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DIA MUNDIAL DO JORNALISTA

A HISTÓRIA E A IMPORTÂNCIA DA PROFISSÃO AO LONGO DOS SÉCULOS

Celso Tabajara
Por: Celso Tabajara
08/04/2025 às 11h19
DIA MUNDIAL DO JORNALISTA

O 7 de abril, celebrado como o Dia Mundial do Jornalista, é mais do que uma data comemorativa. É um momento para homenagear homens e mulheres que dedicam suas vidas à missão de informar com ética, coragem e compromisso com a verdade, mesmo diante da censura, das pressões políticas, dos riscos físicos e do descrédito promovido por campanhas de desinformação.

Apesar de existirem variações regionais — como o Dia do Jornalista no Brasil, que também é comemorado em 7 de abril, em homenagem a Giovanni Battista Líbero Badaró, morto em 1830 pela liberdade de imprensa —, o Dia Mundial do Jornalista é um marco internacional que busca: Reconhecer o papel do jornalista na construção de sociedades justas e democráticas. Combater a violência contra profissionais da imprensa. Promover o direito à liberdade de expressão.

A data ganhou ainda mais força com a instituição do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio) pela ONU, em 1993, reforçando a pauta da verdade jornalística como bem comum. Mas como chegamos até aqui? Como nasceu essa profissão? Que papel o jornalismo tem desempenhado ao longo da história e quais os seus principais desafios no século XXI?

Jornalismo e a Verdade A Responsabilidade do Profissional em Comunicar Fatos Verídicos e Reais

O jornalismo sempre desempenhou um papel essencial na sociedade, atuando como o quarto poder e garantindo a transparência dos acontecimentos. Desde os primórdios da imprensa, sua função principal tem sido informar, contextualizar e educar o público sobre os eventos mais importantes do mundo. No entanto, a responsabilidade do profissional da comunicação vai muito além da simples transmissão de informações. Ele deve garantir que os fatos sejam verídicos, bem apurados e contextualizados, evitando manipulações e desinformações, que podem levar a impactos sociais e políticos irreparáveis.

O compromisso do jornalista com a veracidade e a responsabilidade na comunicação tem sido testado ao longo da história. Casos de desinformação, censura e manipulação da opinião pública não são incomuns e mostram que, quando a imprensa falha em seu papel, as consequências podem ser desastrosas. Episódios como a propagação de informações falsas durante guerras, a cobertura tendenciosa de acontecimentos políticos e a disseminação de pânico são exemplos de como a má prática jornalística pode interferir no rumo da história.

Com o avanço da tecnologia e o surgimento da era digital, a disseminação da informação tornou-se instantânea e acessível a um público cada vez maior. Se por um lado isso representa um grande avanço na democratização do conhecimento, por outro, criou desafios éticos significativos para o jornalismo. A proliferação de fake news, a viralização de boatos e a manipulação da informação por grupos políticos e econômicos ameaçam a credibilidade da mídia tradicional e prejudicam o direito do público à informação de qualidade.

A Origem do Jornalismo e Sua Função Social

O jornalismo tem suas raízes na Antiguidade, quando boletins informativos eram usados para comunicar decisões políticas e acontecimentos importantes. Os Acta Diurna, diários romanos gravados em pedra ou metal, são considerados um dos primeiros exemplos de informação pública registrada. A comunicação de fatos sempre foi essencial para a organização das sociedades. As primeiras formas de jornalismo podem ser rastreadas até a Antiguidade:

Egito Antigo e Mesopotâmia: registros em pedra e argila comunicavam decisões reais e fatos importantes à população.

Acta Diurna – Roma Antiga (59 a.C.): considerado o primeiro “jornal” da história, criado por ordem de Júlio César. Era afixado em locais públicos com notícias sobre política, julgamentos e eventos sociais.

O jornalismo moderno, porém, começa a se consolidar com o avanço da imprensa de tipos móveis, inventada por Gutenberg no século XV. O primeiro jornal impresso regularmente reconhecido foi o “Relation aller Fürnemmen und gedenckwürdigen Historien”, publicado por Johann Carolus na Alemanha, em 1605.

Com o avanço da imprensa de Gutemberg no século XV, a disseminação de notícias se expandiu de forma significativa. Os jornais impressos se tornaram a principal ferramenta de informação para a população, consolidando o jornalismo como um pilar essencial da democracia e da liberdade de expressão.

O Iluminismo e o nascimento da imprensa crítica e a Evolução Histórica do Jornalismo e a Busca pela Verdade

Durante o século XVIII, especialmente com o Iluminismo, o jornalismo assume uma nova função: a crítica ao poder estabelecido. Filósofos como Voltaire, Rousseau e Diderot usaram periódicos para divulgar ideias revolucionárias, questionar monarquias e promover direitos individuais. Essa relação entre jornalismo e liberdade tornou-se um dos pilares da democracia moderna.

