Quinta, 15 de Maio de 2025
15°C 23°C
São Paulo, SP

PORTUGAL ÀS ESCURAS, EUROPA NO IMPROVISO

O APAGÃO QUE EXPÔS A FRAGILIDADE DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Hermes Magnus
Por: Hermes Magnus
28/04/2025 às 19h10
PORTUGAL ÀS ESCURAS, EUROPA NO IMPROVISO

Enquanto a administração pública portuguesa tentava explicar o inexplicável, a Península Ibérica mergulhava literalmente na escuridão.

O apagão que atingiu Portugal e Espanha em 28 de abril de 2025 paralisou hospitais, aeroportos, estações ferroviárias, torres de telecomunicação e centros comerciais. Até o Mutua Madrid Open, um dos principais torneios de tênis do circuito, teve partidas interrompidas, e voos foram cancelados ou desviados às pressas.

 

Num esforço de comunicação digno de roteiros tragicômicos, o governo português apressou-se em atribuir o colapso a um “fenômeno atmosférico raro”, a chamada “vibração atmosférica induzida”. Segundo a narrativa oficial, uma súbita variação de temperaturas teria causado oscilações nas linhas de alta tensão, desestabilizando a rede elétrica.

 

A explicação, porém, não resistiu ao primeiro contato com o bom senso. Especialistas independentes, como o meteorologista Mario Picazo, rapidamente refutaram a tese, apontando a completa ausência de condições meteorológicas extremas que pudessem justificar tal desastre.

Outras hipóteses começaram então a circular — entre elas, a possibilidade de um incêndio no sul da França ou até mesmo um ciberataque — mas sem qualquer confirmação sólida até agora.

 

Enquanto o jogo de empurra-empurra se desenrola nos bastidores políticos e técnicos, o que emerge de forma cada vez mais evidente é o despreparo estrutural do grid ibérico diante da transição energética apressada.

 

Com aproximadamente 60% da geração elétrica espanhola e boa parte da portuguesa já atreladas a fontes intermitentes como solar e eólica, o sistema tornou-se estruturalmente vulnerável.

Diferentemente de usinas nucleares ou hidrelétricas — que, graças à sua massa rotacional, conseguem sustentar a estabilidade do grid mesmo em eventos críticos —, a geração renovável não possui inércia física suficiente para reagir a grandes oscilações.

Ou seja: quando uma falha derruba o sistema, não existe força suficiente para simplesmente religar tudo de uma vez. É necessário restaurar o fornecimento setor por setor, em uma operação lenta, delicada e arriscada, quase como tentar fazer girar manualmente uma turbina de avião parada.

 

Este episódio não apenas revelou a fragilidade operacional de uma infraestrutura cada vez mais dependente de fontes verdes, mas também desmascarou o triunfalismo irresponsável de certas políticas energéticas.

Migrar para renováveis é uma meta louvável — mas fazê-lo sem investir massivamente em tecnologias de armazenamento, redes inteligentes e mecanismos de sustentação de frequência é, no mínimo, um convite ao desastre.

 

O apagão de 2025 será lembrado não apenas pelas horas de escuridão, mas como um divisor de águas na ilusão de que bastaria instalar painéis solares e turbinas eólicas para substituir um sistema energético baseado em estabilidade e potência contínua.

A Europa, tão orgulhosa de suas virtudes ambientais, descobriu — às escuras — que a física não se curva a agendas políticas.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Hermes Magnus
Hermes Magnus
Olá, sou conhecido como o denunciante que fez os políticos verem o sol nascer quadrado pela primeira vez na história do Brasil! Com um apito na mão e um senso de humor inabalável, estou por aqui para garantir que a verdade sempre encontre seu caminho, mesmo que isso signifique abalar algumas estruturas. Lembre-se, a transparência é o melhor disfarce!
Ver notícias
Publicidade
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,68 +0,02%
Euro
R$ 6,36 +0,05%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 626,635,00 +0,98%
Ibovespa
139,334,38 pts 0.66%
Publicidade