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A MÃO DE MOSCOU

A Guerra Fria e os Movimentos Revolucionários ao Redor do Mundo

Hermes Magnus
Por: Hermes Magnus
24/02/2025 às 19h46
A MÃO DE MOSCOU

A segunda metade do século XX foi marcada por uma série de movimentos revolucionários que, apesar de suas peculiaridades nacionais, tinham uma característica comum: a influência direta ou indireta da União Soviética. A Guerra Fria, período de rivalidade entre os Estados Unidos e a URSS, foi o palco de insurgências que buscavam transformar suas nações através de ideologias marxistas-leninistas. A subversão comunista financiada pelo bloco soviético foi sentida em diversos continentes, indo da América Latina à Europa e África. Através de suporte logístico, financiamento, doutrinação ideológica e treinamento militar, Moscou esteve por trás de muitos dos conflitos que redefiniram a geopolítica global.

A Frente de Libertação do Quebec e o Ideal Revolucionário no Canadá

Poucos imaginam que o Canadá, país conhecido por sua estabilidade política, também foi palco de um movimento revolucionário de inspiração marxista. A Frente de Libertação do Quebec (FLQ) surgiu nos anos 1960 como um grupo separatista que promovia atentados, sequestros e ataques terroristas na tentativa de transformar Quebec em um Estado socialista independente. Inspirados pelo modelo de guerrilha cubana e amplamente influenciados por ideais revolucionários propagados pela URSS, os militantes do FLQ realizaram mais de 200 atentados a bomba entre 1963 e 1970. O ápice do movimento foi a Crise de Outubro de 1970, quando o grupo sequestrou o vice-primeiro-ministro de Quebec, Pierre Laporte, que acabou assassinado. O governo canadense, sob Pierre Trudeau, respondeu com a imposição da Lei de Medidas de Guerra, esmagando o movimento.

Tupamaros no Uruguai: Guerrilha Urbana Inspirada em Moscou

No Uruguai, os Tupamaros, liderados por figuras como Raúl Sendic, foram um exemplo de guerrilha urbana que buscava instaurar o socialismo através da luta armada. Inspirados pela Revolução Cubana e apoiados logisticamente por grupos alinhados ao bloco soviético, os Tupamaros utilizaram sequestros, assaltos a bancos e atentados contra instituições estatais. Durante os anos 1960 e 1970, o Uruguai enfrentou crescente instabilidade até que o governo foi forçado a declarar estado de guerra interna, culminando no golpe militar de 1973, que reprimiu violentamente a insurgência.

Chile: O Agito da Esquerda e o Golpe de 1973

O Chile, durante o governo de Salvador Allende (1970-1973), tornou-se um experimento socialista sob o olhar atento da URSS. O apoio soviético se manifestava tanto na política econômica quanto na influência sobre sindicatos e grupos armados como o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR). A economia chilena entrou em colapso, a polarização social se intensificou e a violência política tornou-se insustentável. Em 1973, o general Augusto Pinochet liderou um golpe de Estado que destituiu Allende e reprimiu os movimentos comunistas, interrompendo o avanço soviético na região.

Brasil: A Guerrilha Vermelha e o Golpe de 1964

O Brasil não ficou imune à influência soviética. Nos anos 1960, diversos grupos comunistas, como a Ação Libertadora Nacional (ALN) de Carlos Marighella e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) de Carlos Lamarca, recebiam treinamento e apoio da União Soviética, China e Cuba. O objetivo era claro: transformar o Brasil em um Estado socialista nos moldes de Cuba. A radicalização desses grupos, com sequestros, execuções e ataques terroristas, foi um dos fatores que motivaram a intervenção militar de 1964. O regime instaurado pelos militares combateu ferozmente esses grupos, evitando que o Brasil seguisse o caminho de países vizinhos rumo ao comunismo.

Revolução dos Cravos: O Avanço Socialista em Portugal

Em 1974, Portugal viveu um dos eventos mais marcantes da sua história moderna: a Revolução dos Cravos. O golpe militar, que derrubou a ditadura de Marcello Caetano, foi inicialmente saudado como um movimento democrático, mas rapidamente revelou sua face socialista. Grupos alinhados ao Partido Comunista Português (PCP), que mantinha ligações diretas com Moscou, tentaram conduzir o país para um regime comunista. O envolvimento soviético se tornou evidente no apoio às nacionalizações e reformas radicais que quase levaram Portugal à órbita soviética. No entanto, a resistência de setores militares moderados e civis conservadores impediu a total transformação do país em um satélite comunista.

A Revolução Cubana: A Faísca que Incendiou a América Latina

Nenhum outro evento teve tanta influência na propagação dos ideais marxistas na América Latina quanto a Revolução Cubana de 1959. Fidel Castro e Ernesto 'Che' Guevara derrubaram o governo de Fulgencio Batista com apoio direto da União Soviética, transformando Cuba em uma base de exportação da revolução comunista. A ilha tornou-se um centro de treinamento para guerrilheiros de toda a América Latina, incluindo brasileiros, chilenos, uruguaios e argentinos. A aliança entre Cuba e a URSS permitiu a expansão da influência soviética em todo o continente, provocando reações de regimes militares que tomaram o poder para impedir a disseminação do comunismo.

Conclusão: A Guerra Fria e os Tentáculos Soviéticos

O século XX foi marcado por uma batalha ideológica que transcendeu fronteiras e remodelou nações. Os movimentos revolucionários mencionados, apesar de suas diferenças locais, compartilharam uma matriz comum: o apoio, a influência e, em muitos casos, o financiamento direto da União Soviética. Moscou usou sua máquina de propaganda e suas estratégias de subversão para fomentar revoluções em todo o mundo, desestabilizando governos e promovendo o avanço do socialismo. Em contrapartida, os países que resistiram à expansão comunista muitas vezes recorreram a regimes militares como barreira contra a hegemonia soviética.

Hoje, olhando para o passado, é possível entender como a Guerra Fria não foi apenas um conflito entre duas superpotências, mas uma batalha travada em cada canto do planeta, desde a selva latino-americana até as ruas de Lisboa. A mão de Moscou esteve presente, manipulando peças em um tabuleiro geopolítico onde cada nação era um campo de batalha ideológico.

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Hermes Magnus
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Olá, sou conhecido como o denunciante que fez os políticos verem o sol nascer quadrado pela primeira vez na história do Brasil! Com um apito na mão e um senso de humor inabalável, estou por aqui para garantir que a verdade sempre encontre seu caminho, mesmo que isso signifique abalar algumas estruturas. Lembre-se, a transparência é o melhor disfarce!
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