Com o Iluminismo e a ascensão da ideia de liberdade de expressão, a imprensa passou a desempenhar um papel mais independente e a lutar contra a censura. Nos séculos XIX e XX, com a expansão dos meios de comunicação, o jornalismo se consolidou como uma ferramenta de fiscalização do poder, contribuindo para a exposição de escândalos políticos, corrupção e abusos de poder.

O jornalismo, desde sua concepção, tem sido um instrumento de registro histórico e de controle social. No século XVII, os primeiros jornais impressos surgiram na Europa, trazendo informações sobre política, economia e acontecimentos locais. Inicialmente, a imprensa estava fortemente ligada ao poder político e econômico, servindo muitas vezes como um porta-voz dos governantes.

Casos Históricos de Manipulação da Imprensa

A história do jornalismo é repleta de casos emblemáticos em que a verdade foi distorcida por interesses diversos. Um dos exemplos mais conhecidos é o caso do "Jornalismo Amarelo" no final do século XIX, caracterizado pela exploração sensacionalista de notícias, muitas vezes sem verificação adequada.  O termo surgiu nos Estados Unidos e se referia a uma imprensa sensacionalista que priorizava manchetes exageradas e informações imprecisas para aumentar a venda de jornais. O embate entre Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst nos Estados Unidos evidenciou como a busca por audiência pode comprometer a veracidade da informação.

 Esse tipo de jornalismo teve grande influência na decisão dos EUA de entrarem na Guerra Hispano-Americana em 1898, ao publicar relatos distorcidos sobre os acontecimentos em Cuba e teve um impacto político significativo por meio da divulgação de notícias falsas sobre supostos ataques espanhóis contra os Estados Unidos.

Com a Revolução Industrial, o jornalismo expandiu-se: Imprensa de massa: o custo de produção diminuiu e jornais como The Times (Londres) e Le Figaro (França) ganharam tiragens altíssimas. Jornalismo de combate: em países como o Brasil, o jornal se torna instrumento político, especialmente durante os períodos de abolição da escravatura e Proclamação da República. É nesse século que surgem também os primeiros códigos de ética jornalística e o conceito de reportagem investigativa, com destaque para nomes como Nellie Bly (EUA), que se fingiu de doente mental para denunciar abusos em um manicômio em 1887.

Outro caso significativo foi o da Guerra do Iraque, em 2003. A cobertura da imprensa sobre a existência de "armas de destruição em massa" no Iraque contribuiu para a justificativa da invasão americana ao país. No entanto, anos depois, descobriu-se que as informações eram infundadas. Isso demonstrou como uma narrativa equivocada pode influenciar decisões políticas de grande impacto global.

O Jornalismo na Era Digital e a Responsabilidade na Disseminação da Informação

A revolução digital transformou a maneira como as informações são consumidas. Com a ascensão das redes sociais, blogs e plataformas de conteúdo independente, qualquer pessoa com acesso à internet pode produzir e disseminar informações em tempo real. Se por um lado isso democratizou a comunicação, também trouxe desafios significativos quanto à veracidade dos fatos.

O impacto das fake news tornou-se uma preocupação global. Em eventos recentes, como as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016 e a pandemia de COVID-19, houve uma grande disseminação de desinformação, prejudicando a confiança na imprensa e afetando diretamente a vida das pessoas. O crescimento de algoritmos que favorecem conteúdo viral, independentemente da veracidade, tornou-se um desafio para o jornalismo tradicional.

O Jornalismo e a Construção da Verdade Histórica

A história está repleta de casos em que a imprensa desempenhou um papel crucial na documentação de eventos. No entanto, a maneira como as informações são reportadas pode influenciar significativamente a percepção dos fatos. Preservar o jornalismo é preservar a democracia. O Dia Mundial do Jornalista é uma homenagem à luta contínua pela verdade. A liberdade de imprensa, a integridade jornalística e o direito à informação não são privilégios — são pilares fundamentais de qualquer sociedade livre. Num tempo em que a desinformação pode matar, corromper eleições e sabotar instituições, o jornalismo ético é mais necessário do que nunca.

O Papel da Imprensa Durante as Grandes Guerras

Durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, a imprensa foi utilizada como ferramenta de propaganda tanto pelos Aliados quanto pelos Eixos. Informativos eram manipulados para estimular o patriotismo e justificar conflitos, demonstrando como a imprensa pode ser usada como arma política.

