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O QUE NÃO FOI DITO SOBRE A LAVA JATO, E O QUE NÃO PODE MAIS SER IGNORADO

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Hermes Magnus
Por: Hermes Magnus
25/05/2025 às 15h42
O QUE NÃO FOI DITO SOBRE A LAVA JATO, E O QUE NÃO PODE MAIS SER IGNORADO

Eu não gostaria de tocar nesse assunto, mas a vida me ensinou que certas verdades não podem ser eternamente engavetadas. E como a polêmica veio à tona novamente, aqui estou — não por vaidade, nem por busca de palco, mas por justiça e por memória. Eu, que fui apagado da história da Lava Jato de forma deliberada, porque era mais conveniente esquecer do que admitir responsabilidades. Eu, que sou aquele sujeito que ninguém menciona na fila do pão, porque assumir minha existência seria assumir erros.

Não tenho nada contra Sérgio Moro. Não tenho nada contra Deltan Dallagnol. Salvo alguns poréns, são eles que parecem ter algo contra mim. Porque eu me tornei uma peça incômoda, alguém que não se calou, alguém que pediu respostas. Eu sou aquele que não recebeu proteção, mesmo sendo o primeiro denunciante da Lava Jato. E não sou eu quem diz isso: é o próprio Sérgio Moro, em despacho. Mais tarde, perceberam que não sabiam o que fazer comigo. Zombavam quando eu pedia proteção. Desdenhavam. Dizia-se, com deboche: “Alberto Youssef é o seu único problema, e ele vai ficar preso por muito tempo.” Ignoravam a máfia real, ignoravam o braço escancarado da família Janene, e tremiam de medo de que eu falasse demais.

Eles queriam se ver livres de mim. E é bem possível — e que me provem o contrário, se não for verdade — que fui empurrado ao exílio por medo. Medo deles. Talvez os que me ameaçaram fossem apenas paus mandados. A família Janene foi praticamente absolvida de forma sumária. E foi essa gente que me roubou. Alberto Youssef era apenas o boy de luxo dessa máfia político-empresarial. E por conta disso, fui obrigado a sair do Brasil. Fui perseguido em Portugal por causa de informações mentirosas propagadas pelo Ministério Público brasileiro, por meio do execrável Vladimir Aras.

Tudo isso está provado. Está no meu livro, que será lançado este ano. Está com documentos, gravações, despachos, ofícios. Nada do que digo é leviano. Descobri, por exemplo, que a biografia de Sérgio Moro não foi escrita por Joyce Hasselmann, como ela dizia. Descobri que foi redigida, de fato, por uma editoria vinculada ao DCM e ao Brasil 247. Tenho provas disso. Quando contei isso ao Sérgio Moro, ele nunca mais me dirigiu uma palavra. Silêncio absoluto. Vergonha. Constrangimento.

Passei a ser tratado como um incômodo, uma figura a ser desacreditada nos bastidores. Até que, recentemente, um jornalista começou a me dar atenção no X, inclusive me convidando para colaborar com artigos no veículo dele. Foi aí que Sérgio Moro, ao ver essa aproximação pela rede social, correu para interpelar o jornalista nos bastidores. Uma atitude clara de intimidação. E o jornalista, que naturalmente depende de fontes e não queria se indispor com o ex-juiz, simplesmente me informou o ocorrido. Compreendi o recado e deixei por isso mesmo. Mas é esse o tipo de comportamento que define Sérgio Moro. É a prova viva de que ele já agiu assim antes e continua agindo assim agora. Nos bastidores. Minando, pressionando, sem se expor. Segundo o próprio jornalista me relatou, Moro disse algo como: “Tu vê, ele fica me criticando em rede social.” Ora, criticar figuras públicas é parte essencial da democracia. Mas para aqueles que gostam de ser tratados como oráculos, qualquer crítica vira afronta.

