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O GAÚCHO

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28/05/2024 às 18h57 Atualizada em 28/05/2024 às 19h31
Por: Celso Tabajara
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©Imagem de domínio Público
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O GAÚCHO

A origem do termo GAÚCHO não é pacifica, mas há indicativos muito fortes que apontam historicamente o significado da palavra. Remotamente, na época conhecida como a “idade do couro”, o habitante do pampa era chamado de “guasca”. O termo muitas vezes citado como se fora pejorativo, recebe de Machado de Assis (in Quincas Borba) significado de elogio. Ao referir-se a uma filha do Rio Grande, diz: “É uma guasca de primeira ordem”. Guasca correspondia a uma interjeição elogiosa que era pronunciada como um título de hombridade e destemor. Fala-se em guasca largado como quem dissesse quebra largado, torena, monarca das cochilhas. Como quem diz: Gaúcho.

Pouco mais tarde, no século XVIII surge o termo “gaudério”, tanto no território brasileiro quanto no castelhano. O gaudério, tido como homem sem lei nem rei, que “morava na sua camisa, debaixo do seu chapéu”, mantinha-se num equilíbrio instável entre o índio e o branco. A sua atividade marginal estendeu-se por mais de um século de história do pampa, formando com os “coureadores” e “changadores” uma espécie de associação de rapinagem mais ou menos organizada que chegou a constituir grave problema para os guardas volantes da campanha.

O termo “gaúcho” surgiu, provavelmente, no último quartel do século XVIII e aparece como sinônimo de “gaudério”. Emílio Coni cita um parecer propondo a criação de uma partida volante para que “persiguiese y arrestase a los muchos malévolos, ladrones, desertores y peones de todas castas, que llaman Gauchos ou Gauderios...”. ("perseguir e prender os muitos malévolos, ladrões, desertores e peões de todas as castas, que se chamam gaúchos ou gaudérios...").

O sentido pejorativo da palavra gaúcho mantém-se quase inalterado, até meados do século XIX. Azara, Saint-Hilaire, Arsène Isabele, Alcide D’Orbigny, todos são concordes em apresentá-lo como homem sem lei e nem rei, campista perturbador da paz, vagabundo que alarmavam os governantes e ocupavam a polícia.

Um fator importante que forma a estrutura do ambiente em que vivia o “gaúcho”, da metade do século XVIII até a metade do século XIX, estava a prática de distribuição de sesmarias. Augusto Meyer, ao se referir ao assunto afirma: “A sesmaria, área que podia variar entre dez mil e treze mil hectares, beneficiando uma insignificante minoria de privilegiados, na prática, revelou-se um prêmio às formas improdutivas do trabalho, com a máxima vantagem individual, em detrimento das garantias médias do trabalho assalariado”.

Se há um caso na história em que a explicação por meio de fatores econômicos e sociais, tem perfeito cabimento, este é o caso do gaúcho primitivo, durante o período colonial. É resultado daquele complexo cultural representado pelo cavalo, gado alçado e valorização do couro, movendo-se num meio de pampas abertas, onde as raias avançavam e recuavam de acordo com os entendimentos entre os reis portugueses e espanhóis.

Os gaúchos passaram a integrar as tropas dos comandantes militares locais que, de estancieiros, travestiam-se em coronéis, comandando a resistência contra as tentativas de invasão, ora dos espanhóis, ora dos portugueses.

Aos poucos, o vocábulo “gaúcho” adquiriu outro sentido, completamente oposto ao do original. Aqueles homens rudes, valentes, independentes, amantes da liberdade, exímios cavaleiros, eram também bons soldados, empenhados peões, até bons agregados, bastava que lhes dispensassem respeito e um pouco de compreensão.

Hermann Burmeister, em sua obra Reise durch die la Plata-Staaten (1861), assim descreve o gaúcho: “Erro grave é considerar os Gaúchos como gente grosseira ou brutal, ou, sem mais rodeios, como simples salteadores e bandidos; longe disso, o que os caracteriza é principalmente uma viva suscetibilidade e um inegável sentimento cavalheiresco, que logo os leva a ter em conta de superior toda pessoa mais ilustrada, ou de mais alta categoria social, que os tratar com deferência. Pelo contrário, a altivez e grosseria provocam de sua parte uma repulsa imediata”.

Desde a época da Revolução Farroupilha (1835-45) e especialmente depois da Guerra do Paraguay (1860-65), a palavra gaúcho passou a significar o homem do campo, ligado à atividade pastoril, de maneira específica e a identificar os nascidos no Rio Grande do Sul, de forma genérica. A mudança ocorrida não foi fruto de lei ou de imposição, mas resultado da evolução natural da sociedade e da compreensão de que o homem é parte integrante do ambiente em que vive e sua condição muito se deve aos fatores a que está submetido.

Poderíamos resumir a trajetória do vocábulo “gaúcho”, dizendo que na época dos capitães-generais e primeiros proprietários eram ladrões, vagabundo e “coureador” (quem ou o que coureia; quem ou o que retira o couro do animal morto no campo). Para os capitães de milícias e comandantes de tropas empenhadas na defesa das fronteiras, era bombeiro, “chasque” (portador de mensagens, de correspondência; mensageiro, próprio); Nas guerras da independência “Del Plata”, era lanceiro, miliciano. Depois, para os homens da cidade, era o trabalhador rural, homem afeito aos serviços do pastoreio, peão de estância, campeiro destro, sinônimo de guasca ou monarca; e desde os primórdios do século passado, um nome gentílico, a exemplo de carioca, barriga-verde, capixaba fluminense.

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Celso Tabajara
Celso Tabajara
Sobre Patriota - Gaúcho da Fronteira Oeste do estado, do Itaqui. Gremista! Morando na Região das Hortênsias do RS. Bel. em Comunicação Social - RP - Escritor, Poeta, Cronista, Ensaísta e Resiliente
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