lo no tédio e para deixa-lo um asfixiante estado de depressão. Não há nada mais difícil de suportar do que uma serie consecutiva de dias bons. Sem dificuldades não podemos ser felizes. A verdadeira felicidade, o autêntico êxito que os livros de autoajuda tanto perseguem e a realização pessoal residem, então, na arte de viver uma vida amargurada.
Você pode levar tudo isso meio na brincadeira, meio a sério, mas com certeza tem muito de você no que foi dito até agora.
Pode pensar.... Não dói!
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
José Caros Bortoloti
Jornalista & Escritor
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