Não tenho nada pessoal contra essas pessoas. Mas tudo isso, repito, está documentado no meu livro. Com provas. Com datas. Com testemunhos. Com a verdade. O erro da Lava Jato não foi ter existido. Foi ter sido instrumentalizada. O advento da Lava Jato foi único. Mas bastou que dois de seus rostos mais visíveis resolvessem fazer negócios com o Centrão para entrar na política, e tudo desmoronou. E afirmo isso com toda a responsabilidade. Esse Centrão, que achaca a esquerda, achaca a direita, sabota a República, é a máfia da política. E quem se alia a eles, perde. É perseguido eternamente pela mesma política que quis dominar.

Se tivessem permanecido na Lava Jato, talvez o Brasil hoje fosse outro. Mas não. Preferiram o palanque. E aqui estou eu, para dizer que é hora de parar com o oba-oba. Chega de showzinho em rede social. Isso não é entretenimento. Isso é assunto sério. E quem transforma justiça em clickbait ou em personagem midiática, só serve para encantar idiotas com frases de efeito.

Eu não sou vedete. E não pretendo ser. Eu tive que lutar pela minha segurança, pela minha dignidade, pelo meu sustento, sozinho. Essa justiça, que dizem ser cega, é apenas míope e covarde. Ela não protege testemunhas. Ela se acovarda. Ela é, muitas vezes, uma fraude.

Sérgio Moro até foi um bom juiz, sim. Mas ele mesmo assinou uma indenização para mim e para minha sócia, Maria Teodora. Depois, liberou parte dos valores incontroversos. Quando os cálculos finais foram feitos, o devedor, Alberto Youssef, já não tinha mais dinheiro - a 13 Vara Federal de Curitiba esvaziou o devedor, em desfavor do credor, para fazer propaganda, devolvendo para a Petrobras. A justiça que determinou a indenização foi a mesma que permitiu frustrar o pagamento na totalidade... ficamos com um titulo podre que nunca poderá ser cobrado na totalidade. Não estou chorando dinheiro. Não fiz denúncia por dinheiro. Só queria o que era justo para a minha empresa.

Depois disso, fiz inúmeros pedidos de proteção. O Ministério Público perdeu o processo que analisava meu risco. Eu denunciei todos eles ao Conselho Nacional do Ministério Público. E Deltan, em sua defesa, disse que não havia risco. Depois vieram as desculpas. E, no mais nojento corporativismo institucional, foram todos absolvidos.

Meses depois, no curso de um processo da própria Lava Jato, eu e meu advogado pedimos para ser ouvidos por videoconferência. Afinal, enquanto vítimas da operação, nunca fomos ouvidos, apenas usados. Mas a resposta foi vergonhosa. Deltan e sua equipe assinaram um ofício alegando que seria perigoso me ouvir. Agora passou a ser perigoso? Disseram que eu estava protegido por outro Estado. Mentira. Bastava cooperação internacional, homologação judicial, e eu poderia ter sido ouvido até por Skype.

Portanto, este é meu protesto. Não tenho nada contra eles. Mas as atitudes desses senhores mancham toda a credibilidade que um dia tiveram perante a sociedade. Continuo sendo ninguém na fila do pão. E assim quero permanecer. Mas me recuso a ser silenciado.

A justiça só será plena quando tiver coragem de encarar seus erros. E quem tem medo da verdade, não merece o nome de herói.

Hoje sou Canadense e me preparo para processar o Brasil aqui no exterior, por todos os danos e perseguições que sofri. Não e contra o povo do Brasil, um dia meus compatriotas, e por justiça que o Brasil não foi capaz de fazer. Pela proteção que não foi capaz de dar.

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Hermes Magnus
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Olá, sou conhecido como o denunciante que fez os políticos verem o sol nascer quadrado pela primeira vez na história do Brasil! Com um apito na mão e um senso de humor inabalável, estou por aqui para garantir que a verdade sempre encontre seu caminho, mesmo que isso signifique abalar algumas estruturas. Lembre-se, a transparência é o melhor disfarce!
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