Pouco se entende, hoje, sobre as reais causas que levaram Fernando Collor de Mello à ruína política nos anos 1990 e, de forma quase irônica, à sua prisão décadas depois. Para muitos, o confisco da poupança foi o estopim popular que desencadeou sua derrocada. Mas a verdade é mais complexa – e profundamente política.
No início dos anos 1990, o Brasil era um país extremamente pobre. A maior parte da população sequer tinha poupança para ser confiscada. O choque do Plano Collor afetou, sobretudo, a frágil classe média urbana e alguns setores especuladores. A verdadeira maioria nacional — empobrecida e marginalizada — foi mais atingida pela recessão do que pelo confisco direto. Portanto, o ódio popular abriu as portas, mas o golpe final veio do Congresso Nacional.
Segundo relatos históricos — corroborados por nomes como José Janene, operador do Mensalão, e Emílio Odebrecht, patriarca da empreiteira que viria a dominar a política brasileira —, Collor caiu não porque fosse ético, mas porque era politicamente inepto. Seu operador financeiro, Paulo César Farias, era truculento, inábil e ineficiente na arte da corrupção institucionalizada que sustentava o Centrão. Diferente dos operadores discretos do PMDB, PC Farias tentou achacar empresários poderosos como Emílio Odebrecht de maneira tosca, provocando revolta entre aqueles que sustentavam os bastidores de Brasília.
José Janene resumiu: Collor caiu porque “não sabia pagar”. Recusou-se — ou, mais precisamente, falhou — em alimentar o sistema político que esperava ser mantido com mesadas e favores. A corrupção em Brasília sempre existiu, mas Collor não entendeu a regra básica: não se governa sem aceitar o custo da governabilidade.
Sua prisão atual, em pleno 2025, mais parece um acerto de contas histórico. Se Collor é culpado de corrupção — como indicam os processos —, não é menos verdade que há políticos infinitamente mais corruptos que continuam livres, fortes e influentes. A queda e a condenação de Collor não são apenas episódios isolados: são capítulos de uma vingança antiga, selada por décadas de ressentimento e traições políticas.
Collor não foi derrubado pelo povo. Foi abatido pelo sistema que nunca perdoa quem ousa errar no jogo que sustenta a falsa estabilidade brasileira.