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FALEMOS DA VERDADEIRA TRAGÉDIA: BRASÍLIA

Brasília precisa ser inundada. De gente competente, comprometida com o povo

Hermínio Naddeo
Por: Hermínio Naddeo Fonte: Opinião
11/05/2024 às 11h07 Atualizada em 11/05/2024 às 11h41
FALEMOS DA VERDADEIRA TRAGÉDIA: BRASÍLIA
Fellipe Sampaio /SCO/STF

Enquanto o povo gaúcho está submerso pelas águas dos rios que sucumbiram à quantidade de chuvas, causando mortes, doenças, prejuízos financeiros, estruturais e emocionais, Brasília continua submersa no submundo da corrupção, da letargia, do compadrio, que diariamente causam infinitamente mais mortes, doenças, prejuízos financeiros, estruturais e emocionais ao país inteiro, mas que, ao contrário da tragédia do Rio Grande do Sul, há tempos já não causam a comoção que deveriam. Só a título de exemplo, o estado do Espírito Santo "comemora" a queda de 20% nos homicídios no primeiro trimestre de 2024. Foram 227 contra 281 no mesmo período em 2023.

A tragédia gaúcha registra, até o momento em que escrevo, 136 mortes. O provável é que este número ainda aumente significativamente quando for possível fazer um balanço final do tamanho da desgraça. Mas, dificilmente, os números da violência no Espírito Santo, mesmo que reduzidos, deixarão de ser absurdos, especialmente se pensarmos que serão de vítimas de homicídio, mortes provocadas voluntariamente, provocadas por guerras entre facções, assaltos, latrocínios e causas que fogem ao entendimento de quem tem um mínimo de valores e princípios morais. E só citei o Espírito Santo.

O ministério da saúde informou que em 2024 já foram registradas mais de 2400 mortes por dengue. O registro exato é de 2451 óbitos. Em 2023, de janeiro a dezembro, o registro foi de 1079 mortes por dengue. Em pouco mais de 4 meses de 2024 a "meta" foi dobrada, porque não foi estabelecida uma meta para combater a doença. Simplesmente o ministério da saúde não comprou vacinas no tempo e na quantidade necessárias sob diversas alegações, entre elas de que o fabricante não produzia o suficiente para vacinar toda a população. A chuva no Rio Grande do Sul vai passar. As águas vão baixar. E os mosquitos da dengue encontrarão o ambiente mais propício para sua proliferação.

Tragédias climáticas, como a que acomete o extremo sul do Brasil (e mais uma vez afirmo que não tem nada a ver com mudanças climáticas, aquecimento global ou coisa parecida), são passageiras. Deixam um rastro de desgraça que deveria servir para que os governantes investissem na prevenção, que é, inclusive, mais barato do que o investimento necessário para remediar o estrago causada pela falta dela. Já tragédias como Brasília não são passageiras.

Desde o final do regime militar, em 1985, a corrupção é a verdadeira principal causa de mortes no Brasil. É por causa dela que verbas não são devidamente destinadas ao que é realmente necessário para garantir o básico para a população - saúde, educação, segurança, comida, infraestrutura - e o que é destinado costuma ser muito aquém da necessidade e, invariavelmente, também é desviado nos estados e municípios. Em contrapartida, ex-presidentes, ex-governadores, ex-prefeitos, em sua maioria, ficaram ricos durante suas passagens pelos respectivos cargos executivos que ocuparam de 1985 para cá. Claro, há exceções.

Da mesma maneira, ao se observar o patrimônio de ex-vereadores, ex-deputados estaduais, ex-deputados federais e ex-senadores, a situação é praticamente a mesma. A maioria ficou rica. São salários, benefícios, benesses e oportunismos totalmente fora do padrão e do alcance da população comum. E se você acha que no caso dos estados e municípios Brasília não tem nada a ver com isso, ledo engano. As leis que garantem essa vida nababesca dessa gente são votadas lá, assim como também é em Brasília que são julgados nas duas últimas instâncias do judiciário todos os processos movidos contra essa gente, e que, na grande maioria, não dão em nada ou são esquecidos em escaninhos até que prescrevam. E fica tudo por isso mesmo.

Brasília precisa ser inundada. De gente competente, comprometida com o povo brasileiro. Os atuais ocupantes de cargos eletivos, deputados e senadores, são o equivalente às águas dos rios que inundam o Rio Grande do Sul, água podre, fétida, são escombros e tocos de madeira, são doenças oportunistas, são prejuízos materiais, financeiros e emocionais para o Brasil inteiro, são iguais ao lixo que jogamos descuidadamente nas ruas e entopem bueiros, riachos, e deságuam nas nossas próprias vidas. E tudo também por falta de prevenção, porque nos acostumamos que "é assim", e vamos contabilizando nossos prejuízos pessoais causados por eles, rezando para que Deus ou um salvador da pátria resolva, que é o que podem fazer os gaúchos neste triste momento.

Tenho sido insistente sobre a importância das eleições municipais, que estão logo ali adiante, porque são estes prefeitos e vereadores que tentarão alçar carreiras que podem levá-los à Brasília. E se estes mesmos elementos chegarem lá, serão apenas mais uma quantidade de escombros e dejetos que apenas substituirão o mesmo tipo de representantes que temos eleito nos últimos anos. E é absolutamente simples ver quem são eles, agora, e talvez a tragédia riograndense sirva como uma luz para os eleitores de todo o Brasil.

Enquanto não eliminarmos a tragédia que é Brasília, onde uma casta de oligarcas usufrui de tudo do bom e do melhor às custas do suor do povo que produz, novas tragédias como a do Rio Grande do Sul continuarão acontecendo. Reduções de índices de criminalidade serão comemorados, mas ninguém vai chorar a morte de quem entrou para a estatística.

Doenças como a dengue continuarão causando milhares de mortes, milhões de pessoas sofrerão com diversas doenças e terão que aguardar meses para fazer uma consulta médica, um ultrassom, uma tomografia, uma mamografia, receber tratamento, receber um transplante, e uma grande maioria delas não aguentará esperar, morrerá e também será transformada em estatística, sem que o Willian Bonner vista uma camisa preta e vá transmitir seu jornal na porta de um hospital público, afinal isso não dá audiência.

Vou parar por aqui antes que comece a falar nominalmente dos ocupantes do executivo, do legislativo e do judiciário de Brasília. Tenho a sensação de que em alguma transcrição da Constituição Federal alguém comeu uma letra ?E? e o que deveria ser Três Poderes saiu Três Podres, e assumiram como tal. Na fase que vivemos é, inclusive, muito difícil dizer qual seria o pior dos três, poderes ou podres, no fim das contas da na mesma.

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Fabio de PinaHá 1 ano Anápolis-Goiás Me desculpe o português vulgar, mas a única expressão que traduz fielmente meu sentimento ao ler o seu texto é "TAQUILPARIU!".
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