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NÃO CONSEGUI RIR

Um ambiente descontraído, tipo um grupo de amigos tomando cerveja depois de uma pelada

Hermínio Naddeo
Por: Hermínio Naddeo Fonte: Opinião
11/06/2025 às 18h06
NÃO CONSEGUI RIR
Foto montagem

Nos últimos dois dias, quem se deu ao trabalho de assistir aos depoimentos do julgamento que vai condenar Bolsonaro e demais réus envolvidos no golpe do golpe que não existiu, deve ter estranhado o ambiente circense que pairava no ar. Piadinhas, risadinhas, perguntas imbecis, respostas idiotas e, ao contrário do que se imaginava, a encenação não teve nada de dramática.

O time B entrou em campo sabendo que ia perder. O time A tinha nas mãos o juiz, os bandeirinhas, os gandulas e o resultado estava definido. Valeu pênalti marcado no meio de campo, bater lateral com o pé, dar carrinho, bater escanteio com a mão, agarrar dentro da área. A única coisa que não estava valendo era gol do time B. Mas a arbitragem estava preparada para isso.

O que vimos (para quem viu, claro) foi um ambiente descontraído, tipo um grupo de amigos tomando cerveja depois de uma pelada, discutindo se determinado lance foi pênalti ou não, se foi falta, impedimento, mas tudo debaixo de risadas. O placar já estava decidido e sem chance de retroceder. A tensão ficou mesmo só durante a partida. Dali para frente, foi só diversão.

Penso que o que todos esperávamos de um confronto cara a cara nos deixou de cara. Trocas de amenidades, liberdades jamais vistas antes em um julgamento que pode ceifar o resto das vidas de diversas pessoas, literalmente falando, as tirando não apenas da vida pública, mas do convívio em sociedade. Os caras que riram e fizeram piadas são os que podem ser presos. Deve ser aquela capacidade que o brasileiro tem de rir de si mesmo. Só pode.

Quem discute jogo jogado é torcedor. Jogador sabe que resultado não tem volta. Quem manda na súmula é o juiz e ele escreve nela o que quiser. Todos os réus entraram sabendo que só estão cumprindo um ritual cuja sentença já está pronta muito antes do jogo começar. Fico me perguntando se as risadas foram de deboche, de provocação, de nervosismo ou se só ligaram o fod...se.

Centenas de jornalistas, colunistas, blogueiros e youtubers já se deram o trabalho de comentar os detalhes dos depoimentos, as falas, gagueiras, contradições, expressões, e não me darei o trabalho de encher o seu saco repetindo como se comportou cada réu. Mesmo que eu possa ter impressões diferentes, certamente elas combinarão com alguma coisa dita por alguém ou com coisas que você pensou ou viu.

O que quero expressar é que um dos julgamentos mais sérios da história do Brasil, talvez uma das maiores tramoias jurídicas mais graves da história do direito no nosso país, foi realizada em clima de chacota, desvalorizando toda a torcida, todo o empenho de centenas de milhares de brasileiros que sofreram com a sequência de injustiças perpetradas para justificar uma acusação sem fundamento na qual valeu de tudo para criar a narrativa de um golpe que nunca existiu.

Pessoalmente, me senti um idiota ao assistir àquele teatro de comédia macabra, sabendo que nada do que foi dito, contradito, provado e comprovado pelos réus teve valor. E lamento pelo comportamento dos réus, que colaboraram fortemente para que, apesar de macabra, os atos de comédia fossem garantidos em um ambiente onde todos eles deveriam ter entrado e saído de cara fechada, cara de quem está inconformado com as barbáries que devem condená-los.

Não foi o que vimos, ou pelo menos o que eu vi. Não consegui rir de absolutamente nada. Todos ali estão condenados. Mas também não vou chorar. Quem devia chorar riu de si mesmo.

 

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Hermínio Naddeo
Escritor/Jornalista, mestrado em palpitologia, doutorado em opinologia, pós-doutorado em falastronismo - Registro MT 22619/MG
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