“Devíamos ser ensinados a não esperar por inspiração para começar algo. Ação sempre gera inspiração. Inspiração raramente gera ação...!”
Frank Tibolt
Há silêncios que não se ouvem, mas se sentem.
Em cada gesto adiado, em cada palavra guardada, há histórias que continuam pulsando dentro de quem, um dia, acreditou que escrever era mais que um ofício: era uma forma de tocar o mundo.
Este texto não é apenas um aceno.
É um reencontro com quem, talvez sem perceber, ainda escreve nas entrelinhas da própria vida. Para aqueles que afastaram as canetas, mas jamais apagaram o desejo de dizer algo que importe. Para quem, mesmo distante do papel, ainda carrega o talento de transformar sentimentos em compreensão.
A vida, às vezes, nos empurra para longe de nós mesmos.
E é fácil acreditar que o tempo fecha as portas, que as palavras perderam a força ou que ninguém mais espera por elas. Mas há quem ainda precise dessas palavras — ainda que nunca tenha pedido. Há quem encontre nelas o caminho de volta, a coragem para seguir, o consolo para um silêncio que pesa mais do que se imagina.
Escrever nunca foi apenas preencher páginas.
Foi construir pontes invisíveis entre mundos que, sem saber, buscavam por um sinal. E isso não se perde: nem com a distância, nem com a ausência de holofotes.
Talvez hoje a urgência tenha dado lugar ao compasso mais lento da vida.
Talvez a tinta tenha secado, mas o olhar continua inteiro, atento às nuances que escapam da pressa. Ainda há vidas esperando ser alcançadas. Ainda há espaço para as palavras certas, no momento certo — mesmo que venham baixas, quase em sussurro.
E enquanto pensamos, resistimos — porque, felizmente, pensar ainda não dói.
Pensar continua sendo um gesto de liberdade, de resistência, de esperança.
Entendimentos & Compreensões — Leituras e Diálogos da Madrugada -
José Carlos Bortoloti — Passo Fundo – RS
Colaborador da Revista No Ponto do Fato
P.S.: Por que esta imagem?
A imagem de uma mão segurando uma pena sobre o papel traduz, com poesia visual, o coração desta crônica. É mais do que um ato de escrever: é o instante em que o silêncio se transforma em gesto, em que o sentir encontra abrigo. Representa a travessia entre o que foi calado e o que ainda permanece no íntimo.
A luz que entra suavemente pela janela sugere esperança — a mesma esperança que resiste em quem, mesmo afastado da escrita, ainda carrega dentro de si o desejo de alcançar o outro.
Assim como o texto, esta imagem fala de reconexão, de reencontro com a palavra, da construção de pontes invisíveis que unem sentimentos distantes.
É a tradução silenciosa do que as palavras, em sua essência mais pura, buscam revelar.