Estava precisando comprar um carro, aqui no Canadá. Algo que fosse funcional, útil para mim e conciliável com as atividades da empresa. Nada de luxo ou capricho — apenas uma escolha racional. Comecei a busca, com aquele misto de animação e cansaço típico de quem já espera pelo pior nos concessionários.
A primeira visita foi à Mazda. Fui atendido por um rapaz jovem, quase pueril em sua postura comercial. Não parecia saber tudo sobre os carros, mas compensava com algo raro: sinceridade. Sem truques, sem falácias de prateleira, sem aquela teatralidade ensaiada que o mercado adora exibir. Foi transparente, paciente e, ao final, se ofereceu para enviar a proposta por e-mail — sem condicionar isso a um “sinal”, a uma “reserva”, a um “só tem esse”. Apenas pediu meu e-mail, agradeceu e cumpriu. E cumpriu.
Segui para a Toyota. Lá, o vendedor, talvez já calejado pelo script corporativo, me empurrou direto para o parque de usados. Detalhe: eu sequer mencionei interesse em usados. Lá estavam os carros, com dois anos de uso e mais de 80 mil km rodados, custando dois ou três mil dólares a mais que os modelos zero. “Lista de espera para novos”, disseram. Mas no pátio, dezenas de veículos zero-quilômetro. A história era conhecida: vender usado com ágio, explorar o “nome” da Toyota, e pressionar o cliente com o argumento da escassez fabricada. Um amigo já havia me alertado: comprou um Toyota e, apesar da previsão de dois meses de espera, o carro ficou pronto em dois dias. O vendedor tentou, mas seu texto estava gasto. Saí de lá com aquele gosto de déjà-vu de golpe bem-vestido.
Por fim, fui à Hyundai. E lá, o show foi completo. Vi um Tucson novo, cheio de tecnologia — teto solar, assistente de estacionamento, ré automática, talvez até votasse por mim nas próximas eleições. Carro fascinante. Mas veio o ataque: “Senhor, 200 dólares agora para segurar essa unidade”. “Assine aqui a intenção de compra, para garantir sua prioridade.” Um teatro de urgência mal disfarçada. Assinei — não pelo convencimento, mas para expor a armadilha. Depois, a cereja do bolo: os juros. Descobri que mesmo com entrada generosa, os juros incidiam sobre o valor total do carro, não sobre o saldo. E mais: os depósitos não abatiam impostos. A velha história do “pague antes, sofra depois”. E, claro, “pode quitar sem penalidade”, diziam com orgulho — mas só porque já haviam embutido os juros todos.
Voltei para casa. Abri meu e-mail. E lá estava a proposta do primeiro vendedor, o da Mazda. Sem pressões. Sem terrorismo. Apenas uma proposta honesta, feita no tempo e na medida certos. Comecei então a comparar: desvalorização de mercado, custos de manutenção, confiabilidade. Hyundai era a que mais perdia valor. Toyota ainda liderava na fama — e no preço inflado. E a Mazda? Simples, funcional e com alguém sincero por trás.
Conclusão? Possivelmente, quando eu tiver $$ para fechar negócio, será com o primeiro. Porque ele me tratou como cliente — e não como uma presa. Porque não me chantageou emocionalmente com o velho “é agora ou nunca”.
E é aqui que entra meu adendo.
Essa foi minha lógica de escolha. E penso que no Brasil, deveria ser também a lógica para escolher um político. Não aquele que diz “sou o único capaz de te salvar”, “vote em mim ou será o fim da democracia”. Não aquele que cria pânico, pressiona, aterroriza, como um vendedor de carro usado mal-intencionado. Política não é mercantilismo. Mas no Brasil, virou. E a clientela, infelizmente, entra em pânico e assina qualquer contrato de intenção de voto.
Mas aí vem a pergunta final: se o brasileiro resolver não cair mais nesses truques baratos… vai restar o quê?
A Mazda?
Ah… a Mazda deixou o Brasil no ano 2000. E como são sérios esses japoneses, duvido que voltem. Pelo menos, não tão cedo.