Nos últimos anos, o Canadá viveu um escândalo silencioso, mas com consequências muito reais: milhares de estudantes internacionais entraram no país com vistos baseados em documentos falsos, emitidos por instituições de ensino privadas que nem sempre existiam de fato. E o mais grave: muitos desses casos acabaram sendo “recompensados” com o direito de permanecer no país.
Como funcionava o esquema?
O Canadá possui um dos sistemas migratórios mais abertos do mundo, com programas que incentivam a vinda de estudantes internacionais. A regra é simples: se um estrangeiro é aceito por uma instituição canadense registrada, ele pode obter um visto de estudos e, ao final do curso, tentar um visto de trabalho ou até a residência permanente.
Mas foi justamente aí que surgiu a brecha.
• Agentes de imigração, especialmente no sul da Ásia (Índia, Bangladesh, etc.) passaram a oferecer “pacotes” que incluíam cartas de aceitação falsificadas de faculdades privadas no Canadá.
• Muitas dessas instituições:
• Existiam apenas no papel ou em sites malfeitos;
• Não tinham professores nem aulas reais;
• Foram criadas apenas para gerar documentos e lucrar com taxas.
Esses pacotes chegaram a custar até C$20.000 por estudante, pagos por famílias inteiras que acreditavam estar garantindo um futuro melhor para seus filhos.
Quando o Canadá descobriu?
A fraude ganhou os holofotes em 2023, quando o governo começou a cruzar dados e percebeu que centenas de estudantes possuíam documentos idênticos ou incompatíveis com registros oficiais. Muitos sequer frequentaram qualquer aula.
Ao invés de deportar automaticamente os envolvidos, o governo iniciou investigações caso a caso. Mas aí surgiu uma nova manobra legal.
O pulo do gato: pedir asilo para continuar no país
Sabendo que seriam deportados, muitos desses estudantes — orientados por consultores de imigração — entraram com pedidos de refúgio (asilo).
Por lei canadense, qualquer pessoa que pisa em solo canadense tem direito a solicitar asilo, alegando perseguição ou risco em seu país de origem.
Com isso:
• O processo de deportação é automaticamente suspenso;
• O solicitante tem acesso à saúde pública, pode trabalhar legalmente e, em algumas províncias, até recebe benefícios sociais temporários;
• A análise pode demorar anos — tempo suficiente para “criar raízes” e depois tentar ficar por motivos humanitários.
Em resumo: mesmo quem entrou de forma fraudulenta pode acabar legalizado ao final do processo, se alegar sofrimento ou dificuldade extrema em voltar ao país de origem.
E quem paga essa conta?
A população canadense.
• A chegada massiva de pessoas sem planejamento sobrecarregou o sistema de saúde, o mercado de aluguel e os serviços sociais.
• Cidades como Toronto, Montreal e Vancouver enfrentam uma crise habitacional sem precedentes.
• E, para completar, o sistema de imigração está entupido, fazendo com que casos legítimos de refúgio e residência fiquem parados por anos.
O que o Canadá está fazendo agora?
Após meses de críticas públicas e pressão política, o governo federal começou a agir. As principais medidas adotadas incluem:
1. Suspensão de novos vistos de estudo para escolas privadas não regulamentadas.
• Em janeiro de 2024, o governo federal suspendeu temporariamente a emissão de novas permissões de estudo para instituições privadas com histórico duvidoso.
2. Auditorias rigorosas em faculdades e instituições de ensino.
• Escolas que não provarem estar operando legalmente e com infraestrutura mínima estão sendo descredenciadas.
3. Revisão criteriosa de pedidos de residência e refúgio.
• O IRCC (Immigration, Refugees and Citizenship Canada) agora exige mais evidências de frequência escolar real.
• Casos suspeitos são priorizados para deportação.
4. Deportações em andamento.
• Mesmo diante de protestos de ativistas e ONGs, centenas de estudantes com documentação fraudulenta já estão sendo deportados, e outros aguardam decisão final sob vigilância migratória.
Essas ações são um sinal de que o Canadá está tentando restabelecer o equilíbrio entre acolhimento e responsabilidade legal — sem deixar o sistema refém de brechas e má-fé.
Moral da história
Esse escândalo expõe um problema estrutural e ideológico: um sistema generoso e acolhedor pode se tornar vulnerável quando falta rigor, fiscalização e responsabilidade política.
O Canadá continua sendo um país aberto à imigração, mas confundir compaixão com ingenuidade pode sair caro — para os cidadãos, para os imigrantes honestos e para o país como um todo.