Em 31 de dezembro de 2019, publiquei um artigo com o título “E 2019 terminará com muitas perguntas que continuarão sem respostas”. A mais importante e relevante para o contexto histórico daquela época, e que, até hoje, continua tendo a mesmo importância e relevância, e sem resposta: quem mandou matar Jair Bolsonaro? Junto dela, outras perguntas relacionadas, e também sem resposta, tornam ainda mais misterioso tudo o que envolveu o atentado contra o ex-presidente em 2018:
O que faz destas perguntas não respondidas algo profundamente mais intrigante é o fato de Bolsonaro ter sido presidente do Brasil por 4 anos, ter tido sob o comando do seu governo a Polícia Federal, e, mesmo assim, não ter conseguido descobrir ou provar quem esteve por trás de tal conspiração que tentou tirar sua vida para que não fosse eleito. Mas a coisa não se resume a isso. Outras perguntas importantes e relevantes para a história do Brasil também permanecem “misteriosamente” sem respostas:
E não fica nisso.
Estamos no final de 2024, a poucos dias destas perguntas completarem 5 anos sem respostas, ou pelo menos sem as respostas corretas e devidas para algumas poucas, para a maioria delas continuamos e continuaremos sem saber por muitos anos, e talvez a minha geração nem saiba, quiçá a história revele um dia. Obviamente, todos nós temos indícios de respostas para quase todas, mas, na atual conjuntura, qualquer insinuação pode dar cadeia por muitos anos, especialmente se forem escritas com batom em alguma estátua.
Nos últimos 5 anos, vivemos o momento mais farsesco de toda história do Brasil. Um festival de mentiras e narrativas, de abusos de poder e distorção dos fatos e das leis, de inversão e perversão da realidade, de uso das instituições públicas e privadas para modificar o cotidiano dos cidadãos, restringindo direitos e liberdades, principalmente o direito à verdade e a liberdade de dizê-la.
O que se avizinha para 2025, faz do desejo de um ano novo não ser mais do que mero desejo retórico. É sincero o desejo de muita saúde a todos, de prosperidade, de felicidade, mas é difícil crer que consigamos tudo isso no caminho que o Brasil ruma. Temos um governo perdulário e irresponsável; temos um judiciário comprometido com uma agenda que não diz respeito às necessidades do país; temos um legislativo inerte, corrupto e apenas preocupado em manter tudo como está; temos as instituições de segurança cooptadas por um projeto que não tem absolutamente nada de democrático. E, por fim, temos uma população - e quando digo população me refiro aos milhões de pessoas que não tem a menor noção do que é cidadania, de quais são seus direitos, e da realidade que vivemos – que aprendeu a viver um dia de cada vez, sem pensar no que será do seu próprio futuro e do futuro de seus descendentes.
Somos um povo que se acostumou a viver sem respostas para perguntas fundamentais para suas próprias vidas, que não sabe se indignar e muito menos o poder que a indignação coletiva tem para mudar os destinos de um país. Pior do que isso, um povo que passou a ter medo de perguntar e se acostumou a tratar mentiras e narrativas como verdades, e não se preocupar mais em entender as coisas como de fato elas são. Mas, existem dezenas de perguntas que, uma hora ou outra, terão que ser respondidas:
Como eu mesmo, vejo muitas pessoas inconformadas com tudo isso. Porém, por mais barulho e manifestações que façamos em redes sociais, ainda somos poucos, e menos ainda os que se dispõem a colocar em risco seus privilégios e a pouca liberdade que ainda têm. E não posso dizer que não entendo isso. Entendo. Como também entendo que, da forma como estamos e protestamos, sem engajamento real, dificilmente alguma coisa vai mudar. Muita gente me diz que ir para às ruas é arriscar ser preso. Também não discordo disso. Penso, no entanto, que há métodos mais inteligentes de protestar, sem sair de casa, sem correr esse tipo de risco. Contudo, penso, também, que eles conseguem prender 100, 500, 1000, 5000, 10000, mas não conseguem prender 1 milhão, 5 milhões, 50 milhões. E diz o ditado que uma andorinha não faz verão. Só que não queremos fazer verão. Precisamos é fazer uma primavera, como outras tantas que mudaram o rumo de muitos países.
Acredite, ou não. Por mais que não pareça, essa foi minha maneira de desejar que 2025 seja um ano novo. Não é um desejo tradicional, daqueles que a gente fala porque fala, porque aprendeu ao longo da vida que tem que falar para as pessoas próximas, tipo aquele “tudo bem” que respondemos mecanicamente quando alguém pergunta como estamos, mesmo estando tudo péssimo. Desejo mesmo um ano novo, diferente de tudo o que vivemos nos últimos 10 anos, quando a Lava Jato nos mostrou o verdadeiro Brasil em que vivemos e nutrimos a esperança de que tudo seria diferente, mas não foi. E aqueles personagens todos, dos quais pensamos estar livres, é que estão no comando novamente, para se vingar da nossa esperança.
Que em 2025 você tenha muito amor e muita saúde. É o voto mais sincero que consigo desejar.
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