Brasil, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2026. Uma data que, se fosse filme, seria dirigido por um Kubrick socialista com roteiro do MST e trilha do Caetano. Não será ficção: deve ser real. Mas parecia um sonho. Eu acordei no meio e resolvi escrever isso daqui. Vai que acontece, né?
Era pra ser uma daquelas sextas de café requentado e posts ranzinzas, mas o Brasil acordou como quem descobre que o café sumiu, o bule quebrou e o barista virou coach de liberdade.
Tudo começou com um decreto de Lula 3, aquele governo que mistura marxismo com horóscopo do dia: proibiu aglomeração por "risco sanitário, climático e astrológico". Isso depois de uma live de 3 minutos do Bolsonaro convocando o povo para ir às ruas.
Se Saturno está retrógrado, não pode mais churrasco, e esse desgoverno é saturnista por excelência. Entendedores entenderão.
A resposta foi genial: protesto ao contrário. O povo, com um QI coletivo que faria Descartes pedir conselho, inventou o "FICA EM CASA, A INFLAÇÃO E A CORRUPÇÃO A GENTE VÊ DEPOIS". E assim foi.
Camareiras largaram os lençóis, motoristas desligaram os apps, garçons esqueceram as bandejas e até o cooktop do Senado pegou folga.
Brasília virou cenário de apocalipse gourmet: sem som, sem tumulto, apenas o barulho constrangedor da elite togada conversando com o eco.
O Tesouro desabou, a Receita Federal deixou de arrecadar, o ministro da Fazenda entrou em crise existencial no TikTok e os salões de beleza viraram arquivos mortos da vaidade.
No Congresso, a fome bateu. Deputados sentiram falta do bufê, do ar-condicionado e da moça do cafezinho. Em desespero gourmet, votaram impeachment de tudo: do STF, do INSS zumbi e do próprio decreto que os trancou em casa. Votaram de pijama, com Wi-Fi caindo e gato miando ao fundo.
Enquanto isso, os togados, acostumados ao aplauso forçado e ao Instagram de toga, enfrentaram seu maior pesadelo: a indiferença.
Sem público, viraram oradores de auditório vazio. Supremocracia, sem trending topics, tentou censurar a hashtag #CalaAEsquerda, depois que diversas pessoas da direita enviaram mais de 1 milhão e 200 mil notificações extrajudiciais para big techs denunciando posts de esquerdistas, terroristas e criminosos.
A elite do poder em Distopil queria censurar a direita com o fim do artigo 19 do Marco Civil da internet, mas o que receberam foi um motim digital de pedidos de censura em muito maior número contra esquerdistas.
Era o caos, mas um caos organizado, limpo, quase escandinavo. E a esquerda perdia mais perfis por dia do que a direita, pela primeira vez.
Afinal, ninguém precisa sair de casa para enviar notificações extrajudiciais digitalizadas pedindo censura de crimes cometidos por alguns esquerdistas por aí. FICA EM CASA e CALA A ESQUERDA ficaram muito tempo nos trending topics por aí.
Por um milagre, a campanha do fica em casa também lembrou que era preciso punir a emissora gloBaal. Um grande boicote gloBaal foi espalhado. Quedas de assinaturas de TV a cabo, jornal. A audiência do Jornal Supranacional ficou menor do que a das TVs públicas. Subtraço no Ibope.
Bonnemerd ficou falando sozinho, com o Jornal Supranacional tendo audiência negativa, o que significava que só os funcionários da emissora gloBaal estavam assistindo.
Anunciantes fugiram da emissora gloBaal, preferindo anunciar na vendinha da esquina, que continuava aberta, apesar de poucos clientes. O povo se recusava a assistir a uma emissora que apoiou censura e cujos jornalistas se orgulhavam de contar o que falavam com pessoas importantes pelo zap.
Lula tentou contra-atacar com vale-gás em triplo. Ninguém apareceu. Até o Exército recusou fritar hambúrguer na UnB ou pintar guias. Sobraram os lobistas, mas já estavam em Goiânia, fazendo home office com filtro retrô e lobby pelo smartphone.
No auge do surrealismo, ministros atravessaram a rua de sandália e foram pessoalmente pegar os pedidos de impeachment entregues por deputados suados, a pé, sem motorista nem perfume.