Um exemplo marcante foi a censura da imprensa na Alemanha nazista, onde Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda, controlava rigidamente as notícias publicadas, moldando a percepção pública sobre a guerra.

O Jornalismo no Brasil e Seus Desafios

No Brasil, o jornalismo sempre esteve entre a liberdade de expressão e a censura, com momentos de grande avanço e retrocesso.

Governo Militar (1964-1985)

Durante o período militar, diversos jornais foram censurados ou fechados por divulgarem informações que incentivavam a implantação de um regime comunista no Brasil. O Jornal do Brasil, por exemplo, utilizava receitas de bolo para substituir reportagens censuradas, em uma tentativa de denunciar a falta de liberdade de imprensa.

O Jornalismo Investigativo e a Redemocratização

Com a redemocratização, o jornalismo investigativo ganhou força. O caso Collor, que culminou no impeachment do presidente em 1992, foi um marco da imprensa livre, mostrando sua importância na fiscalização do poder.

O Cerceamento da Liberdade de Imprensa na Atualidade no Brasil

A liberdade de imprensa é um dos pilares fundamentais da democracia, garantindo que a sociedade tenha acesso a informações plurais e isentas. No Brasil, essa liberdade vem enfrentando desafios cada vez maiores nos últimos anos, com ameaças diretas e indiretas a jornalistas, veículos de comunicação e plataformas independentes. O cerceamento da imprensa compromete a transparência, a fiscalização do poder e o direito da população de estar informada.

A triste realidade da nova ditadura da toga no Brasil. Abordaremos as formas como essa liberdade vem sendo restringida, os principais casos de censura, a influência de poderes políticos e econômicos, além das implicações para a democracia e possíveis soluções para reverter esse cenário.

A Liberdade de Imprensa no Contexto Atual

O Brasil ocupa posições preocupantes nos rankings internacionais de liberdade de imprensa. Organizações como a Repórteres Sem Fronteiras e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) alertam sobre o aumento da censura e da violência contra jornalistas no país. Os principais desafios enfrentados atualmente incluem:

Agressões e intimidações contra jornalistas: Profissionais da imprensa são alvos frequentes de ataques verbais e físicos, especialmente durante coberturas de temas políticos e sociais.

Processos judiciais abusivos: A judicialização da censura tem sido uma ferramenta usada para silenciar jornalistas e veículos críticos ao governo e a determinados grupos de interesse.

Controle econômico e financeiro: Retirada de patrocínios, pressão sobre anunciantes e tentativas de estrangular financeiramente mídias independentes são práticas comuns.

Desinformação e ataques à credibilidade da imprensa: A disseminação de fake news e campanhas de desmoralização dos veículos de comunicação comprometem a confiança pública na mídia.

Censura e Interferência Política

Nos últimos anos, houve um aumento significativo de casos de censura direta e indireta. Entre os principais exemplos estão:

Ataques Diretos à Imprensa

Jornalistas e veículos de comunicação que publicam reportagens investigativas sobre corrupção, abuso de poder ou temas sensíveis frequentemente sofrem represálias. Em alguns casos, há censura prévia de conteúdos, impedindo que certas informações cheguem ao público.

Processos e Assédio Judicial

Muitos profissionais enfrentam processos por danos morais movidos por políticos e empresários, como uma estratégia para desencorajá-los a investigar temas controversos. A alta quantidade de processos contra jornalistas indica uma tentativa de sufocar economicamente a imprensa independente.

Pressões Econômicas

Governos em diferentes esferas utilizam a publicidade estatal como instrumento de controle, direcionando verbas para veículos alinhados e retirando investimentos de mídias críticas. Esse mecanismo cria um ambiente de autocensura, no qual veículos menores têm dificuldades de sobreviver.

Impactos na Democracia

O cerceamento da liberdade de imprensa afeta diretamente o funcionamento democrático de um país. Algumas das consequências mais graves incluem:

Redução da transparência governamental: A imprensa tem um papel essencial na fiscalização dos poderes públicos. Sem liberdade, há menos denúncias sobre corrupção, abuso de autoridade e irregularidades.

Desinformação e polarização: A ausência de uma imprensa livre favorece a disseminação de notícias falsas e a construção de narrativas unilaterais.

Autocensura: Jornalistas e veículos podem evitar determinados assuntos por medo de retaliação.

Fragilização do Estado Democrático de Direito: A pluralidade de opiniões e a livre circulação de informações são essenciais para a construção de uma sociedade democrática e justa.

