Hoje falar-vos-ei desta senhora.
Já ouvistes falar dela?
Não?
Então postai-vos confortavelmente para aproveitar e desfrutar das panegíricas palavras que se seguem.
A distinta dita cuja é um misterioso, para não dizer estranho, fenômeno de endeuzamento, por uns, e de demonização por parte de hostes antagônicas.
Foi (e é até hoje) chamada de “bruxa, de charlatã, de profetisa, de gênio”…
Detratores e aficionados à parte, o que é certo é que passou por esta fisicalidade uma criatura que teve o discernimento e a coragem de trazer à tona um conhecimento que, por séculos e séculos, tem sido guardado a sete-chaves pelos diversificados e dissimulados establishments de poder, dominação e controle.
Uma mulher que atravessou desertos, bibliotecas secretas, templos e ferozes críticas em busca de uma verdade que une ciência, religião e filosofia (aquilo a que chamaria teosofia) em uma única linguagem: a da individualizada consciência desperta, expansiva e elevada.
Não desejou criar uma nova religião. Ela quis derrubar todas as oficialmente estatuídas e erguer, em seus lugares, uma ponte entre sapiência e sabedoria oriental e ocidental, entre razão e misticismo, entre o que somos e o que esquecemos que somos...
No fundo uma sabedoria que trouxesse à tona todos os mistérios, ensinamentos e segredos esotéricos retidos pelas sociedades secretas a serviço dum Governo Oculto, milenarmente, atemporal e algorítmico...
Helena nasceu, em 1831, no coração de uma aristocracia russa rígida e conservadora. Desde tenra idade, no entanto, algo nela não se encaixava naquele mundo de aparências, insípido e pejado de leis, dogmas e regramentos muitos deles incompreensíveis – basic...
Enquanto as meninas da sua idade e estrato social aprendiam a bordar e a servir o chá certo à realeza, ela fugia para os jardins, fazia perguntas incômodas aos sacerdotes, lia livros proibidos e sonhava com lugares que nunca tinha visitado.
Um chamado a acometia – sempre ele (basic²)...
Era como se algo em sua alma já tivesse vivido tudo aquilo antes. Como se uma missão ancestral, de outras vidas, estivesse pulsando em seu peito desde que se percepcionou como gente e começou a discernir.
Cresceu, pois, rebelde, corajosa e, por óbvio, incompreendida – basic³...
Casou-se aos 17 anos, mas logo abandonou o marido e partiu sozinha pelo mundo. Algo, convenhamos, impensável para uma mulher da época...
Helena não buscava fama ou aventura. Ela estava procurando por mestres. E os encontro – no Egito, na Índia, no Tibete...
Aí mergulhou nas tradições orientais, nos rituais herméticos, nos manuscritos esquecidos da sabedoria antiga. E voltou.Transformada.
Mas a sociedade, como sempre, não estava preparada para o tanto e teor que ela tinha a dizer – basic⁴...
Ao estudarmos Blavatsky com profundidade percebemos que a sua teosofia não se consubstancia como um novo sistema, mas uma recodificação da sabedoria hermética na tentativa de consubstanciar uma nova era de ouro, uma nova Atlântida que, para seu desgosto (e nosso), a saturnina e talmúdica turma da vez – que aqui continua nadando de braçada – não permitiu que eclodisse e se estabelecesse…
Segundo a asceta, a existência é una – uma coisa só que tudo abarca. Que esse tudo está, pois, interconectado. Que a aparente separação sentida por nós é uma ilusão da nossa percepção limitada. Que todas as formas de vida, em todos os planos, são manifestações de uma mesma essência Divinal e Divinizante.
Em suma, que o Todo é etéreo, mental e indivisível. Que tudo vibra dentro de uma Mente Suprema, e que nós somos partes conscientes (ou pelo menos deveríamos ser e estar) e sencientes desse Todo.
Ela também chamou a atenção para o poder criativo do nosso pensamento. Que pensamentos não são abstrações vacuosas e evanescentes, muito pelo contrário, eles têm o poder de moldar realidades – o mantra tantas e tantas vezes bradado por este obscuro aprendiz ainda antes mesmo de saber da existência desta senhora...