Era o teatro do absurdo com orçamento público. Mas todo mundo que só ficava em Brasília de terça a quinta resolveu nem ir mais. Brasília ficou mais vazia do que o fundo do oceano Atlântico. Só ficaram os peixes mutantes do envenenado lago Paranoá. Vai saber o que jogam por ali.
E Bolsonaro? Fez live para falar em manifestação, mas a live caiu. A Starlink entrou em protesto solidário? Mais provável que fosse notificação extrajudicial para as redes sociais censurarem. Mesmo assim, a mensagem viralizou: "Fica em casa, mas fica de olho". Virou mantra, virou meme, virou missão.
Resultado: PIB caiu, diesel sobrou, arrecadação morreu, poucas notas fiscais foram emitidas, IPTU virou promessa de campanha e o tofu feminista ficou sem escolta. Até mesmo os narcos ficaram sem clientes.
O petroleiro presidente do Senado, preocupado com o petróleo que não sai do fundo da Foz do Amazonas, propôs um pacto nacional com sorteio de procurador-geral via TikTok e promessas de liberdade total, inclusive para quem ainda acredita nos números mágicos do IBGE. Uma espécie de anistia da censura para os 200 milhões de brasileiros.
A ideia de anistiar o povo todo, de forma ampla, geral e irrestrita, fez com que um novo tipo de esperança surgisse no horizonte.
A partir do "fica em casa", todo mundo começou a pensar numa solução para o Brasil. Cada um tinha a sua, mas vencia a ideia de menos imposto, mais eficiência, menos burocracia, mais Brasil e menos Brasília.
Mais poder aos estados e municípios, menos poder a políticos centralizadores. Menos impostos, menos inflação, mais dinheiro na mão do povo e liberdade de expressão irrestrita. Voto distrital puro para melhor representação na Câmara.
Contagem pública de votos também entrou na pauta. Afinal, se cada seção contar no máximo 400 votos, é factível terminar uma eleição rapidamente. Ainda mais se, em toda seção, essa contagem for feita sob o olhar público, e não em salinhas secretas no meio da ilha de Brasília.
O fim do DREX passou a ser necessidade. Ter uma moeda digital inspirada no yuan digital chinês não pareceu uma boa ideia. Em vez disso, foi exigido que o dinheiro em papel continuasse existindo, que o bitcoin não fosse taxado de maneira nenhuma, e que os impostos fossem reduzidos de forma drástica, permitindo ao cidadão, ao menos, respirar.
Inclusive, reduzindo o número de deputados e senadores a números razoáveis. A consequência? Acabar com cabides de emprego no funcionalismo público e nas estatais.
Tudo isso entrou na pauta do Congresso. E quando eles iam votar, só a esquerda era contra tudo, mas já era tarde demais. O centro e a direita, de forma avassaladora, aprovaram e celebraram.
Quando eu fui ver o placar de votos, tomei um susto e acordei.
Não sei, de verdade, quantos políticos de fato acreditam na liberdade. Mas acordei do sonho torcendo para que sejam muitos e que eles não se manifestem apenas quando o povo ficar em casa exigindo mudanças, não é mesmo?
Moral da história? Quando o povo decide calar, regimes autoritários perdem o poder da caneta. Sem caneta, não há papel. A engrenagem invisível que move o Brasil tira folga. E o castelo dos deuses do Planalto da ilha de Brasília desabou, pelo menos no meu sonho, sem barulho. Sem precisar de milhões de pessoas nas ruas. Caiu sem que precisasse ruir um único tijolo, sem manifestação pacífica, nem nada. Apenas com a atitude do povo de ficar em casa até a inflação, a corrupção, a má gestão, a sanha arrecadatória e os desejos tirânicos de alguns, de controlar até as minúcias das vidas das pessoas, sumirem do mapa de Distopil.
E quando até o garçom sumiu, a república tremeu. Não porque faltou serviço. Mas porque, enfim, a conta chegou para os que amavam emitir, cada vez mais, novos boletos de impostos. Foram obrigados a servirem o povo, em vez de se servirem dele.
E povo, por sua vez, lembrou que ele é quem limita os políticos. E não são os políticos que devem limitar o povo. Lição simples, mas que andava esquecida. O povo parou para ficar em casa e, com isso, acabou lembrando do que é essencial. E sem o essencial para o povo — oxigênio, dinheiro, liberdade — não há democracia.