Ontem assisti ao filme “O julgamento de Nuremberg” (https://www.youtube.com/watch?v=qmABuI2Ne1U), do ano 2000, dirigido por Yves Simoneau, e, impossível não correlacionar o passado com o que vem acontecendo hoje. Algozes nazistas, torturadores, assassinos, falando sobre seus crimes como ato de bravura, purificação da sociedade e estrito cumprimento de ordens. Coincidentemente, no mesmo dia, surge a denúncia do jornal A Folha sobre as investigações de Alexandre de Moraes no STF, alimentadas ilegalmente por um órgão do TSE, o qual não tem poder de polícia e não é entidade dotada de poder investigativo, cuja instituição não há lei que assim o permita existir. Ambos, estarrecedores.
A desfaçatez dos generais nazistas é a mesma com que o juiz auxiliar de Alexandre de Moraes, Airton Vieira pede ao funcionário do TSE, Eduardo Tagliaferro, para “caprichar” (a pedido do Führer) num laudo incriminando o jornalista Rodrigo Constantino, devido a sua opinião. E para não ficar “chato”, solicita que conste do ofício, o pedido de investigação por parte do colega, juiz assessor do TSE ou por um e-mail anônimo, a ser criado pelo mesmo funcionário.
A certa altura do filme, um psicólogo judeu, que acompanhava os nazistas presos, fala para o promotor, que tenta entender a razão de tantas atrocidades cometidas por aqueles homens: “o mal tem origem na falta de empatia”, explicando que eles não viam suas vítimas como pessoas. Da mesma forma, Alexandre de Moraes trata os “golpistas” de 08 de janeiro, entre outros desafetos (Roberto Jefferson, Alan dos Santos, Osvaldo Eustáquio, Daniel Silveira, Monark…), negando-lhes tratamento médico, progressões de penas e direito à ampla defesa, impondo-lhes penas muito mais severas às dadas por motoristas que matam ao dirigir embriagados, traficantes ou corruptos que assaltaram cofres públicos em milhões. Ter opinião contrária a de Alexandre de Moraes tornou-se crime hediondo, passível de bloqueio de contas bancárias por tempo indeterminado, imposição de multas astronômicas, revogação de passaportes, entre tantas outras graves violações dos Direitos Humanos. Não se pode divergir do relator, vítima, promotor, delegado, investigador e testemunha do inquérito nº 4781/2019, o qual se alonga por mais de cinco anos, apesar, da lei determinar sua duração por 30 dias (https://www.jusbrasil.com.br/artigos/artigo-10-cpp-prazo-para-termino-do-inquerito/1109389386)= ).
Pelos áudios, denota-se que o ministro, durante seu tempo livre (não tinha sessão no STF), procurava posts de críticos, inimigos e, principalmente, bolsonaristas para incluir no inquérito do 'fim do mundo" e, desta forma, incriminá-los. Isto é de uma pequenez moral inimaginável. Com tantas questões relevantes intrínsecas a uma Suprema Corte, é ridículo conceber que um de seus ministros fique o dia todo nas redes sociais à procura de publicações que não lhe agradem. É surreal!
Quanto foi necessário para comprar a moral, a consciência e a ética desse juiz? Porque, por óbvio, ele não buscou salvar democracia alguma, muito pelo contrário, envidou todos os seus esforços para destruir um adversário político, o que também é vedado a membro do judiciário (partidarismo político).
Alexandre de Moraes estendeu seu poder para resolver questões pessoais, como o caso do aeroporto de Roma, o qual jamais deveria tramitar no STF, mas lá está, usurpando competência, suprimindo instâncias, negando aos réus acesso às filmagens. Também foi o caso dos sócios do Clube Pinheiros, que comentaram privadamente sobre o ministro, mas que foram ouvidos por seu segurança, e, portanto, arrolados num inquérito.
Mas uma coisa tem me inquietado, por que agora? O inquérito tem mais de cinco anos, as eleições aconteceram há quase 2 anos, o país parece sofrer uma letargia acerca dos desmandos da Suprema Corte desde o fatiamento do impeachment da Dona Dilma... o que está por trás disso neste momento? Fim do prazo de validade de Alexandre? Término dos serviços prestados por ele? Uma súbita onda de indignação? O tempo vai dizer.
Alguns senadores estão se articulando para o mega-pedido de impeachment do ministro, mas se o Presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, não pautar, será apenas mais um na pilha de pedidos arquivados. Os otimistas, afirmam que Alexandre de Moraes irá renunciar. Duvido, seu ego é maior que o medo de ser preso. E algumas pessoas, céticas, como eu, acreditam que logo a poeira vai baixar e tudo voltará à normalidade distópica brasileira.
Assim como os generais nazistas, toda a Suprema Corte brasileira irá responder por seus crimes, pode demorar, pode ser perante o Pai na próxima vida, uma coisa é certa, todos irão pagar, seja pela lei dos homens, seja pela Lei de Deus.
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