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Mulheres Balzaquianas!

- Ou a Idade da Loba –

José Carlos Bortoloti
Por: José Carlos Bortoloti
26/05/2025 às 11h59
 Mulheres Balzaquianas!

 Mulheres Balzaquianas!

- Ou a Idade da Loba –

 

 "... Todas as mudanças mais desejadas têm a sua melancolia.  Pois o que deixamos para trás é uma parte de nós mesmos. Devemos morrer para uma vida antes de podermos entrar em outra...!"

 

  Anatole France

 O dia estava tranquilo. Daqueles em que se ouve até o leve sibilar das folhas. Mexendo em minhas anotações, o olhar fixou sobre uma pequena agenda. Nela estão os aniversários, registrados, de amigos muito amados. Não esqueço nunca. A Agendinha foi a forma de não perder estas datas. Verifiquei a data e nela estava escrito “Aniversário de...”.

 Uma irmã de alma, muito admirada. Feliz. Peguei o telefone e preparei-me para deixar uma bela frase, com um pouco de impacto. Nem terminou o “alô”, do ouro lado da linha e já mencionei: Felicidades, linda balzaquiana... Além de outra frase de efeito, porém vindo do coração Notei uma espécie de silêncio do outro lado. Esperava a surpresa de ter lembrado. Enganei-me. Em seguido veio uma palavra com uma interrogação, mesmo invisível, gigantesca:

 “Balzaquiana? ”. Emudeci, pois o outro lado continuou.

 Puxa, lembra-se do meu aniversário e me diz uma coisa dessas?

  Ela além de linda é inteligente, mas não posso esperar que seja também uma literata. Pus-me a explicar o significado, mais para desfazer o mal-entendido e ter o efeito pretendido de início.

 À época da corte, no século dezoito, os nobres ao irem aos bailes, como fazem os adolescentes hoje, chegavam “chegando”, e procurando as “gatinhas” o que na época era até os vinte anos. Honoré de Balzac, ao contrário de seus amigos ia, digamos, “para o ouro lado” onde estavam mulheres mais maduras, acima dos 30 anos. Seus amigos zoavam dele por esta preferência.

Ao que lhes respondia:

Elas são emocionalmente amadurecidas, podem viver o amor com maior plenitude, em completa oposição as mocinhas românticas dos livros de literatura. E completava: Geralmente já passaram por uma relação e não foram completamente felizes (mesmo que este completamente seja uma ilusão – grifo meu -), estão estruturalmente completas, suas mentes mais rápidas, e sua inteligência mais completa.

Eis o ideal de mulher. A partir dos 30 anos. Hoje, criamos um adjetivo diferençado e elevamos esta idade até os 40 e poucos anos, direcionando-as como a “idade da loba”. Ferozes para amar e serem amadas. Prontas para enfrentarem o que a juventude lhes negou.

O Escritor francês lançou um livro mais ou menos em 1832, chamado A Mulher de Trinta Anos – fazendo referência na obra também as mulheres de 40 anos.

Na obra Balzac fez uma apologia a estas mulheres de mais idade. Em comparação a moda da época, em que as jovens moçoilas eram cortejadas no máximo até os 20 anos.

Sua personagem principal, Júlia d`Àiglemont, é o grande retrato da mulher mal casada, que após anos de infelicidade, ao chegar aos 30 consegue encontrar o amor nos braços de Carlos Vandenesse.

 Ao terminar uma espécie de resumo, fazendo uma narrativa ao telefone, minha amiga do outro lado entendeu o elogio, visto já ter chegado a esta idade e agradeceu.

Hoje, cuido mais ao dar “elogios literatos” as minhas amigas. Fico no trivial. Caso contrário teria que andar com algumas centenas de livros embaixo do braço e distribuir após cada elogio. Assim fico no simplesinho. Feliz Aniversário Mulher.

Mas balzaquianas e lobas, continuem sendo o que são surpreendendo nossa primitividade e nossa ignorância ao imaginarmo-nos “superior”. Mas ao menos os que pensam, já sabem que isso é ótimo. Continuem superiores balzaquianas e lobas. Bem-vindas.

Quanto aos ditos “homens”, pensem mais... Ainda, não dói!

  

Entendimentos & Compreensões

Leituras & Pensamentos da Madrugada

Da obra A Mulher de 30 anos

 – Honoré de Balzac – (1831- 1832)

José Carlos Bortoloti

Escritor & Articulista

Passo Fundo – RS –

Colaborador da Revista No Ponto do Fato.

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PaulaHá 2 meses Passo FundoJá recebi um elogio de um amigo, utilizando "Mulher Balzaquiana". Questionei! Ele muito inteligente e um apreciador literário, contou-me a história do Honoré de Balzac. Fiquei encantada, e desde então, este termo "Balzaquiana", tornou-se meu elogio preferido!
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José Carlos Bortoloti
José Carlos Bortoloti
Cronista e Escritor - Coautor do Livro Línguas de Fogo - Jornalista/Radialista - DRT/RS 872
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