O Universo inteiro, dizem agora os cientistas, não é nada senão mudança, atividade e processo – uma totalidade em fluxo que é à base de todas as coisas:
“Toda interação subatômica consiste na aniquilação das partículas
originais e na criação de novas partículas subatômicas. O mundo
subatômico é uma dança sem fim de criação e aniquilação, de
matéria transformando-se em energia, e de energia transformando-
se em massa. Formas transitórias faíscam dentro e fora da
existência, engendrando uma realidade sem fim, para sempre,
novamente, recriada.” [1]
O que é nossa vida senão uma dança de formas transitórias? Não está tudo sempre mudando: as folhas nas arvores do parque, a luz em seu quarto enquanto você lê, as estações, o clima, as horas do dia, as pessoas passando por você na rua? E nós? Tudo que fizemos no passado não parece agora um sonho? Os amigos com os quais crescemos. os fantasmas de nossa infância, os pontos de vista e opiniões que uma vez defendemos com tamanha e sincera paixão: deixamos tudo isso para trás. Agora, neste mesmo instante, ler estas linhas, este artigo, parece a você vividamente real. Mas esta mesma página não será, dentro em pouco, mais que uma lembrança.
As células do nosso corpo estão morrendo, os neurônios do nosso cérebro estão se deteriorando. Até a expressão em nosso rosto está sempre mudando, dependendo do nosso humor. O que nós chamamos nossa personalidade básica é apenas um “fluxo mental”, nada mais. Hoje nos sentimos bem porque as coisas estão indo bem; amanha sentiremos o contrário. Para onde foi esse sentir-se bem? Novas influências tomaram conta de nós à medida que as circunstâncias mudaram: somos impermanentes, as influências são impermanentes e não há em parte alguma, algo sólido ou duradouro a ser apontado.
O que pode ser mais imprevisível do que nossos pensamentos e emoções: você tem qualquer idéia do que vai pensar ou sentir nos próximos minutos? Nossa mente, de fato, é tão vazia, tão impermanente e transitória quanto um sonho. Olhe para um pensamento, como ele vem, fica e vai. O passado é o passado, o futuro ainda não surgiu, e mesmo o pensamento presente, como nós o experimentamos, torna-se logo o passado.
“A única coisa que realmente temos é o presente, o agora”. Algumas vezes, quando ensino, algumas coisas, depois alguém se aproxima de mim e diz:
“Tudo parece tão óbvio”? Eu sempre soube disso.
“Diga alguma coisa nova”. Respondo então: “Você realmente entendeu e realizou a verdade da impermanência”?
Você de fato a integrou em cada um dos seus pensamentos, respirações e movimentos a tal ponto que sua vida se transformou?
Faça a si mesmo estas duas perguntas: lembro a cada instante que estou morrendo, e todos e tudo ao meu redor também, e desse modo trato todos os seres a todo o momento de forma compassiva?
Meu entendimento da morte e da impermanência tem sido tão forte e urgente para mim a ponto de que dedique cada segundo da existência à busca da iluminação? “Se “você pode responder” sim” as perguntas, então você compreendeu de fato a impermanência.
Se você compreendeu então descobriu que pensar não dói...!
Fonte:
O Livro Tibetano do Viver e do Morrer. – Sogyal Rinpoche – Editora Talento – Palas Athena – 5ª edição – Outubro – 2000 –
São Paulo. SP
Entendimentos & Compreensões
José Carlos Bortoloti
Jornalista e Escritor.
Passo Fundo/RS
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