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Crônicas Novos artistas

Mãos resilientes

A bota de Eric

25/12/2024 às 10h16
Por: Sergio Junior
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Mãos resilientes

NÃO, ERIC, NÃO É PARA SEMPRE.

... O papel para escrever e pintar parece ter ficado mais duro e absorve muita tinta, que pelo clima árido, está secando; e a pena, devido ao atrito com o material mais ríspido, começa a demonstrar grande desgaste. 

Contudo, de modo improvável, as mãos do artista e as do escritor, ainda que cansadas, resistem heroicamente.

E como numa peça de ficção, a realidade desse povo se confunde nos seus múltiplos cenários impostos e nas surpresas dolorosas desse novo ciclo, que na verdade, não é tão novo assim.

Há de se ressaltar no entanto, a incrível capacidade emocional e a resiliência desses artistas humildes tão vilipendiados, de não cederem ao "pincel vermelho" que tenta pintar tudo de sangue, afim de tirar de cena para sempre, a vida, o brilho e a obra desse povo-artista. 

Não há nada que possa ser celebrado nessa guerra psicológica de perseguição e desdém. É um ciclo de obras destruidas, de famílias órfãs, de quadros que foram jogados no porão e, por causa da humidade, perderam a cor e o brilho natural. Normalmente era para ter um final melancólico e desolador. E seria facilmente entendido, afinal quem resiste a tanta dor? 

Quem pode absorver tantos socos e pontapés injustos? 

A "bota do futuro pisando no rosto humano" de artistas pueris prometidas na ficção de Eric Arthur Blair (Orwell), ultrapassou as páginas da imaginação e virou um pesadelo real.

Por razões um tanto complexas, quase toda a população foi levada a aceitar o regime-novo como ‘democrático’, embora reconheça em silêncio que a essência e a prática são inteiramente diferentes de tudo que significa ‘Estado Democrático de Direito’. 

Na verdade, o que há é uma espécie de sistema de pensamento jurídico esquizofrênico, no qual palavras como ‘democracia’ são usados como a ponta da lança que vai envenenar a própria democracia. Somente uma parte insiste em falar, ainda que não haja eco da voz: a parte do povo-artista. 

E o que é mais curioso é que, boa parte do povo que hoje apoia a destruição dos artistas de biblia-na-mão e amantes da bandeira nacional, rechaçavam as botas ativas das décadas entre 1960 e 1980, pois eram eles os alvos. Hoje, exatamente 60 anos depois, riem-se na TV, criam materialidade com mentiras e ilações e, com sugestões dadas pelos próprios destruidores de quadros que, hoje já não usam apenas as botas de Eric, mas capas de Batman. 

Se o período de proibição e repressão de outros tempos, durou 21 anos, hoje, com todo avanço civilizatório e com a conscientização do povo, mas sobretudo em virtude da fé e da resiliência dos novos pintores, tende a durar bem menos. 

E se há mãos que foram amarradas e vozes que foram caladas, há ainda muitas mãos pintando e escrevendo, outras mãos entalhando em rochas, as informações que não poderão ser apagadas. Então, apesar da cor nublada nos rostos de muitos, apesar do Natal dolorido para crianças e esposas, com toda a crueldade imposta pelo regime-novo, há de se encontrar na fé em Deus o refúgio certo até que passe as calamidades.

Não é para sempre. E eu, que faço parte desses novos artistas, estou certo que alguma coisa vai acontecer. Acredito que mãos equilibradas pintarão um novo quadro e que repressores serão forçados a recuar. Pode parecer que não, mas há artistas(embora tímidos) que usam a mesma tinta que nós, espalhados nas repartições públicas, nos jornais e na Justiça. E ainda temos outros que são autônomos e independentes e que fazem excelentes quadros. 

Temos vozes que começam a perceber a bota se aproximando do rosto e estão começando a pegar o pincel para escrever ou pintar a realidade a respeito da metodologia governamental do regime-novo. 

Força senhores, peguem os vossos pincéis, usem a tinta que resta e abram a vossa boca, não é tempo de desistir, senhores. 

É pelos nossos filhos e nossos netos. Talvez soframos e até morramos, mas os nossos novos artistas serão livres e farão desse país uma obra realista e invejável. Até a próxima temporada, amigos.

Sergio Junior

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Sérgio Junior
Sérgio Junior
Sobre Sérgio Júnior é um escritor e pensador brasileiro, graduado em artes da teologia, membro n°23 da Academia Internacional de Literatura Brasileira de NY (AILB). Um romancista ficcional, analista de cenários sociais, poeta e filósofo. Em 2021 e 2022, disputou os prêmios de destaque literário pela Focus Brasil na AILB, idealizado por Nereide Lima e na premiação "Melhor do Brasil na Europa ", pela revista "High Profile Magazine" na Inglaterra, por causa do sucesso do livro "Eu no seu funeral" lançado pela CRV editora no Paraná. Recentemente, Sérgio Júnior tem sido notícia em vários portais na internet , por seu livro " O SEGREDO DOS NEGROS VENCEDORES " lançado em 2023. Site do autor na Amazon. https://www.amazon.com/stores/Sergio-Junior/author/B0927LMMFY?ref=ap_rdr&store_ref=ap_rdr&isDramIntegrated=true&shoppingPortalEnabled=true Envie uma mensagem para Sergio Junior no WhatsApp. https://wa.me/message/QYDPF3DM3CTXA1
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