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A DIREITA NEÓFITA E O ESPANTALHO EUROPEU

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Hermes Magnus
Por: Hermes Magnus
25/06/2025 às 21h11
A DIREITA NEÓFITA E O ESPANTALHO EUROPEU

 

Há uma tara quase infantil na nova direita brasileira: tentar justificar o fracasso interno jogando tinta no muro dos outros. Quando o cenário nacional aperta, a cortina de fumaça é acionada com reflexo automático: “Veja a França em chamas! Veja a Europa em colapso! Veja a esquerda woke destruindo a civilização!”. É uma velha tática de desvio. Só que, vinda de um movimento que se pretende reformador e moralizador, soa patética. Soa como birra de criança.

Nas últimas semanas, cruzei a França. Estive com clientes, dormi em hotéis e, quando o trabalho terminou, fui para o camping, grelhar carne como qualquer francês de classe média. Vi a França como ela é: exaltada, contestadora, viva, verde! Em Bordeaux, Paris, Mertzviller, Contrexéville, nas zonas rurais. Em supermercados, praças e postos de gasolina. O que vi? Protesto. Grito. Reivindicação. Caos? Existe mas não ví. Mas colapso? Nunca. A França explode — porque faz parte da cultura. É protesto como ritual. É greve como linguagem. É institucional, quase genético. Não é o fim do mundo. É a França sendo França.

A direita brasileira, no entanto, com sua fome de narrativas instantâneas, transforma qualquer briga de sindicato francês em Apocalipse. E vende isso para sua militância como se fosse uma visão do futuro do Brasil caso “os globalistas” vençam. É ridículo. E mais: é preguiçoso. É discurso para plateia crédula, que confunde incêndio pontual com colapso civilizacional. Que acredita que um ônibus queimado em Marselha prova que a Europa acabou.

A França tem problemas? Claro que tem. Problemas sérios, inclusive. A imigração desordenada, o multiculturalismo forçado, a frustração das periferias, a violência crescente, a gentrificação, a crise energética pós-guerra na Ucrânia — tudo isso é real. Mas sabe o que mais é real? A estrutura. O Estado. A cultura. A infraestrutura. O serviço público. A dignidade urbana. A comida barata. A educação funcionando. O transporte que, quando para, para em protesto — não por sucateamento crônico.

O que a direita neófita não entende é que criticar a Europa não torna o Brasil melhor. Comparar o desmatamento europeu — muitas vezes rigorosamente controlado e parte de áreas cultiváveis ou comerciais — com a devastação da Amazônia, é de uma desonestidade gritante. A política agrícola europeia é resultado de décadas de negociações, guerras, reconstrução, soberania alimentar. É uma conquista — não um privilégio. Mas, no Brasil, virou moda atacar o que não se compreende. Critica-se a França com o mesmo nível de profundidade com que se compartilha corrente de WhatsApp.

Essa nova direita — birrenta, juvenil, insegura — às vezes tem razão. Em até 80% do seu clamor, há lógica. Há apelo à ordem, à soberania, ao valor da identidade nacional. Mas os 20% restantes — os 20% de desinformação, de histeria, de cortina de fumaça — anulam todo o resto. Porque são mentirosos. Porque são toscos. Porque insultam a inteligência de quem tem dois neurônios funcionando.

Enquanto isso, a Europa segue. Com suas dores e suas virtudes. Com velhos em cafés lendo jornais. Com jovens discutindo política nas praças. Com estudantes queimando contêineres — sim — mas também com bibliotecas abertas, empregos públicos estáveis e, acredite, refeições completas mais baratas que em São Paulo ou Montreal. Aposentados franceses, como em toda a Europa, podem até ganhar pouco — mas ganham. E, sobretudo, não são roubados. Se forem, o Judiciário europeu não será cúmplice, não será escudo de quadrilhas, como se viu recentemente no Brasil, onde bilhões foram desviados de pensionistas e ninguém foi punido.

A direita brasileira precisa amadurecer. Precisa parar de brincar de geopolítica com prints de Telegram. Precisa sair do modo “birra de criança contrariada” e assumir responsabilidade real. Precisa entender que não se cresce tentando deslegitimar o quintal do vizinho — principalmente quando o seu está infestado de rachadinhas, escândalos e conluios.

Se quiser vencer o jogo da história, essa nova direita vai ter que preencher os 20% que faltam: com estudo, com seriedade, com verdade. Porque do jeito que está, é só mais uma caricatura de si mesma — que fala grosso com Paris e afina a voz quando precisa encarar a própria lama. 

Assim as pessoas vão cansando… ????

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Hermes Magnus
Hermes Magnus
Olá, sou conhecido como o denunciante que fez os políticos verem o sol nascer quadrado pela primeira vez na história do Brasil! Com um apito na mão e um senso de humor inabalável, estou por aqui para garantir que a verdade sempre encontre seu caminho, mesmo que isso signifique abalar algumas estruturas. Lembre-se, a transparência é o melhor disfarce!
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