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“Enquanto Pensamos...! ”

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José Carlos Bortoloti
Por: José Carlos Bortoloti
23/04/2025 às 19h28
“Enquanto Pensamos...! ”

“.... Com o tempo eu lhe ensinarei como superar.

Você quer voar, mas não pode começar a voar voando.

Primeiro tem que aprender a andar, e o primeiro passo,

ao aprender a andar, é entender que quem não

obedece a si mesmo é regido por outros...! ”

 

— Friedrich Nietzsche

 

Raramente damos ouvidos ao que pensamos. E, com o tempo, silenciar essas vozes íntimas se tornou ainda mais difícil. Escrevê-las — então — é quase um gesto de ousadia, muitas vezes rotulado de esquisitice automática, hipócrita. Banal. Pequena. Primitiva.

Aprendemos, desde cedo, a pensar com a mente dos outros. A julgar com olhos emprestados. A querer o que esperam de nós. Por isso a profundidade das palavras de Nietzsche nos atravessa. Ainda assim, preferimos acreditar que temos as rédeas. Que controlamos o curso do tempo, das escolhas, da vida. E por um instante até parece que sim.

Mas o inesperado vem, e tudo que gira, gira fora do eixo do nosso querer. O mundo segue seu ritmo, alheio aos comandos que pensamos dar. Descobrimos, enfim, que estamos aqui... apenas de carona.

Já reparou nos desenhos animados da infância? Eles escapam do perigo subindo em algo qualquer. E tudo parece bem. Eles só caem... quando olham para baixo. Sempre ouvi dizer que esse é um segredo da vida: não olhar para baixo. Nem para trás.

Mas talvez o verdadeiro segredo esteja além do olhar. Está em não acreditar que estamos no ar, suspensos, sem saber voar. Está em saber que o mundo é feito de grandiosidades..., mas também de delicadezas. E somos nós que nomeamos o que é grande e o que é pequeno.

Quando perdemos algo — ou alguém — que amamos, nada mais importa. O mundo pode estar em ruínas... e a gente mal nota. Nessa dor, entendemos de forma aguda como é possível que as pessoas façam coisas terríveis com outras. E isso ainda nos surpreende. Sempre.

 Como crianças que brigam, quando o único motivo deveria ser a brincadeira. Quem fere primeiro, tenta escapar da dor de ser ferido. Quem veste a pele do monstro, acredita que nada sairá das sombras para atacá-lo. É uma lógica simples. Quase compreensível.

Dizem que tudo vem do medo. Mas o medo — o medo verdadeiro — é só a face do desconhecido. E talvez, sim, vivamos sob desculpas que apenas encobrem aquilo que não entendemos por completo.

Todos os dias, estamos à beira de abismos. Às vezes, saltamos. Outras, somos empurrados. Mas a escolha nunca foi sobre saltar ou não.... É sobre como cair: se de olhos fechados e gritos presos, ou de olhos abertos, peito exposto e coração entregue ao vento.

Enquanto não compreendemos tudo isso, seguimos sendo o que dizem que somos: humanos. Mas o que nos torna humanos? Pensar? Sofrer? Sentir pena?

Ou rir, apesar de tudo?

Talvez a resposta seja essa: rir depois do choro. Doer e mesmo assim amar. Ter passado, presente... e continuar acreditando num futuro.

Talvez sejamos humanos porque sabemos só o bastante para acreditar que sabemos. Sobre nós. Sobre a vida. Sobre o caminho.

Faz sentido para você?

Talvez o que reste seja isso: pensar ainda não dói. E pensar... ainda é o nosso milagre mais silencioso.

 

P.S.: Por que essa imagem:

Evoca solidão e introspecção, como o tom do texto. A neblina representa o desconhecido, o medo, o invisível — tudo o que o texto aborda com delicadeza. A luz ao fundo sugere um caminho possível, esperança, um pensamento ainda não alcançado. A pessoa de costas permite que o leitor se projete na cena, sem rosto, sem nome, apenas sendo. O ambiente natural reforça a ideia de estar de “carona no mundo”, que gira sem nosso controle.

Fonte: Banco de Imagens!

 

Entendimentos & Compreensões

Leituras & Pensamentos da Madrugada

José Carlos Bortoloti

Escritor & Articulista –

Passo Fundo – RS =

Colaborador da Revista No Ponto do Fato.

 

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SylvioHá 2 semanas Ashburnsensacional.
ANDREA CRISTINA PESSOA BRUM ANDRADEHá 3 semanas São PauloPrimoroso texto! Meu Deus! ????????????????????????????????????????????????
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