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O GOLPE QUE ESCORREGOU NA CASCA DE BANANA

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Hermes Magnus
Por: Hermes Magnus
25/03/2025 às 15h14 Atualizada em 25/03/2025 às 15h18
O GOLPE QUE ESCORREGOU NA CASCA DE BANANA

Dizem que o Brasil não é para amadores. Discordo. Ele é para amadores, sim. Inclusive, são eles que mais têm espaço no palco institucional. Prova disso foi a mais recente novela de tribunal, que alguns chamam de julgamento e outros, mais espirituosos, chamam de série cômica em capítulos jurídicos.

Na pauta de hoje, o tribunal decide se transforma um punhado de personagens trágico-circenses em réus por um “golpe” que, honestamente, nem chegou a ser tentativa. Foi mais um ensaio geral de amadorismo, uma leitura dramatizada com ausência de roteiro e elenco improvisado. Um dos atores não conseguiu táxi, outro esqueceu o figurino, e o diretor de cena se recusou a comparecer. Resultado: o tal golpe virou um meme de si mesmo.

Mas o problema, como sempre, não foi o script — foi o casting.

O único que apareceu com convicção foi um almirante, aparentemente movido por alguma nostalgia de canhoneira. Os generais, esses estavam ocupados… talvez em alguma live, algum café colonial, ou simplesmente indecisos entre bater continência ou passar pano. E assim, o plano mirabolante de virar a mesa virou só mais um tropeço de gente que tropeça até em carpete colado.

E o ex-presidente? Ah, ele riu. E agora é julgado por rir. Porque no Brasil, rir no momento errado pode ser interpretado como premeditação. Triste fim para o mito de um país que já teve heróis de espada em punho — agora temos emojis em grupo de WhatsApp.

A acusação? Seria cômica se não fosse trágica. Alegam que houve uma conspiração milimetricamente malfeita para impedir que o descondenado-mor assumisse seu trono. Aquele mesmo que, pela graça da jurisprudência mutável, emergiu das profundezas da Lava-Jato direto para o segundo turno, sem passar pela casinha da vergonha.

É como se estivéssemos vivendo uma tragicomédia shakespeariana tropical, mas com menos poesia e mais PowerPoint.

E como toda boa ópera bufa, o ato final precisa de aplausos. E os juízes, com seus votos solenes e sua prosa barroca, sabem disso. Afinal, não se trata de fazer justiça — trata-se de dar o espetáculo. E que espetáculo! O STF, nosso Netflix constitucional, está servindo mais reviravoltas do que série escandinava. E se o episódio de hoje é sobre transformar o riso em crime, prepare-se: amanhã será o espirro.

Enquanto isso, nas celas, estão presos os figurantes. Os bodes expiatórios da catarse democrática. Alguns foram só ver a bagunça, outros foram bater selfie com a História. Mas como a História é escrita por quem segura a caneta — ou o toffel —, lá estão eles: condenados a pagar pelo enredo que não souberam improvisar.

Porque, convenhamos, até gato quando faz caca sabe enterrar. Esses aí deixaram o cocô em cima da mesa — com prova digital, áudio, print e localização ativada.

Mas que democracia é essa que precisa prender gente pra provar que existe? Talvez a mesma onde não se pode questionar, apenas aclamar. Onde se exige “respeito às instituições”, desde que não se pergunte quem as instalou e por quê.

Em tempos de censura “excepcional”, ministros que julgam memes, e democracias que precisam ser blindadas com código penal, talvez o grande golpe tenha sido nos dicionários. Porque chamam de justiça o que mais parece roteiro de pastelão. E chamam de golpe uma palhaçada mal encenada.

Mas não se preocupe. No Brasil, o que falta de vergonha, sobra de narrativa.

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Hermes Magnus
Hermes Magnus
Olá, sou conhecido como o denunciante que fez os políticos verem o sol nascer quadrado pela primeira vez na história do Brasil! Com um apito na mão e um senso de humor inabalável, estou por aqui para garantir que a verdade sempre encontre seu caminho, mesmo que isso signifique abalar algumas estruturas. Lembre-se, a transparência é o melhor disfarce!
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