Por mais que você discorde de mim, e respeito sua opinião, a verdade é que fomos subjugados pelo sistema, e não existe um horizonte próximo que nos permita enxergar uma reversão deste quadro. Se alguém tem ainda a ilusão de que isso não seja verdade, aí já não é problema meu.
Diariamente, vemos milhares de pessoas se manifestando nas redes sociais, contestando e protestando contra tudo o que estamos vivendo. Mas, tenho uma notícia que talvez não agrade tanto. As redes sociais não são um parâmetro real para medirmos o tamanho da nossa indignação. Estas centenas, milhares de pessoas, são apenas um fragmento que representa um tipo de pensamento. Na verdade, elas são recheadas de bolhas e os indignados são apenas uma dessas bolhas.
O X, antigo Twitter, é, provavelmente a praça onde a indignação é mais representativa, mais manifesta, mas, mesmo nele, somos só uma bolha. De modo geral, seguimos e somos seguidos basicamente pelas mesmas pessoas ou tipos de pessoas, compartilhamos as mesmas percepções e opiniões, e isso dá a ideia de sermos majoritários. É a função do algoritimo, nos oferecer e nos apresentar o que nos é semelhante.
Mas, existem diversas outras bolhas que compartilham percepções e opiniões contrárias às nossas, sem falar na diversidade de temas que em nada têm a ver com política. Basta uma olhada na guia “Assuntos do Momento no Brasil” para ver que futebol, futilidade, BBB e tantos outros temas diversos da política muitas vezes estão em destaque, pouco importa o que está acontecendo no país. E o X não é a internet, é também uma bolha.
Quando vamos para o Instagram ou Facebook, a realidade é outra, completamente diferente, com regras diferentes, algoritimos diferentes, que nos apresentam temas que dificilmente veremos no X, como moda, culinária, cotidiano, criminalidade, vendas de produtos, dezenas, centenas, milhares de bolhas que nos levam a temas que nada tem a ver com o foco e o enfoque político do X, e com abstrações que visam exatamente que saiamos desse contexto, mesmo que a política esteja presente em função das escolhas que fazemos ao seguir A, B ou C.
E tem ainda Tik Tok, Kawai, Pinterest, LinkedIn, que são outras bolhas, outras vibes que o sistema nos oferece para que fiquemos cada dia mais idiotizados e dependentes das ilusões que pretendem amenizar nossa realidade e, se possível, nos desviar delas. Se incluirmos nesse balaio a televisão, os jornais, as rádios, a imprensa velha e seus vassalos, vamos “para a câmara de gás certos de que estamos a caminho de um banho refrescante”.
Enquanto tudo isso nos distrai, a economia está sendo destruída por este governo, uma ditadura está sendo imposta pelo judiciário e os poucos, muito, muito poucos políticos de boa fé estão sendo engolidos pela imensa maioria de corruptos e bandidos que colaboram com todas as forças para que nada mude nesse país. Ou melhor, que mude, mas para que tudo fique cada vez mais a favor deles e contra nós.
O sistema conseguiu nos amedrontar, nos inibir e nos calar. Por mais que ainda tenhamos diversos corajosos que não se omitem ao fazer comentários e dar opiniões, a grande maioria evita comentar determinados temas, outros medem as palavras quando comentam, alguns evitam compartilhar ou dar like nas postagens e comentários com as quais concordam, vários deixam de seguir pessoas polêmicas, e muitos até mesmo deixam as redes sociais para terem a falsa sensação de que estão protegidos fora delas.
Não, meus amigos, ninguém está isento. A porrada, quando vier, e do jeito que caminhamos virá, vai atingir todas as bolhas, inclusive as que, por ignorância ou conveniência, compactuam com tudo o que está acontecendo. Poucos são os protegidos em uma ditadura, e para obter privilégios não basta concordar com ela, mas, literalmente, fazer parte dela. E para ser um participante ativo e privilegiado de uma ditadura é necessário renegar qualquer traço de humanidade, coleguismo ou familiaridade em nome de salvar o próprio rabo, o que, na prática, significa dedurar e punir qualquer um que ameace o regime ou sua posição dentro dele.
Diariamente lemos e ouvimos sobre polarização, que o Brasil está dividido. Estas medidas, porém, não dizem respeito ao grosso da população brasileira. Elas são percebidas, de fato, dentro das bolhas que se manifestam, e que não podem ser definidas como uma representação fidedigna dos 210 milhões de brasileiros. Repare na fila do caixa do supermercado, nos barzinhos lotados nos finais de semana, nos botequins da vida, nas arquibancadas de jogos de futebol e tente calcular quantas pessoas estão realmente preocupadas com quem é o presidente, com o que faz o judiciário ou o legislativo, ou que sabem quais leis foram votadas, aprovadas, rejeitadas...
Nós nos omitimos durante muitas décadas, empolgados com TVs de led, carros importados, crédito a 12 vezes sem juros, carros novos financiados em 60 meses, passagens de avião e hospedagens a perder de vista, e esquecemos de olhar e reagir a tudo que estava em volta disso. E quem não teve acesso a maior parte disso, foi literalmente esquecida, com seu silêncio e ignorância comprados por bolsas, cotas e pautas identitárias ou de gênero que sobrepujaram temas realmente importantes como o futuro de cada pessoa ou família que embarcou nessa conversa pra boi dormir.
Não faço ideia do que será o futuro do Brasil, nem o próximo, muito menos o distante. Contudo, se tivesse que fazer uma aposta, não seria num cenário melhor do que este que estamos vivendo, muito ao contrário. Louvo as iniciativas de pessoas que convocam manifestações, que se preocupam – e se arriscam – em levar informações, esclarecimentos, ensinamentos, e desejo que sirvam para que as próximas gerações se utilizem, um dia, destes esforços e conteúdos produzidos para tirar o Brasil do buraco no qual ele foi enfiado. Só não creio – perdoem – que a maioria de nós verá isso.
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