Quarta, 18 de Junho de 2025
13°C 25°C
São Paulo, SP

A MORTE DA ESPERANÇA: A FERIDA MAIS PROFUNDA DA ALMA

.

Rodrigo Schirmer Magalhães
Por: Rodrigo Schirmer Magalhães
09/06/2025 às 13h59
A MORTE DA ESPERANÇA: A FERIDA MAIS PROFUNDA DA ALMA

 

Há um vazio que ecoa nas ruas das cidades modernas, um silêncio ensurdecedor que atravessa as multidões. As pessoas andam, mas não sabem para onde vão. Elas se olham, mas não se veem. O mundo contemporâneo está marcado pela pressa, pela busca incessante por algo que nunca se revela completamente. No centro dessa jornada, uma tragédia silenciosa ocorre: a morte da esperança.

A esperança, que outrora era o farol que guiava os navegantes das incertezas da vida, parece ter sido sufocada pela superficialidade das relações, pelo peso do desânimo, pela névoa da depressão. Vivemos em tempos em que a conexão verdadeira é trocada por likes, onde a profundidade cede espaço para o efêmero, e onde a busca pelo sentido é engolida pelo cansaço de existir.

Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, escreveu em “Em Busca de Sentido”, que a última liberdade humana é a capacidade de escolher nossa atitude diante das circunstâncias. Ele nos ensinou que, mesmo nos momentos mais sombrios, a esperança pode ser cultivada ao encontrar propósito no sofrimento. No entanto, em uma sociedade que prioriza o imediato, a construção desse propósito é cada vez mais negligenciada.

A superficialidade das relações humanas também desempenha um papel devastador. O que era para ser um encontro de almas se torna um encontro de máscaras. Conversas profundas são substituídas por interações automáticas. O vazio cresce porque a verdadeira intimidade exige coragem, e coragem, por sua vez, é alimentada pela esperança de que a conexão vale a vulnerabilidade.

A morte da esperança não é apenas a ausência de fé no futuro; é a perda de qualquer sentido no presente. Nietzsche alertava que quem tem um “porquê” suporta qualquer “como”. Quando o “porquê” desaparece, os “como” da vida se tornam insuportáveis. Não é a dor que nos destrói, mas a falta de propósito que a transcenda.

Mas talvez seja inevitável que a esperança sucumba ao peso de um mundo que se recusa a desacelerar. Em um cenário onde o individualismo triunfa sobre a coletividade, onde a aparência sufoca a essência, e onde a própria ideia de um propósito maior parece antiquada, é difícil acreditar no renascimento de algo tão frágil quanto a esperança.

Talvez a morte da esperança seja o destino natural de uma humanidade que, em sua busca desenfreada por respostas, esqueceu de fazer as perguntas essenciais. E nesse esquecimento, resta apenas o eco do vazio. A esperança, um dia tão vibrante, agora jaz como um vestígio de um tempo em que ainda acreditávamos que algo, qualquer coisa, poderia fazer sentido.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários