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Opinião #Brasil

É NATAL

ENTRE EMENDAS & ALGEMAS

23/12/2024 às 15h45
Por: Hermes Magnus
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É NATAL

Mais uma vez, o Brasil se supera ao nos oferecer um espetáculo que mistura justiça, política e oportunismo em uma performance digna de aplausos – ou vaias, dependendo do ponto de vista. A mais nova estrela do palco é Flávio Dino, trajando seu figurino de justiceiro recém-estreado no STF, ordenando à Polícia Federal que investigue o suposto mau uso de R$ 4,2 milhões em emendas parlamentares. O gesto soa como uma epifania moral, quase uma conversão divina à ética. Mas será que esse súbito zelo é uma trama nobre ou apenas mais uma peça do teatro político brasileiro?

As emendas parlamentares, aquele artifício que supostamente "fortalece" as bases eleitorais, são uma instituição tão brasileira quanto o samba e o futebol. Mas, sejamos honestos, a verdadeira tradição que carregam é a do superfaturamento, das licitações dirigidas e do clássico toma-lá-dá-cá. Investigar isso não deveria ser manchete, mas sim uma obrigação rotineira e silenciosa, como a coleta de lixo. No entanto, quando a ordem vem do Supremo, o enredo se transforma. Não estamos mais falando de uma limpeza ética, mas de uma peneira seletiva, onde os critérios de “quem merece” são definidos por humores, alianças e conveniências.

E quem será o azarado que cairá na malha do mal-me-quer? Qualquer um que ousar pisar nos calos do governo ou desafiar a sensibilidade política dos ministros. Já o bem-me-quer é uma categoria maleável, moldada pela ideologia, pela conveniência estratégica e, como não poderia faltar, pelos interesses financeiros. Em vez de mirar nos responsáveis por crimes flagrantes, as investigações tendem a focar em alvos cirurgicamente convenientes, garantindo que os holofotes iluminem apenas as áreas desejadas do palco.

No Brasil, a justiça não apenas enxerga, mas usa um caleidoscópio seletivo. Ela não só ouve, mas escolhe qual lado do teatro da política merece ser amplificado. Investigações como esta, em teoria necessárias, acabam se tornando instrumentos para negociar apoios, silenciar críticos e consolidar alianças. É um jogo cínico, onde até mesmo culpados confessos podem escapar, desde que estejam sentados na fileira certa.

E o plebeu? Bem, este faz o que sabe fazer melhor: paga o ingresso, financia as emendas e observa, impotente, o desenrolar do espetáculo. Dino pode até merecer aplausos, mas somente se sua cruzada terminar com punições justas e imparciais, algo tão raro por aqui quanto um político pobre. Até lá, contenhamos a euforia.

Fiquemos de pé, sim, mas não para aplaudir. Fiquemos atentos, vigilantes. Porque no Brasil, até mesmo as investigações têm seu toque de folclore, uma dança bem ensaiada que só termina quando os tambores param – ou quando o público finalmente enxerga que o espetáculo não é feito para ele.

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Sobre Olá, sou conhecido como o denunciante que fez os políticos verem o sol nascer quadrado pela primeira vez na história do Brasil! Com um apito na mão e um senso de humor inabalável, estou por aqui para garantir que a verdade sempre encontre seu caminho, mesmo que isso signifique abalar algumas estruturas. Lembre-se, a transparência é o melhor disfarce!
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