O brasileiro é um caso único no mundo. Ele tem o Estado como algoz e ao mesmo tempo como esperança. É o cidadão que paga imposto em cima de imposto, sempre prometendo que “agora vai”, mas o retorno nunca vem. Saúde? Loteria. Educação? Depende da boa vontade do município. Segurança? Bom, pelo menos o ladrão tem direitos garantidos. E a última genialidade do governo, um achado no manual de vilania fiscal, é o PIX. Aquela ferramenta prática e ágil, criada no governo anterior, que deveria ser símbolo de modernidade, agora virou a guilhotina digital do informal.
Ah, o PIX, que trouxe o pipoqueiro, o sapateiro e o vendedor de balas para a formalidade. Não foi o PT que tirou essas pessoas do anonimato econômico, sejamos honestos. O PT apenas viu uma oportunidade dourada e decidiu usá-la como uma bazuca fiscal. Se a arrecadação está furada, não se preocupe. Existe uma solução: achacar o pacato cidadão com taxas, cruzamentos de dados e ameaças veladas de sonegação. Porque, no Brasil, sonegar é quase um esporte nacional, não por maldade, mas por sobrevivência. Quando o imposto sobre o carro é de 4% ao ano sobre o valor venal, o cidadão faz o quê? Ele tenta viver.
Mas o brasileiro tem memória curta. Ele é roubado no semáforo, no supermercado, pelo Estado, e no final do dia continua acreditando no tal “gigante adormecido”. Coitado. Enquanto o governo anterior desonerou e buscou respirar algum alívio fiscal, o atual decidiu apertar o torniquete, aproveitando-se de uma ferramenta moderna. E faz isso com maestria, pintando a vilania com as cores de “justiça tributária”.
E o retorno disso tudo? Bem, o cidadão vai continuar esperando. Um dia a aposentadoria talvez venha, mas será suficiente para um jantar no boteco da esquina. A saúde pública é a roleta russa da dignidade. Depende do CEP. E segurança? Bom, as leis são mais gentis com quem rouba do que com quem trabalha. Afinal, o bandido de hoje é quase um herói pop. Mas e o mané trabalhador? Ele vai pagar, claro. Sempre paga.
O mais triste? Isso será institucionalizado. Daqui a dois anos, ninguém mais vai reclamar. O brasileiro vai se acostumar a pagar imposto até na pipoca da praça. Ele vai se resignar, como sempre faz. Porque o brasileiro tem esse talento único: transformar indignação em conformismo, como quem apaga um incêndio com um copo d’água. E o governo sabe disso. É por isso que as ferramentas de vilania sempre funcionam. É por isso que o PIX vai se tornar mais um capítulo na história interminável do Estado que arranca o couro e entrega um band-aid em troca.
Ao final, o Brasil continuará sendo o país do futuro. Sempre do futuro, porque no presente, só resta pagar a conta.
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