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O ÚLTIMO ASSALTO, OU, QUANDO O LADRÃO FAZ A OCASIÃO

A história de um menino pobre que migrou em pau de arara

Hermínio Naddeo
Por: Hermínio Naddeo Fonte: Opinião
11/04/2025 às 11h40 Atualizada em 11/04/2025 às 17h33
O ÚLTIMO ASSALTO, OU, QUANDO O LADRÃO FAZ A OCASIÃO
Joédson Alves/Agência Brasil

Se você gosta de filmes que mostram grandes assaltos com planos mirabolantes que envolvem muita organização, integrantes da quadrilha que têm habilidades únicas, uso de tecnologia, criação de álibis, e todo tipo de aparato que te faz aplaudir os ladrões no final, certamente já assistiu a algum filme cujo grande assalto será o último de um bandido muito bem-sucedido, que decide encerrar a carreira em grande estilo. Se não assistiu a nenhum ainda, ao final deixarei um link com 24 filmes de roubo e assalto a banco, entre os quais você encontrará pelo menos uma meia dúzia dentro desse contexto.

Existem os assaltantes comuns, que roubam e furtam qualquer coisa de valor que está ao seu alcance, mas continuam sempre pobres, os assaltantes especializados, profissionais do crime que fazem tudo de forma muito bem estruturada, e existem também os assaltantes desesperados, os que decidem roubar por extrema necessidade acreditando ser esse o único caminho para resolver seus problemas. Devem existir mais tipos, mas, para o raciocínio que proponho, estes bastam.

A COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro, evento climático que reunirá cerca de 60 mil pessoas durante 10 dias, tem o custo previsto de R$ 4,7 BILHÕES DE REAIS. Só para começar a ensaiar o absurdo, dividindo o custo do evento pela quantidade prevista de participantes, a presença de cada um custará R$ 78.333,33. Estaremos pagando quase 79 mil reais para receber estas pessoas. Desse valor individual, com investimento de 1,3 Bilhão na COP30, a Itaipu Binacional está bancando R$ 21,666,67, um terço do custo de cada participante – que, ao fim e ao cabo, nós é que vamos pagar pelas nossas contas de luz.

Vamos dar um passo a mais nessa história. No ano de 2021, dos 5570 municípios brasileiros, apenas 92 tiveram um PIB acima de 1 bilhão de Reais, ridículos 1,65%. Das 20 cidades com maiores PIBs, também em 2021 (impressionante estarmos em 2025 e as informações mais recentes sobre PIB dos municípios serem de 2021...), 12 têm PIB superior a 4,7 bilhões, e das 8 restantes, a menor é Osasco, com PIB de 3,4 bilhões. A cidade de Belém, onde será realizada a COP30, aparece com um PIB de 3,6 bilhões. Outra continha. Para um evento de 10 dias, Belém receberá aportes financeiros quase 31% maiores do que conseguiu produzir de riqueza em um ano.

Por que Belém?

Ora, bolas! Porque Belém é a porta de entrada da floresta amazônica. Precisa de explicação mais óbvia? Não há problema no fato da cidade só ter 18 mil leitos de hotel para receber 60 mil visitantes. É só criar leitos. Por exemplo, construir um hotel por 200 milhões de reais, que depois da COP30 servirá para abrigar secretarias de estado que hoje pagam aluguel, tipo um presente da União para o estado do Pará. Legado, eles dizem. Além do hotel, alugar moradias, quartos e até dois navios de cruzeiro que ficarão ancorados para hospedar os turistas, gerando a necessidade de duplicar um porto para conseguir ancorar estes navios. Claro, mais um legado.

Também não há problema em desmatar 13 quilômetros de floresta para construir uma estrada até então impossível de construir, porque ninguém concebia a hipótese de desmatar a floresta apenas para atender às necessidades da população local, por mais óbvia e necessária que fosse. E sem contar o toque final na arquitetura, com implantação (quanta ironia numa palavra só) de árvores artificiais de 2 metros e meio para enfeitar o caminho de entrada da maior floresta nativa do planeta. Quem haveria de pensar em ideia tão genial? Tudo isso está em artigo de hoje da Gazeta do Povo, deixarei o link no final.

Se você em algum momento pensou que o governador do Pará é Hélder Barbalho, aliado de Lula, filho de Jader Barbalho, que dispensa apresentações (se não conhece, põe no Google que ele te fala quem é o cara), e que o prefeito de Belém é primo do governador, portanto sobrinho de Jader, foi muita maldade. E se pensou que é porque 90% das ONGs ambientalistas estão concentradas no Norte do país, a maioria com atuação em Belém, também foi pura maldade. Imagine só se o governo permitiria que um evento dessa monta servisse de cenário para loobys de ONGs ambientalistas? Ou será que você chegou a pensar que tem a ver com a extração de petróleo na Foz do Amazonas, que tem um potencial quase igual ao volume do Pré-Sal, e que ali seria uma vitrine e tanto para começar a negociar esse petróleo?

Sério, não consigo acreditar que você pensou tudo isso, ou que, em algum momento, tenha ligado o tema do cinema que falei no início com a COP30.

Imagino que você não seja um assaltante. Nem comum, nem profissional, nem mesmo desesperado. E se, assim como eu, você não tem vocação para o crime, não pensa no que pensa alguém que rouba. Mas todo tipo de roubo passa por um processo comum, o qual é a oportunidade. O ladrão precisa da oportunidade. Não importa se é pelo vício, pela ganância ou pelo desespero, um roubo só acontece se a oportunidade acontecer. E, ao contrário do ladrão comum e do ladrão desesperado, o ladrão profissional tem a possibilidade de fazer a oportunidade acontecer, com mais facilidade ainda se ele tiver poder e retaguarda para isso.

E aí, imaginemos um ladrão profissional em fim de carreira, tirado da cadeia, digamos, na casa dos 80 anos, que nem mesmo vai usufruir pessoalmente do dinheiro que vai conseguir roubar, mas que vai roubar porque é o que ele sabe fazer, é o que seus companheiros sabem fazer, e contam com ele para isso. Então, por que não um último assalto, dos grandes, de despedida, sem risco de ser preso, aparecendo em jornais do mundo inteiro sem ser chamado de criminoso, um gran finale com direito a pose de bom moço?

Isso dá uma boa trama. A história de um menino pobre que migrou em pau de arara, aproveitou as oportunidades que teve, se deu bem, ficou poderoso, roubou muito e aos 80 anos tem na mão o poder de criar a ocasião perfeita para o último grande roubo da vida, sem precisar se preocupar com álibi ou com justiça, nem ele, nem seus comparsas. Quem escrever essa história vai se dar bem. O pontapé inicial do enredo está aí. Vira até filme. É fazer a ocasião acontecer sem ser ladrão!

24 filmes de roubo e assalto a bancos

Árvore artificial, desmatamento, hotel de luxo: os fiascos da COP-30 – Gazeta do Povo

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mariana Há 2 semanas FlorianópolisInfelizmente o nosso governo está indo de mal a pior!
MARIANA LOPESHá 2 semanas FlorianópolisMas uma vez o povo sendo roubado na cara dura, infelizmente. Gostaria que mais pessoas pudessem ver esse artigo e ter mais conhecimento no que esta se passando.
André LimaHá 3 semanas prExcelente
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