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Opinião ELEIÇÃO NO SENADO

DAVI ALCOLUMBRE - O PODEROSO SENADOR DE 196.087 VOTOS

O senador pelo Amapá deixou claro seu compromisso com o governo Lula

03/02/2025 às 13h59 Atualizada em 03/02/2025 às 15h22
Por: Hermínio Naddeo Fonte: Opinião
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Imagem - Fabio Rodrigues/Pozzebom/Agência Brasil
Imagem - Fabio Rodrigues/Pozzebom/Agência Brasil

O mais grave problema brasileiro, ao qual praticamente quase nenhum político trata com a devida importância, é o pacto federativo, uma amarra estrutural ao desenvolvimento brasileiro e implica diretamente em outras tantas evoluções fundamentais, como o pacto fiscal, a representatividade eleitoral de cada estado no Congresso Nacional, o próprio sistema político e a autonomia dos estados. Tudo fica amarrado em um nó cego indesatável, o que apenas amplia e fortalece as desigualdades sociais, a centralização do poder nas mãos da União e impede que os entes federativos, os estados, se vejam obrigados a caminhar com suas próprias pernas.

A nova eleição de Davi Alcolumbre para a presidência do Senado Federal reforça o que o deputado federal Luiz Philippe Orleans e Bragança vem alertando já há algum tempo, quando fala do poder das regiões Norte e Nordeste, especialmente nesta casa legislativa, que, juntas, representam 59,3% do total de cadeiras, mais especificamente, 41 de 81, enquanto em relação ao PIB brasileiro, somadas representam apenas 19,4%. O mesmo fenômeno se repete na Câmara dos Deputados, onde as duas regiões representam 42,1% do total de deputados federais, 216 de 513 cadeiras. Ao mesmo tempo, a região sudeste, que, sozinha, responde por 53,3% de toda a riqueza produzida no país, tem apenas 12 senadores, 14,8% do total, e 179 deputados federais, 34,89% dos 513 representantes do povo.

Desde a redemocratização do país em 1985, um fenômeno intrigante se repete no Senado Federal. Nestes 40 anos, a região Norte esteve na presidência da casa 8 vezes (há que se considerar aqui que Sarney presidiu o Senado 4 vezes, sendo maranhense e que não se elegeria pelo seu estado mudou seu domicílio eleitoral para o Amapá), o Nordeste teve 10 presidências, sendo Renan Calheiros presidente por 3 vezes, o Centro Oeste por 2 vezes, o Sudeste 3 vezes e o Sul apenas 1 vez e num mandato interino. Ao mesmo tempo, a Câmara dos Deputados teve 10 presidências vindas do Nordeste, 12 do Sudeste, 2 do Sul e nenhuma do Centro Oeste ou do Norte. É curioso também que de 20 legislaturas o MDB tenha presidido o Senado em 14 delas e a Câmara dos Deputados em 7.

Como curiosidade (mas nem tanto), durante estes 40 anos houve três renúncias por corrupção no Senado, Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e Renan Calheiros, e uma na Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, 3 do Nordeste e 1 da região Norte. ACM e Severino Cavalcanti morreram sem serem presos. Jader Barbalho e Renan Calheiros (este com mais de 10 inquéritos por corrupção) são senadores até hoje. Jader chegou a ser preso, não deu em nada. Renan Calheiros não é apenas recordista em inquéritos por corrupção, mas também político recordista em processos arquivados pelo STF, nunca sentiu nem o cheiro de uma delegacia, e a única vez em que bateu na sua porta um oficial de justiça, por ordem de Marco Aurélio Mello, então ministro do STF, fez o sujeito fugir com o rabo entre as pernas, e ficou por isso mesmo.

Alcolumbre retorna à presidência do Senado Federal num incomum e ilusório acordo entre PT e PL com escandalosos 73 votos. Incomum porque se trata dos dois maiores antagonistas da política brasileira. Ilusório porque quem acredita que ter garantido presidências de comissões pode mudar o destino da política e do Brasil pode, e deve, ter cometido um ledo engano. Em suas primeiras declarações, o senador pelo Amapá deixou claro seu compromisso com o governo Lula, o que ele não fez quando o presidente era Jair Bolsonaro, aliás, sempre fez o contrário disso, enquanto presidente da casa e da comissão de constituição e justiça. Além disso, Davi Alcolumbre responde a 14 processos que tramitam no TRF1 e no STF, tendo sido inocentado em um processo de cassação de mandato pelo TSE por crimes eleitorais em sua prestação de contas nas eleições de 2014.

Enquanto figuras como Jader Barbalho, Renan Calheiros e o próprio Davi Alcolumbre seguem firmes em suas carreiras políticas sem nunca terem sido molestados, de fato, pela justiça, mesmo acusados de diversos crimes de corrupção, casos como os de Daniel Silveira, Fernando Francischini, Deltan Dalagnol e, agora, Carla Zambelli, demonstram claramente que os interesses do sistema não se voltam aos crimes que são cometidos, mas a quem supostamente os comete. De 6 anos para cá, corrupção parece ser um crime muitíssimo menos grave do que emitir opiniões, e, principalmente, de quem emite opiniões que vão contra os interesses do sistema.

Não faltam exemplos na esquerda de gente que exala desinformação e fake news, como, por exemplo, André Janones, que ainda por cima admite que cansou de postar fake news e não foi molestado por isso, além de ainda ter sido absolvido no conselho de ética da Câmara dos Deputados por rachadinha confessa. Imagine se fosse alguém da direita.

Fato é que Davi Alcolumbre está eleito presidente do Senado Federal por mais dois anos, oriundo de um estado que representa o 26º PIB do país e cuja população é de apenas 0,38% dos 212.585.777 de brasileiros (segundo estimativas do IBGE para 2024). Já uma deputada federal eleita com 946.244 votos, número 17,86% maior que o total de habitantes do Amapá, está, tecnicamente, cassada pelo TSE por crime de opinião. E se não for revertida no TSE, a possível cassação de Carla Zambelli pode levar consigo mais 4 deputados em função do quociente eleitoral: Tiririca, 71.154 votos, Paulo Bilynskyi, 72.156 votos, Antônio Carlos Rodrigues, 73.054 votos e Luiz Philippe Orleans e Bragança, 79.210 votos. Somados, estes deputados tiveram 295.574 votos, que, acrescidos dos votos de Carla Zambelli representariam a cassação dos votos de 1.241.818 eleitores individuais em São Paulo.

Finalizando, só para constar, Davi Alcolumbre foi reeleito para o senado em 2022 com 196.087 votos. Essa é a democracia relativa.

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Fátima Há 1 semana BH/MGÓtima análise! O Brasil descendo a ladeira desgovernado…. Muito triste…
José Ademir Oliveira MelattiHá 1 semana 9642Sensacional
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