A humanidade que chamamos de evoluída carrega em si a contradição: mesmo conhecendo a compaixão, seguimos ferindo uns aos outros. E a esperança, tantas vezes proclamada, se espalha como um rumor distante.
Desde as primeiras palavras, o "por quê?" Se impôs.
Buscávamos respostas. Recebíamos silêncios. Diziam-nos ser apenas uma fase — um tempo que passaria. E, no entanto, as perguntas persistem.
Calaram a nossa sede de sentido, mas não a apagaram. As questões fundamentais — aquelas que atravessam gerações — continuam, como um fio invisível costurando nossa existência.
Muitos desistiram de procurar.
Resignaram-se a vidas pequenas, onde respostas pouco importam. E, quando têm algum poder, arrastam outros para esse mesmo vazio.
Questionar, no entanto, é parte de nossa essência.
Tocar essa inquietação é tocar o que há de mais genuíno em nós — uma memória antiga do universo pulsando adormecida.
Aprendemos a duvidar até das dúvidas que herdamos.
Carregamos conceitos prontos para tudo: Deus, civilidade, evolução, humanidade.
Mas o que é evoluir? Refazer as perguntas de antes, com novas palavras?
O que é certo? O que é errado? Para quem?
Bondade seria apenas a ausência do mal? Mentira seria tudo que escapa de uma suposta verdade? Verdade de quem?
Nossa estrutura genética guarda vestígios dessas construções — valores transmitidos como verdades inquestionáveis.
Enquanto isso, o impulso de dominar permanece — apenas trocou de máscaras.
Criamos mitos para suportar a falta de respostas.
Projetamos em herois e deuses o que gostaríamos de encontrar em nós. Mas a pseudorreligiosidade roubou esses mitos.
E, com eles, arrancou parte da nossa fé.
Hoje, lutamos menos contra o mundo e mais contra nós mesmos. As batalhas, antes visíveis, tornaram-se silenciosas — travadas em segredo, sem aplausos, sem glórias.
Chamamos isso de evolução. Descobrimos a compaixão — mas também a anestesia das emoções. Aceitamos. Resignamo-nos. E, assim, mantemos a aparência de normalidade.
Mas sob essa superfície, continuam as velhas lutas: dentro de cada um, o antigo combate entre ser e parecer.
Seguimos cheios de perguntas. Seguimos sem todas as respostas.
E enquanto pensamos, resistimos. Porque, felizmente, pensar ainda não dói.
P.S: O porquê dessa imagem:
A estrada sinuosa envolta em névoa simboliza o percurso incerto que cada ser humano percorre.
A névoa esconde respostas que nunca se revelam por completo, enquanto a luz suave do amanhecer lembra que, mesmo entre dúvidas, a esperança resiste.
A árvore solitária ao fundo reforça a coragem de seguir, mesmo sem garantias. Esta imagem traduz a essência da crônica: passos firmes, lutas silenciosas e a persistência em continuar.
Fonte: Banco de Imagens
Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
José Carlos Bortoloti
Passo Fundo – RS
Colaborador da Revista No Ponto do Fato.