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BONITINHA, MAS ORDINÁRIA

Ninguém chega à presidência do PT com base em bons princípios e valores

Hermínio Naddeo
Por: Hermínio Naddeo Fonte: Opinião
13/03/2025 às 11h00
BONITINHA, MAS ORDINÁRIA
Imagem Antonio Cruz - Agência Brasil

Lula não pensou quando, se dirigindo aos presidentes da Câmara e do Senado, disse que escolheu uma “mulher bonita” para melhorar seu relacionamento com o Congresso Nacional. Replico a frase exata para não restarem dúvidas:

“É muito importante trazer aqui o presidente da Câmara e o presidente do Senado. Porque uma coisa, companheiros, que eu quero mudar, estabelecer a relação com vocês… Por isso eu coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, é que eu não quero mais ter distância entre vocês”.

Ainda que culturas imponham alguns padrões estéticos, beleza é uma questão de gosto pessoal. Há quem possa achar Gleisi Hoffmann uma mulher bonita e os que a achem feia ou que não tenha nada de especial. Porém, ao se referir a ela como “mulher bonita”, Lula estabeleceu um comparativo entre as outras políticas de seu espectro político. Se tivesse escolhido Jandira Feghali ou Benedita da Silva para a interlocução com o Congresso, teria dificilmente usado a mesma expressão.

Além disso, ao determinar que a “beleza” de Gleisi é o atributo que poderá facilitar a interlocução com deputados federais e senadores, o mandatário de nove dedos reforça o estereótipo da mulher bonita, loira, branca e heterossexual como característica essencial para o exercício de tal função. Fico imaginando que Erika Hilton deva concordar com Lula, afinal, a única coisa que não conseguiu transformar em si mesma para se assemelhar ao padrão definido por ele foi a heterossexualidade - o que, possivelmente, a eliminaria na concorrência pelo cargo.

Porém, o real motivo pelo qual Lula escolheu a presidente do PT para a articulação no legislativo não tem nada a ver com beleza, mas com uma característica que ela tem em comum ao próprio Lula. Gleisi é uma política ordinária, que no sentido figurado significa “é aquele indivíduo que é mau-caráter, mal-educado, obsceno, com maus instintos“. E se levarmos em conta as histórias reveladas na Lava Jato, caberia também o significado pejorativo: “aquilo que não tem destaque, que é medíocre, vulgar”.

No PT, ninguém vai da militância estudantil à presidência do partido com base em bons princípios e valores como honestidade, moral, prudência, respeito ou convenções sociais. A meritocracia petista se baseia no vale tudo para se alcançar um objetivo, incluindo mentir, trapacear, ofender, distorcer fatos, criar factoides, acusar sem provas, falsear a verdade... Sem falar na corrupção como método de financiar seus objetivos e aproveitar oportunidades em benefício próprio.

Gleisi Hoffmann é um Lula de saia, sem o carisma e o suporte que seu chefe teve ao longo de sua carreira política para chegar onde chegou. Mas tem a coragem necessária para usar todos os métodos usados por ele.

Se Lula nunca permitiu que o PT tivesse uma liderança que não fosse ele próprio, por outro lado, permitiu que surgissem “clones” do seu estilo de fazer política - se é que podemos realmente chamar de política o que ele faz - como os casos de Gleisi Hoffmann e Guilherme Boulos, que não é do PT, mas compartilha a qualidade mais apreciada por Lula nas pessoas que o cercam: a obediência cega a ele e aos objetivos do PT.

Ser bonita não fará a menor diferença para Gleisi Hoffmann conseguir que o Congresso Nacional estabeleça uma aproximação com Lula. É no lado ordinário dela que Lula aposta. Não apenas conhece os bastidores da Câmara e do Senado, ela só trabalha nos bastidores, nas sombras, nas artimanhas, afinal conviveu nos dois ambientes. Conhece bem deputados e senadores, sabe quem são os negociadores das diversas frentes que existem nestas casas e o “preço” de cada um deles.

Se, pelo que Lula disse, usei o nome de uma obra de Nelson Rodrigues no título deste artigo, não faltariam outros títulos de obras do escritor que cairiam bem para falar de Gleisi Hoffmann, como, por exemplo, “A Serpente (1978)”, “Meu Destino é Pecar (1945)”, “Toda Nudez Será Castigada (1965)” e “A Mentira (1936)”. Contudo, caso a, agora, ministra das relações institucionais não se reeleja em 2026, há outro título do mesmo autor que, politicamente falando, cairá bem para a ocasião: “A Falecida (1953)”.

Enquanto isso não acontece, mais uma vez citando título de obra de Nelson Rodrigues, vemos o Brasil caminhando para o que todos já sabiam que ia acontecer, com o perdão do trocadilho, “O Óbvio Ululante (1968)”.

Para finalizar com chave de ouro e deixar uma última homenagem a Nelson Rodrigues, que explorei tanto neste artigo, deixo a frase dele de que mais gosto e considero uma verdadeira profecia:

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André LimaHá 5 dias CuritibaMuitas as vézes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz litetatura, política e futebol com bons sentimentos. Nelson Rodrigues - Parabéns novamente, cirúrgico e inteligente
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