Há algum tempo, publiquei em sitio do grupo Kasal, de Vitória, ES, o qual tinha o privilégio de ser um dos articulistas. O mais simplório, em meio a tantas mentes geniais uma crônica chamada – (inter) Ações sem Comunicação – Perdendo a Finura -, a pedidos de amigos, muito amados, que estão comigo real e virtualmente.
Agora, novamente, estes mesmos amigos, sentindo que a “grossura” parece estar saindo pelos “poros” das pessoas, inclusive nas redes sociais e muito mais ao vivo. Fazendo com que as pessoas, por problemas seus ou não, se tornem mais embrutecidas e menos cordiais, bem menos afáveis, nada simpáticos, consequentemente, menos gentis e bondosos.
O que está acontecendo com os seres, ditos humanos, na maioria demasiados humanos? Em a Gaia Ciência, Nietzsche afirma:
Numa perambulação pelas muitas morais, as mais finas e as mais grosseiras, que até agora dominaram e continuam dominando na terra, encontrei certos traços que regularmente retornam juntos e ligados entre si: até que finalmente se revelaram dois tipos básicos, e uma diferença fundamental sobressaiu. Há uma moral dos senhores e uma moral de escravos; acrescento de imediato que em todas as culturas superiores e mais misturadas aparecem também tentativas de mediação entre as duas morais, e, com ainda maior frequência, confusão das mesmas e incompreensão mútua, por vezes inclusive dura coexistência até mesmo num homem, no interior de uma só alma.
Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa, pintor pós-impressionista e boêmio que viveu em Alby, França, no final do século dezoito. Fez, ao que se sabe, segundo sua biografia, um único texto, ao menos publicado. Nele Henri falava sobre Elegância. Utilizo-me de sua transpiração para tentar deixar uma espécie de mensagem para as pessoas, em pleno século vinte e um.
Ele afirmava:
Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância (gloss) do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, por exemplo. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para fazer... Porém, é elegante reconhecer o esforço, a amizade e as qualidades dos outros.
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...
Sobrenome, joias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. É elegante a gentileza. Atitudes gentis falam mais que mil imagens... abrir a porta para alguém é muito elegante. Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante... sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma... oferecer ajuda... é muito elegante... Olhar nos olhos, ao conversar é essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: Se os amigos não merecem uma, certa cordialidade, os desafetos é que não irá desfrutá-la.
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Transpirado das redes (ditas) sociais
José Carlos Bortoloti
Jornalista e Escritor
Passo Fundo – RS -
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