Enquanto a administração pública portuguesa tentava explicar o inexplicável, a Península Ibérica mergulhava literalmente na escuridão.
O apagão que atingiu Portugal e Espanha em 28 de abril de 2025 paralisou hospitais, aeroportos, estações ferroviárias, torres de telecomunicação e centros comerciais. Até o Mutua Madrid Open, um dos principais torneios de tênis do circuito, teve partidas interrompidas, e voos foram cancelados ou desviados às pressas.
Num esforço de comunicação digno de roteiros tragicômicos, o governo português apressou-se em atribuir o colapso a um “fenômeno atmosférico raro”, a chamada “vibração atmosférica induzida”. Segundo a narrativa oficial, uma súbita variação de temperaturas teria causado oscilações nas linhas de alta tensão, desestabilizando a rede elétrica.
A explicação, porém, não resistiu ao primeiro contato com o bom senso. Especialistas independentes, como o meteorologista Mario Picazo, rapidamente refutaram a tese, apontando a completa ausência de condições meteorológicas extremas que pudessem justificar tal desastre.
Outras hipóteses começaram então a circular — entre elas, a possibilidade de um incêndio no sul da França ou até mesmo um ciberataque — mas sem qualquer confirmação sólida até agora.
Enquanto o jogo de empurra-empurra se desenrola nos bastidores políticos e técnicos, o que emerge de forma cada vez mais evidente é o despreparo estrutural do grid ibérico diante da transição energética apressada.
Com aproximadamente 60% da geração elétrica espanhola e boa parte da portuguesa já atreladas a fontes intermitentes como solar e eólica, o sistema tornou-se estruturalmente vulnerável.
Diferentemente de usinas nucleares ou hidrelétricas — que, graças à sua massa rotacional, conseguem sustentar a estabilidade do grid mesmo em eventos críticos —, a geração renovável não possui inércia física suficiente para reagir a grandes oscilações.
Ou seja: quando uma falha derruba o sistema, não existe força suficiente para simplesmente religar tudo de uma vez. É necessário restaurar o fornecimento setor por setor, em uma operação lenta, delicada e arriscada, quase como tentar fazer girar manualmente uma turbina de avião parada.
Este episódio não apenas revelou a fragilidade operacional de uma infraestrutura cada vez mais dependente de fontes verdes, mas também desmascarou o triunfalismo irresponsável de certas políticas energéticas.
Migrar para renováveis é uma meta louvável — mas fazê-lo sem investir massivamente em tecnologias de armazenamento, redes inteligentes e mecanismos de sustentação de frequência é, no mínimo, um convite ao desastre.
O apagão de 2025 será lembrado não apenas pelas horas de escuridão, mas como um divisor de águas na ilusão de que bastaria instalar painéis solares e turbinas eólicas para substituir um sistema energético baseado em estabilidade e potência contínua.
A Europa, tão orgulhosa de suas virtudes ambientais, descobriu — às escuras — que a física não se curva a agendas políticas.