#NossasExpressoes&Ditos
“As Quengas em Polvorosa! ”
“.... Os costumes, cuja excelência torna
o governo quase inútil e cuja corrupção
o torna quase impossível...! ”
Alexis de Tocqueville
No Brasil atual, da corrupção, roubalheira, amantes, “propinodutos” (eis aqui um neologismo) fazendo com que tudo se torne uma polvorosa situação.
E os termos são difundidos virtualmente, mesmo que 90% por cento sejam “Maria-vai-com-as-outras”. Repetem. Dizem por dizer. Simplesmente “entram na onda”. Mesmo não sabendo os significados do que estão, literalmente, espalhando....
Ah, nosso amado e rico (culturalmente) nordeste.... Como dizem os poetas de cordel: ”não seriamos felizes sem as quengas...! ”.
Quenga?
Sim vem do quimbundo Kienga, tacho. - Língua da família banta, falada em Angola pelos ambundos. -
No seu sentido original, quenga é uma vasilha feita da metade de um coco sem a polpa. E como é que apareceu com o significado de prostituta no Nordeste brasilês?
Por comparação do fruto com o crânio, a palavra coco popularmente é usada como sinônimo de cabeça. Assim, quenga – um coco sem a polpa – seria como uma cabeça sem cérebro, ou seja, uma pessoa desmiolada, tal como sucedeu à quenga que perdeu o juízo e caiu na vida.
E quando as quengas ficam em polvorosa! Polvorosa?
A palavra aparece mais frequentemente na expressão “em polvorosa” em grande confusão.
Não veio como parece, de pólvora, mas do espanhol polvorosa, cheia de pó.
O latim pulvu, pó, deu o português pó e o espanhol polvo que originou poloroso, poeirento, sendo a palavra popularizada na expressão “poneer pies em polvorosa”. A tradução já foi popular em português: meter os pés em polvorosa, ou seja, sair correndo, levantando poeira.
Está confuso?
Vamos lá, as quengas levantam poeira, saem em polvorosa quando tem propina, principalmente de políticos.
Propina vem do latim – propina – dádiva.
Em grego, propino significava beber à saúde de ouro (entre os gregos, havia o costume de brindar a alguém deixando no copo e um resto, que seria bebido pelo homenageado). Dai veio em latim propinare, com o mesmo sentido, depois ampliado para o de oferecer. Desta última acepção, surgiu o latim propina, dádiva, que passou para o português como gratificação.
Propina, em francês, é pourboire, “para beber”, e, em alemão, é Trinkgeld, “dinheiro para beber”.
Em português, gorjeta, também é, etimologicamente, uma gratificação para beber, porque veio de gorja, garganta (dai gorjear), mais a terminação –eta.
Então não se surpreendam quando ouvirem, principalmente, no Nordeste em algum evento político as quengas em polvorosa atrás de uma propina.
E as quengas, seguem alegrando o Nordeste.
Eis nosso amado Brasil e a riqueza do regionalismo.
Viu, é bonito e pensar... Não Dói!
P.S.: "As Quengas" é o título de um livro de Julinaldo S. Oliveira que narra a história de Sun e João, um casal cujos destinos se cruzam apesar das circunstâncias desafiadoras.
Entendimentos & Compreensões
Das Curiosidades de nossa Língua
José Carlos Bortoloti
Escritor & Articulista
Passo Fundo – RS –
Colaborador da Revista No Ponto do Fato