Imagine que você vive num país onde um bandido condenado foi retirado da cadeia para ser presidente.
Neste país as escolas destroem a capacidade cognitiva dos alunos. O funk é apresentado como música e o grafite sujo das paredes, como arte.
Imagine que neste país o eleitor vai votar mas não pode confirmar em quem votou e nem pode conferir se a soma dos votos está correta.
Neste país as forças armadas traíram a população de forma brutal, enganando, prendendo e torturando mais de mil pessoas inocentes.
Imagine agora que neste país a polícia federal tortura e intimida adolescentes para atacar seus pais. Essa mesma polícia invade residências e quebra a propriedade privada para intimidar e assustar pessoas inocentes por mera divergência política.
Assustador, não é?
Agora imagine que a esmagadora maioria dos parlamentares desse país, mesmo os que deveriam representar o povo oprimido pelo regime, seguem cumprindo suas funções institucionais, como se tais instituições funcionassem. E, ainda, que tais parlamentares sequer consideram a possibilidade de estarem legitimando uma ditadura. E se ofendem quando tal coisa é sugerida.
Imaginem para compor melhor o quadro, que neste país a maior liderança política não tem um partido que represente sua cosmovisão. Nem sequer um. E essa visão reflete aquela da esmagadora maioria da população.
Imagine também que todo o sistema midiático foi corrompido pela quadrilha que chegou ao poder e que portanto a maioria dos fatos e opiniões que vem a público são mentiras ou distorções.
Depois de tudo isso, imagine que a mais alta corte de justiça, ao invés de defender a lei, é o principal agente desse regime. E digo a corte porque as ações de membros de um colegiados são, tácita ou explicitamente, corroboradas por todos os seus membros. Mesmo os mais evangélicos.
Imagine ainda que as poucas vozes que expuseram esse estado de coisas foram caçadas a ponto de terem que sair do país para evitar a prisão. E isso incluiu até uma juíza em pleno exercício do cargo.
Que tal até aqui? Seria um eufemismo exagerado chamar esse quadro de preocupante?
Imagine também que a maioria dos influenciadores das redes sociais são despreparados, covardes ou oportunistas, preocupados mais em vender uma manchete que em informar o público e que, ainda pior, alguns servem oficialmente a oficiais do sistema sem nunca explicitar isso.
É um quadro difícil de imaginar, não é verdade?
Mas, imaginando que todas essas conjecturas de fato existissem, me diga aqui uma coisa.
Você, caro leitor, acha mesmo que as eleições permitiriam que o povo desse país se libertasse de um regime como esse?
Você acha mesmo que esse povo pode recuperar a justiça em sua sociedade na base do voto e da conversinha?
Você acha que esse povo tem os meios culturais até para meramente perceber essa realidade?
Imagine só.
Mín. 17° Máx. 27°