Blavatsky ensinava que o pensamento humano é uma força ativa que projeta energia nos planos invisíveis e ocultos, que estes ressoam e introjetam tal energia re-projetando-a, por sua vez, diretamente no mundo físico e sutil.
Que, por esta ordem de razão, tudo o que somos resulta do que pensamos.
Defendia, acirradamente, também, que nada acontece por acaso.
Que ação e reação são inseparáveis. Que o karma não é punição, mas uma lei universal de equilíbrio e aprendizado. Que cada ação, pensamento ou emoção gera uma consequência energética que retorna ao emissor como oportunidade de crescimento.
Seu foco, portanto, visava o aperfeiçoamento do ser humano.
Ela via o karma como o mecanismo que guia a alma através de vidas sucessivas, até que o Ser desperte para sua verdadeira natureza divinizada.
Que ao agir com consciência expansiva, treinando, adestrando e dando comandos de voz diários ao seu sub-consciente o Homem alinhar-se-ia com o Fluxo de Deus.
Ela exergava-se, e nos enxergou, como que possuíndo uma natureza multidimensional. Que nós não somos apenas um corpo físico transportando um cérebro. Que somos, isso sim, uma consciência operando em múltiplos planos composta por vários corpos: físico, etérico, astral, mental e espiritual – cada um deles operando em uma frequência vibratória distinta.
Blavatsky ensinava que para evoluir e se transmutar o Ser precisaria reconhecer todos esses corpos e aprender a integrá-los.
O tal caminho da autodescoberta.
De que a verdade não está nos dogmas.
Ela vive dentro de nós...
Blavatsky foi radical ao afirmar que o único verdadeiro progresso espiritual advém do autoconhecimento profundo.
Ela defendia que a verdadeira iniciação é interior e que cada ser humano carrega em si o mapa dos desígnios insondáveis divinos.
Em 1875, no coração de Nova York, cidade que já ululava e pululava modernidade e materialismo, ela viria a fundar a Sociedade Teosófica.
Mas o que era essa tal de teosofia?
Não era religião.
Não era ciência.
Não era filosofia no sentido acadêmico.
Era tudo isso e, ao mesmo tempo, algo além...
Um brado para despertar uma sabedoria primeva e prototípica que havia sido, intencionalmente, surrupiada e fragmentada ao longo dos séculos.
Blavatsky não queria que as pessoas acreditassem nela.
Ela queria que as pessoas despertassem.
Ela dizia, não existe religião superior à verdade. E que esta, a verdade, é acessível, apenas, via discernimento, à conjugação de uma mente racional e mística e através de uma alma intuitiva e indagadora.
Em 1888, Helena Blavatsky publica aquilo que muitos chamariam de sua Magnum Opus (juntamente com uma outra: Isis Sem Véu) - A Doutrina Secreta.
Não é um mero livro. É um mapa espiritual.
Um compêndio de símbolos, mitos e verdades esquecidas reunidas de fontes egípcias, tibetanas, védicas e herméticas que já falavam da origem do universo existencial, não como um Big Bang material e randômico, mas como a manifestação de uma Consciência Primordial.
Blavatsky uniu, pois, ciência e misticismo numa linguagem simbólica acessível apenas àqueles dispostos a ver além das palavras.
A sua doutrina secreta funcionou como uma semente que, onde caiu, fez florescer um novo olhar sobre as coisas mundanas, fazendo ecoar e ressoar epifania atrás de epifania, de entre elas:
a de relembrar ao ser humano que ele não é um avatar com alma, mas uma alma vivendo, temporária e espacialmente, num avatar...
Helena Blavatsky introduziu no século XIX ideias espiritualizadas que hoje ressoam como descobertas da física quântica – um campo científico, por excelência, que só ganharia forma décadas depois de sua morte.
Ela falava sobre uma teia invisível de interconexão entre todas as coisas, conceito que ecoa fortemente na noção de entrelaçamento quântico (tão caro a este aprendiz de feiticeiro)...
Ela também enfatizava que o universo é guiado, de dentro para fora, visão muito próxima ao modelo de realidade participativa e co-criada, a partir da qual a consciência influencia diretamente o resultado da experiencia e da vivência – construto, também ele, caríssimo a este espectral pensador...
Eco