O Governo russo recomendou ao Presidente Vladimir Putin que retire os talibãs da lista de organizações terroristas, o que permitirá reconhecer o movimento fundamentalista como poder legítimo no Afeganistão, disse hoje a diplomacia de Moscou.
A recomendação foi feita pelos Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Justiça, e constitui uma etapa obrigatória para o reconhecimento dos talibãs pela Rússia.
"Todas as considerações foram comunicadas aos dirigentes máximos da Rússia. Estamos à espera que seja tomada uma decisão", afirmou o diretor do departamento asiático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Zamir Kabulov, citado pela agência russa.
Segundo Kabulov, o reconhecimento do Governo talibã pela Federação Russa está muito mais próximo do que quando os fundamentalistas chegaram ao poder no Afeganistão em 2021. "Mas ainda há algumas questões que precisam ser superadas, após as quais a liderança russa tomará uma decisão", observou.
O diplomata referiu que Moscou não tem planos para realizar quaisquer eventos ou trocar telegramas de felicitações com o Governo talibã no âmbito do 105.º aniversário das relações diplomáticas entre a Rússia e o Afeganistão. "Por uma razão puramente formal: falta de reconhecimento oficial", disse à TASS.
As declarações de Kabulov seguiram-se às do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, que reconheceu hoje que os talibãs exercem um "poder real" no Afeganistão. Retirá-los da lista de organizações terroristas é "uma iniciativa que reflete uma coincidência com a realidade", disse Lavrov durante uma conferência sobre a diplomacia russa em 2023, citado pela agência espanhola Europa Press.
Lavrov referiu que nem sequer o Conselho de Segurança das Nações Unidas classificou os talibãs como uma organização terrorista, mas que "entre 12 e 15 indivíduos específicos" figuram na sua lista.
Os talibãs, que praticam uma interpretação estrita do Islão, reconquistaram Cabul em 15 de agosto de 2021, após uma ofensiva que levou ao colapso da administração patrocinada por uma força das Nações Unidas.
Fundado no início da década de 1990, o movimento nacionalista sunita tinha governado o Afeganistão entre 1996 e 2001, quando foi derrubado por uma coligação liderada pelos Estados Unidos, após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Seguiu-se uma ocupação do país asiático por uma força internacional até agosto de 2021, durante a qual foram revertidas as regras mais restritivas que os talibãs tinham aplicado às mulheres, como a proibição do ensino.
Apesar de promessas de mudança relativamente ao primeiro governo, a restauração do Emirado Islâmico do Afeganistão traduziu-se numa redução dos direitos, com especial incidência nas mulheres e num isolamento internacional do país.
A então União Soviética estabeleceu relações diplomáticas com o Afeganistão em 1919. O relacionamento bilateral foi afetado pela invasão russa do Afeganistão em 1979, no contexto da Guerra Fria, que desencadeou uma guerra que durou 10 anos.
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