Reflexões sobre a proibição de celulares nas escolas.
(Eduardo Vieira - 22/dez/2024)
Recentemente a direita partidária comemorou a aprovação na Comissão de Educação da proibição por lei da entrada de celulares em salas de aula. Como sempre, especialmente quando o aparato político-partidário faz besteira, houve uma certa dose de polêmica. Divido aqui com vocês minhas reflexões sobre o assunto, que compreenderão a exposição de alguns aspectos menos populares da questão.
Logo de cara, declaro minha posição sobre o assunto. Sou contra a proibição. Agora vamos às ponderações.
Em termos puramente pedagógicos, numa situação ideal não haveria a menor justificativa para a proibição. Qualquer professor em sala de aula geraria o respeito necessário para impor sua vontade e os alunos manteriam seus aparelhos na mochila, sob determinação da autoridade da sala. Portanto, a justificativa para a proibição já parte de uma percepção parcialmente correta da realidade, abandonando o idealismo puro.
Se observarmos a realidade escolar brasileira veremos que tal autoridade já não existe na maioria dos casos. Princípios pedagógicos e sociais distorcidos minaram a autoridade do professor, deixando todos à deriva num sistema disfuncional. E deste recorte da realidade vem a argumentação pela proibição pelo Estado. Todavia existe mais nessa realidade. O mesmo câncer ideológico que provocou a degradação da autoridade também provocou a degradação do corpo docente e do material didático. E tal degradação atinge níveis por vezes seríssimos, assustadores e até criminosos. Os exemplos para isso são abundantes e o trabalho de coleta de denúncias feito pelo Miguel Nagib em seu Escola Sem Partido é essencial num mundo onde a verdade anti-sistêmica é perseguida e censurada.
Essa realidade mostrada pelo Escola Sem Partido só teve visibilidade por causa das gravações clandestinas feitas pelos alunos dentro de suas salas de aula. Aulas de conteúdo sexual para alunos de 8 anos, por exemplo. Discursos partidários em sala de aula. Ataques a alunos por suas inclinações filosóficas. Material didático defendendo bandidos e o desrespeito à lei. A lista é muito extensa para ser exposta aqui. Esses são apenas alguns exemplos.
Portanto, se considerarmos a realidade mais abrangente e não um recorte específico veremos que a única ferramenta de defesa de alunos perseguidos e veridicamente oprimidos pelo sistema de ensino é a gravação, feita com os aparelhos agora proibidos por lei. Pelo princípio da prudência esta consideração se sobrepõe às eventuais perdas pedagógicas derivadas da desatenção estimulada pelo mau uso de eletrônicos numa sala de aula onde o professor não tenha nenhuma autoridade. Claro que cabe também a reflexão sobre o nível de eficiência de uma aula com esse tipo de professor, que tornaria a proibição ainda menos justificada.
Há uma outra questão, rapidamente percebida pelo comentarista e escritor Roberto Motta, que diz respeito à adequação de tal proibição por meio de lei imposta pelo Estado. Nessa esfera seria mais adequado que tal questão fosse discutida e resolvida entre pais e direção de cada escola, como aliás já é feito hoje. Concordo com ele. A cessão de mais poder punitivo e regulador ao Estado é algo que só deveria ser contemplado em casos evidentes e graves. Na situação brasileira, onde vivemos num regime de exceção ditatorial com presos políticos, processos ilegais, uma polícia que imita a Stasi comunista e a destruição da credibilidade institucional, tal cessão de poder transforma-se numa temeridade que eu jamais poderia apoiar.
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Professor de Programação, Robótica, Física, Matemática e História; Arquiteto de software; criador do personagem Professor D, dedicado à expansão cultural de crianças de todas as idades; criador do curso Nós Somos o Ocidente, de cultura e história do Ocidente; co-autor do livro Línguas de Fogo, publicado em 2022; diretor no RJ do DPL - Docentes Pela Liberdade em 2021; colaborador de vários portais e publicações, como Vista Pátria, Fio Diário, revista A Verdade, Aliados Brasil, Bradock Show, Programa F5 do canal Hipócritas e outros; diretor e produtor teatral do espetáculo infanto-juvenil "A Grande Jornada do Homem"