Como Podemos Proteger a Liberdade de Imprensa

O cerceamento da liberdade de imprensa no Brasil representa uma grave ameaça à democracia e ao direito da população de acessar informações de qualidade. A repressão contra jornalistas e veículos de comunicação compromete a transparência e a fiscalização dos poderes, criando um ambiente de insegurança para a prática do jornalismo.

Para garantir uma imprensa livre e independente, é fundamental que a sociedade civil, organizações de defesa dos direitos humanos e instituições democráticas estejam atentas e atuem na proteção dos profissionais da comunicação. A liberdade de imprensa não é apenas um direito dos jornalistas, mas um pilar essencial para a manutenção de uma sociedade informada e democrática.

Diante desse cenário preocupante, algumas ações podem contribuir para garantir a liberdade de imprensa no Brasil:

Ética e Responsabilidade Jornalística

A ética é um dos pilares do jornalismo. Profissionais devem seguir princípios básicos como:

Veracidade: Verificar informações antes da publicação.

Imparcialidade: Apresentar os fatos sem tendências ideológicas.

Responsabilidade Social: Considerar os impactos da informação divulgada

Para manter sua credibilidade, o jornalismo precisa se basear em princípios sólidos de ética e responsabilidade. O compromisso com a verdade exige um processo rigoroso de checagem de fatos, apuração criteriosa e imparcialidade na apresentação das notícias. Além disso, o jornalista deve evitar a pressão por cliques e audiência em detrimento da precisão da informação.

O código de ética jornalística reforça a importância de práticas como:

A verificação rigorosa dos fatos antes da publicação; A imparcialidade e neutralidade na abordagem das notícias; O respeito à privacidade e aos direitos individuais; A responsabilidade social e o impacto das informações divulgadas. Em tempos de desinformação e ataques à imprensa, é essencial que o jornalista mantenha a integridade e a transparência, buscando sempre a verdade e contribuindo para a formação de uma sociedade mais informada e consciente.

O Futuro do Jornalismo e o Combate à Desinformação

O jornalismo tem passado por transformações profundas nas últimas décadas, impulsionado pela revolução digital, pelo surgimento de novas plataformas de comunicação e pelo impacto das redes sociais. Com a rapidez na disseminação de informação, cresce também o desafio de combater a desinformação, que se tornou um dos maiores problemas da atualidade. A credibilidade da imprensa, antes centrada em grandes veículos tradicionais, hoje enfrenta ameaças constantes de fake news, algoritmos de bolhas de informação e um público cada vez mais cético.

A digitalização do jornalismo trouxe mudanças significativas na produção e no consumo de informação. Se antes os grandes veículos detinham o monopólio da notícia, hoje qualquer pessoa pode produzir conteúdo e disseminá-lo para um público global. Essa descentralização democratizou o acesso à informação, mas também abriu espaço para a proliferação de notícias falsas e descontextualizadas.

As redes sociais se tornaram a principal fonte de informação para milhões de pessoas. No entanto, os algoritmos dessas plataformas priorizam conteúdos virais e engajadores, nem sempre verificando a veracidade das informações compartilhadas. Isso cria um ambiente propício para a desinformação e o sensacionalismo, enfraquecendo o jornalismo de qualidade.

Com o declínio da confiança na mídia tradicional, muitos leitores buscam informação em veículos independentes e jornalistas autônomos. Embora isso amplie a diversidade de opiniões, também pode aumentar a difusão de narrativas enviesadas, caso não haja um compromisso sério com a verificação dos fatos. A verdade precisa ser a base da comunicação, e os profissionais da área devem reforçar seu compromisso com a precisão e a ética.

O futuro do jornalismo dependerá de sua capacidade de se reinventar, mantendo seu compromisso com a verdade e a responsabilidade de informar o público com transparência e precisão. A luta contra a desinformação exige ações concretas por parte dos jornalistas, das plataformas digitais e do público. Investir em educação midiática, criar mecanismos avançados de verificação de fatos e garantir a independência do jornalismo são passos fundamentais para assegurar que a verdade prevaleça em um mundo cada vez mais conectado e suscetível à manipulação da informação. No Brasil e em outras partes do mundo, jornalistas são perseguidos, ameaçados e criminalizados por revelarem verdades incômodas. A luta agora é para defender não só a liberdade de imprensa, mas o próprio direito do público de ser bem-informado. 

A sociedade também tem um papel importante, sendo necessário educar as novas gerações para o consumo crítico de informações. A adoção de mecanismos de checagem de fatos e regulamentações que combatam a desinformação são passos essenciais para garantir um jornalismo livre, responsável e comprometido com a verdade.

 

Celso Tabajara

Escritor, Relações Públicas e Jornalista

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Lucila ValenteHá 3 semanas Salvador BahiaExcelente!! Parabéns!!
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