O povo, essa entidade difusa e maleável, vive à mercê de opiniões. São os ventos que o arrastam de um lado pro outro, seja nas democracias capengas que ainda restam, seja nos escombros onde elas nunca chegaram. E o que temos pra guiar essa nau à deriva? A opinião do jornalista que acha que sabe tudo, do teólogo que jura falar por Deus, do político mequetrefe que mal disfarça o cheiro de naftalina da própria mediocridade. Opinião, no fundo, é só isso: um tempero pra reflexão. Você ouve, pondera e, se estiver com o cérebro ligado, aceita. Ou joga fora. O problema é quando vira convicção de prateleira — dessas que você pega na gôndola da esquerda ou da direita, como quem escolhe sardinha em lata no mercadinho da esquina. Prático, barato e, claro, sem o menor esforço.
Mas por que isso é um problema? Porque o que vemos hoje é o crime organizado promovido a inquilino VIP dos poderes. Ou, melhor dizendo, dos podreres — porque, vamos combinar, o fedor de podridão já tomou conta. E eu me pergunto, com a inocência de quem ainda finge acreditar em Papai Noel: ladrão tem ideologia? Claro que não. Tem religião? Menos ainda — ele rouba até a caixinha da missa, sem piscar. E caráter? Por favor, não me faça rir. A personalidade do ladrão é um caso de estudo pra psiquiatria forense, não pra debate de bar. Qualquer manual vagabundo te diz isso.
Enquanto isso, o cidadão comum — aquele pacato, ingênuo, quase um santo em sua burrice bovina — segue sendo amassado como massinha de modelar nas mãos de quem sabe gritar mais alto. Talvez até este texto aqui mexa com alguém. Mas, olha, não é o plano. Minha ideia é cutucar, não embalar mais um pensamento prêt-à-porter pra você engolir sem mastigar. Formação de caráter não é serviço de delivery. É um caldo complexo: sua essência, o chiqueiro onde você vive e, com sorte, duas ou três conclusões que você mesmo pariu. Só que a moda agora é outra: virar um bypass ambulante de gente escrota. Comprar o discurso mastigadinho do político mequetrefe da temporada, desses que se autoproclamam paladinos da verdade enquanto enfiam a mão no seu bolso.
E o que sobra disso tudo? Uma democracia de fachada, frágil como taça de cristal na mão de um bêbado. Um trampolim perfeito pra mais um autocrata subir ao pódio. Pode escolher o sabor: Executivo, Legislativo, Judiciário — todos vêm com recheio de cinismo e uma pitada de desprezo. No fim das contas, o objetivo é o mesmo: um rebanho bem treinado, de cabeça baixa e rabo abanando. Parabéns, eleitor, você foi promovido a gado de luxo.