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Opinião COREIA DO SUL

POVO SUL-COREANO DERRUBOU LEI MARCIAL EM 24 HORAS

uma das mais sólidas demonstrações da força que um povo tem quando se une em torno de uma causa.

04/12/2024 às 11h39
Por: Hermínio Naddeo Fonte: Opinião
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POVO SUL-COREANO DERRUBOU LEI MARCIAL EM 24 HORAS

Este não é um artigo sobre política. Ao contrário de “megapolofodomania” do brasileiro de saber tudo sobre tudo e dar palpite sobre qualquer assunto baseado no que leu em manchetes de jornais ou ouviu o que foi dito sucintamente em telejornais, não me atrevo a falar com profundidade sobre o que não conheço com profundidade ou não estudei a ponto de ter uma opinião formada a respeito. Meu conhecimento de Coreia do Sul, entretanto, tem uma base retirada de notícias que leio, de temas sobre os quais já me informei superficialmente, e do que vejo nos Doramas (que, aliás, aprecio muito), nos quais a cultura do país é exposta na abordagem dos temas diversos, que nos apresentam padrões culturais em questões românticas, respeito, família, a importância da comida como elo nas relações interpessoais, e também muitas temáticas que envolvem política e corrupção.

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a Coreia passou momentos muito ruins, enfrentando ainda a guerra que separou o país em dois, criando assim a Coreia do Sul, sob influência ocidental, e a Coreia do Norte, sob influência chinesa e russa. Enquanto a Coreia do Sul foi estabelecida como uma democracia, a Coreia do Norte estabeleceu-se como uma ditadura. Mas, mesmo sendo uma democracia, a Coreia do Sul não conseguiu fugir a sucessivos golpes de estado dados por militares que estabeleceram ditaduras nesses períodos de dominância, até que se chegou à democracia de fato que conhecemos hoje em dia, o que se deu com as eleições de 1988. E é aqui que chego na Lei Marcial decretada pelo presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, nas últimas 72 horas, e que, por um motivo primordial, não durou nem 18 horas: o povo sul-coreano.

Não cabe a mim fazer julgamentos sobre a direita ou esquerda sul-coreana, porque não entendo a dinâmica política do país. Sei, no entanto, que o atual presidente é um conservador e a maioria do parlamento sul-coreano é do partido de oposição. A motivação da Lei Marcial, baseado nas notícias que li, foi que o parlamento fez profundos cortes no orçamento de 2025, além de criar e aprovar leis que dificultariam a execução do plano de governo. E com base nessas questões, então, o presidente sul-coreano acionou um artigo da constituição para decretar a Lei Marcial, acusando a oposição de estar alinhada a interesses da Coreia do Norte. Resumindo, ele acusou a oposição de estar alinhada ao socialismo/comunismo, o que, aparentemente, não colou. Mesmo estando o parlamento sul-coreano cercado por tropas do exército, os políticos entraram, se reuniram em assembleia e, também com o poder que a constituição lhes concede, revogaram a Lei Marcial.

O fator crucial disso tudo, porém, não está nas leis, nem nos políticos, nem nos militares, mas no povo, que imediatamente foi para as ruas para protestar contra a perda de suas liberdades individuais. A população exigiu a revogação da Lei Marcial. Ninguém ficou em casa esperando que algum salvador da pátria aparecesse de cavalo branco e espada na mão para resolver o imbróglio. E foi a presença dos sul-coreanos nas ruas que deu o respaldo para que a oposição entrasse no parlamento e derrubasse o decreto presidencial. Da mesma maneira, forçaram as forças armadas a respeitar a decisão do parlamento, fazendo com que os militares voltassem para os quartéis e respeitassem o que diz a constituição sul-coreana. A coisa lá é tão séria que, depois dessa papagaiada toda, o ministro da defesa, Kim Yong-hyun, pediu desculpas à população e entregou o cargo, assumindo também as responsabilidades sobre todos os atos dos militares nessas horas loucas que a Coreia do Sul viveu.

Do ponto de vista político, a situação parece não estar resolvida. O presidente Yoon Suk-yeol lidera um governo com apoio minoritário no parlamento e, depois desse acontecimento, penso que deverá enfrentar pedidos de impeachment, processos e só Deus sabe o que vai acontecer lá. Por outro lado, ao ocupar as ruas, a população sul-coreana fortaleceu o que podemos chamar de verdadeira democracia, afastando vigorosamente a sombra de um passado recheado de invasões, golpes de estado e ditaduras, em uma das mais sólidas demonstrações da força que um povo tem quando se une em torno de uma causa.

Podemos fazer inúmeras comparações entre o Brasil e a Coreia do Sul no aspecto do seu desenvolvimento. A mais profunda é o investimento que a Coreia do Sul fez na educação, e isso não diz respeito somente ao dinheiro investido, mas em como foi investido e sob que bases e propósitos educacionais foi feito. A segunda comparação é o desenvolvimento industrial e tecnológico da Coreia do Sul, impulsionado e sustentado por um povo que decidiu investir em educação de longo prazo e hoje ocupa a primeira posição mundial no ranking de inovação.

O Brasil é infinitamente maior que a Coreia do Sul, em área geográfica, em riquezas naturais, em áreas cultiváveis, nas boas características do seu relevo, na condição climática absolutamente mais favorável, sem desastres naturais, sem vizinhos malucos que vivem fazendo testes de mísseis balísticos. Mas, temos também graves problemas políticos, muita corrupção e gente mal-intencionada ocupando cargos para os quais não tem moral para ocupar. O que continua nos faltando, é um povo disposto a lutar pelos seus direitos e liberdades, que vá para a rua com a mesma indignação que o povo sul-coreano teve nas poucas horas que tentaram lhes tirar na "mão grande" estas garantias, que foi para a rua disposto a só sair dela com a situação resolvida. E foi resolvida.

Infelizmente, o povo brasileiro parece fadado a só entender o valor das coisas quando as perde. Aí é tarde demais.

P.S. – Para quem nunca assistiu Doramas, recomendo. A Netflix está cheia de Doramas, e através deles é possível entender um pouco da cultura da Coreia do Sul.

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ClaraHá 2 meses Andradina Um povo com consciência e patriotismo é invencível !
Diego DuarteHá 2 meses São PauloMuito bom meu amigo!!!
Maria Rosa Moreira PiresHá 2 meses Porto Alegre A educação, enquanto cultura, faz uma imensa diferença, pois que a consciência cidadã só se obtém pelo conhecimento. E foi com essa consciência, e o senso de responsabilidade que traz em si, que o povo venceu a batalha.
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Hermínio Naddeo
Hermínio Naddeo
Sobre Escritor/Jornalista, mestrado em palpitologia, doutorado em opinologia, pós-doutorado em falastronismo - Registro MT 22619/MG
São Paulo, SP Atualizado às 05h08 - Fonte: ClimaTempo
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