Desde o fim do regime militar, não é anormal que campanhas eleitorais sejam “tocadas” por marqueteiros. Os antes estrategistas de campanha foram substituídos por profissionais que passaram a usar as mais avançadas técnicas de marketing para tentar eleger seus candidatos, criando campanhas capazes de levar quase indigentes políticos à condição de fenômenos eleitorais. Ajudados pela tecnologia, então, foram capazes de produzir cenários e criar personagens completamente diferentes do que são. Um bom exemplo, talvez o melhor deles, nesse sentido, foi o que fez João Santana com Dilma Rousseff. Transformou uma anta incompetente em presidente da república e, em seguida, conseguiu reinventar a mesma anta com a incompetência ampliada em presidente novamente.
É inegável que o PT e a esquerda sempre foram muito competentes em suas estratégias de comunicação, que nunca se restringiram ao momento eleitoral, trabalhando fortemente nas bases sindicais, na educação, na cultura e na imprensa, doutrinando, aparelhando, pagando, fazendo mentiras virarem verdades incontestáveis, a ponto de, a despeito da legalidade da questão, ou não, Dilmo ter sido eleito para um terceiro mandato (milhões de brasileiros votaram nele de fato, independente dos votos terem sido suficientes ou não para elegê-lo) mesmo tendo saído da cadeia por comprovada corrupção institucionalizada, pela qual foi condenado em três instâncias. Gostemos ou não, acreditemos ou não, o sujeito é presidente do Brasil e quem não gostar que durma com esse barulho.
Marqueteiros como Duda Mendonça e João Santana, ambos envolvidos em corrupção, réus confessos e incrivelmente livres tal qual todos os políticos que os corromperam, criaram universos paralelos, cinematográficos, que foram capazes de dar quatro mandatos seguidos aos petistas. E, convenhamos, com extrema competência – e muito dinheiro envolvido. Mas, temos que reconhecer que este último, Sidônio Palmeira, foi o mais competente do que seus antecessores. Mais do que marqueteiro, foi um verdadeiro ilusionista, que soube usar o revés judicial de seu cliente como um ativo empático junto à população mais pobre e desinformada, aquela que se sente injustiçada e conseguiu enxergar na descondenação de Dilmo um ato de justiça, como se fosse dado a ela própria.
Um fato interessante a ser lembrado, foi quando, em seu primeiro mandato, Dilmo escolheu para ministro da Justiça o mais famoso advogado criminalista do país na época, Márcio Thomaz Bastos. E se a memória não estiver me enganando, não por acaso, foi o primeiro advogado criminalista a assumir a pasta da justiça no Brasil. Se estiver errado, me corrijam, por favor. Continuando, entre os clientes de Thomaz Bastos, há nomes muito conhecidos do público brasileiro, como Edir Macedo, Carlinhos Cachoeira e o médico Roger Abdelmassih. E se não estiver errado, também defendeu os jovens de Brasília que atearam fogo no índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, defendeu os rapazes que mataram o calouro de medicina na USP, defendeu Antônio Carlos Magalhães, defendeu o filho de Eiki Batista no caso do atropelamento, e defendeu também o assassino da minha prima, Fernanda Orfali, cujo assassino, Sérgio Nahas, que mesmo condenado, nunca passou um dia na cadeia.
Você pode estar se perguntando o porquê de eu ter trazido Márcio Thomas Bastos na conversa que começou falando de marqueteiro. Explico com uma pergunta simples: por que um presidente haveria de escolher exatamente um criminalista para ministro da justiça? E creio que a própria história de Dilmo e do PT, desde 2003 (lembram do Waldomiro Diniz que trabalhava com José Dirceu e estava envolvido com Carlinhos Cachoeira, que foi defendido por Thomaz Bastos?), explica por si só a necessidade de ter um criminalista por perto.
Pois bem, volto ao marqueteiro Sidônio Palmeira e pergunto: por que Dilmo precisou de um marqueteiro comandando a comunicação do governo ao invés de um jornalista? A resposta é simples. O problema do governo Dilmo não é o processo de comunicação, mas não ter o que comunicar. Por isso, ele não precisava de um jornalista, mas de um ilusionista, alguém que seja capaz de tirá-lo da cartola e apresentá-lo ao público magicamente. Como todo bom ilusionista, para “a mágica” parecer real, é necessária uma distração que desvie o foco do espectador enquanto o truque é feito sem que ele perceba. E é isso que estamos vendo desde que Sidônio Palmeira começou a dar pitacos na comunicação do governo, mesmo antes de assumir a pasta.
Sidônio dirigiu a fracassada apresentação do pacote de cortes de gastos feita por Fernando Haddad, na qual a culpa da alta do dólar foi colocada no mercado financeiro, e é de sua direção todo esse espetáculo grotesco que temos assistido desde que a normativa do Banco Central informou que iria passar a observar as movimentações de PIX e cartão de crédito acima de 5 mil para pessoas físicas e 15 mil para pessoas jurídicas. O ilusionista apontou para Nikolas Ferreira como responsável pela revogação da normativa a fim de que ninguém percebesse que, de fato, a ideia foi uma grande cagada do governo e que, claro, mais para a frente pretendia sim taxar quem ultrapasse os limites estabelecidos, o que seria uma forma disfarçada de compensar a isenção do imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais.
Mais um truquezinho sem vergonha foi feito durante a reunião ministerial na segunda-feira, quando Dilmo disse aos ministros que "não apresentem propostas novas, temos que entregar e comunicar bem o que fazemos!" Balela. Não dá para prometer porque não tem dinheiro para entregar nem o que já prometeu. Em 2 anos de "desgoverno", Dilmo só cumpriu 28% do que prometeu. Disse que 2024 seria o "ano da colheita". Só colheu joio porque só plantou joio. Renovou que o ano da colheira será 2025. Vem mais joio por aí, Sidônio Palmeira que se vire para transformar em trigo.
Acontece, porém, que, exceto as crianças inocentes, todo mundo já sabe como funciona o truque de tirar o coelho da cartola, e não adianta trocar o coelho por outro animal que, invariavelmente, o truque é feito do mesmo jeito. Sabemos, inclusive, que na ilusão que levou Dilmo ao seu terceiro mandato, havia muito mais de um truque acontecendo, inclusive um que envolveu caixinhas mágicas, para o qual ainda não apareceu um “Mister M” para nos revelar como funciona, mas que é meio senso comum que algum truque acontece ali. E quando o truque é batido e mal realizado, não há estrategista, ilusionista ou marqueteiro capaz de impedir que uma ilusão vire desilusão.
P.S. - Ilustração do nosso colcaborador e amigo Dom Cabral, cujas charges você encontra aqui em No Ponto do Fato!
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