Segundo a tese da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal, se você algum dia desenhou o projeto de uma casa, fez uma lista com todos os materiais necessários para construí-la e recebeu orçamentos por WhatsApp, consultou um engenheiro ou arquiteto sobre a viabilidade do projeto, fez um orçamento com um empreiteiro, e trocou mensagens com eles, você fez a casa.
Ainda levando em consideração à mesma tese, se um planejamento de chegar ao planeta Marte foi desenhado o projeto de uma espaçonave, foram feitos cálculos matemáticos e científicos para a viagem, levantamentos e orçamentos de materiais necessários, consultas aos mais diversos especialistas em física, química, aerodinâmica, motorização, combustíveis líquidos e sólidos, indústrias para desenvolver novos materiais para tornar tudo isso possível, astronautas dispostos a fazer a viagem, e de tudo isso resultou um gigantesco dossiê envolvendo todas as etapas, matérias e nomes pesquisados e consultados, tendo ainda um local e data marcados, a viagem espacial aconteceu.
Infelizmente, só temos acesso ao que a imprensa (militante) publica. Conseguimos ler ordens do ministro Senka-Bêlo, saber informações de fontes (saiba lá quais) da Polícia Federal, decisões vazadas para e pela imprensa sem que os investigados tenham acesso aos autos dos processos. E, tal qual os investigados, só sabemos o que eles querem que saibamos, do jeito que querem que saibamos, quando querem que saibamos. O que realmente acontece nos bastidores, nós, pobres mortais, não sabemos. O máximo que conseguimos é fazer inferências, somando o que a imprensa divulga com as consequências das ações que são divulgadas.
A Operação Contragolpe, que prendeu 4 militares e 1 agente da Polícia Federal, não foi feita com base em nenhuma novidade. Quem assiste ao canal Te Atualizei ode verificar no final do vídeo, cujo link você acessa aqui, que as informações que permearam as prisões já eram de conhecimento público desde o ano passado. O enredo que ensejou a operação, sob o tal plano para matar Dilmo, Chuchu e Senka-Bêlo, ainda que tenha existido, não constitui crime. Querer é uma coisa, fazer é outra. Mesmo que tudo isso tenha sido planejado e articulado por lunáticos, ao contrário da facada em Jair Bolsonaro, não foi colocado em prática, nem sequer foi tentado e abortado por falta de condições de ser realizado. É a mesma dos exemplos da casa e do foguete exposto acima.
É claro e evidente que se trata de uma cortina de fumaça para alguma coisa. Pode ser por conta da gafe da “Esbanja” na COP, pode ser o corte de gastos que não corta nada, pode ser a economia que está uma titica, pode ser um subterfujo para enterrar a PEC da Anistia que vinha caminhando bem no Congresso Nacional, pode ser uma dessas coisas ou até todas juntas. Mas, de fato, mais uma oportunidade para colocar Jair Bolsonaro nas manchetes do lugar de Dilmo e seus esquerdistas amestrados. E, claro, um motivo a mais para aumentar a temperatura do movimento pela regulação das mídias sociais. Um verdadeiro combo que esconde um e expõe o outro, gerando motivos para calar todo mundo que consegue enxergar essa verdade. Quem sabe até mesmo um ato preventivo para o que poderá vir por aí após a posse de Donald Trump. Tudo é possível nesse muito que é provável.
Um dos mais fortes argumentos usados no Supremo Tribunal Federal durante o velório da Lava Jato era o que o ministro Beiçola afirmava ser o uso de tortura para se obter delações premiadas, tipo aquela na qual Emílio Odebrecht quase gargalhava enquanto contava os podres dos poderes por mais de 20 anos – ressaltando que ele, Emílio, não foi preso nem por 30 segundos, quem pagou o pato foi seu filho, Marcelo Odebrecht. Outro forte argumento foi a quebra da ordem constitucional, jurídica, seja lá como se chama isso, pelo então Sérgio Moro no uso de medidas excepcionais para combater a corrupção.
O que vemos, no entanto, desde que a Lava Jato começou a ser desmontada, e, aceleradamente, a posse de Jair Bolsonaro em 1º de janeiro de 2019, é que cumprir as leis e a Constituição Federal é que se tornou medida excepcional. Fica difícil e enfadonho listar aqui tudo o que fizeram. Seriam necessárias muitas páginas. A internet está cheia de páginas que tratam em conjunto ou isoladamente diversas ações dos ministros que demonstram isso. Mas deixo aqui um artigo da Gazeta do Povo que ajuda a entender a questão.
As decisões do STF que beneficiaram todos os políticos corruptos e empresas corruptas pegas na Lava Jato tiveram como base a “suspeição” de Sérgio Moro enquanto juiz, tendo como pano de fundo um “conluio” com procuradores da república. E o principal fundamento para tudo isso foi o uso de material hackeado ilegalmente de celulares de autoridades, incluindo aí até mesmo ministros do Supremo (cujo teor, ao contrário do que foi publicado e usado do celular de Moro e Dallagnol, por exemplo, nunca soubemos) que foi aceito como prova, apesar da comprovada ilegalidade.
No entanto, não se vê ilegalidade alguma quando inquéritos inconstitucionais e ilegais foram abertos de ofício, quando a censura foi praticada para proteger um dos ministros, quando uma delação premiada que envolvia um ministro foi rejeitada, quando um ministro da corte aparece em um inquérito como vítima, investigador, acusador e juiz (ignorando diversas recomendações da Procuradoria Geral da República), quando diversas prisões ilegais, de cidadãos comuns até políticos em pleno gozo do exercício do seu cargo eletivo e imunidade parlamentar, quando a prática de fishing expedition (que significa praticar busca e apreensão ou mesmo a prisão de uma pessoa com um argumento, mas, cuja intenção real é ter acesso a celulares e computadores em busca de provas para embasarem outras ações), quando milhares de pessoas foram presas em único dia pelo crime de perfídia (prática de deslealdade), quando o TSE foi usado para criar provas que fundamentaram ações do STF, e mais um sem número de ilegalidades e inconstitucionalidades que transformaram nosso país em uma ditadura do judiciário com um presidente tirado da cadeia para ser levado de volta à cadeira que ocupa.
Volto então ao golpe que não aconteceu e aos crimes que não foram cometidos e trago à cena o Coronel Mauro Cid, vítima de tortura psicológica, de destruição de reputação, transformado em X9 (dedo duro) para servir de testemunha do extermínio da realidade, o que vemos diariamente acontecer no Brasil para fundamentar narrativas que visam controlar a sociedade a fim de permitir que ela pense e diga apenas aquilo com o qual o establishment concorda e entende que deve ser dito e quem pode dizer.
Não há que falarmos de censura. O que estamos vivendo vai muito além. Está além dos roteiros políticos dos seriados de Hollywood, mais verdadeiro do que George Orwell imaginou, muito próximo do que vivem os chineses, tão malvado quanto o início da ditadura na Venezuela, tão sujo quanto uma facção criminosa pode ser.
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