Assistir, in loco, a cada oferenda e espetáculo da natureza é um prodígio indelével.
Conhecer novos lugares, culturas e pessoas (interessantes, boníssimas e bem intencionadas) são das experiências mais marcantes e inolvidáveis que levamos para a eternidade.
Poder encontrar o ser amado, haver reciprocidade de fascinação, encantamento, desígnios e desideratos, estar com ele, por si só, consubstancia, sem dúvida, um inefável e idílico enlevo que cinge tempo e espaço, e cujo entorno, próximo ou distante, se torna mero acessório vacuoso.
Ver-se (e, neste caso, já num cenário mais hipoteticamente intangível ou reservado a uma minoria de privilegiados) a poder adquirir e / ou realizar qualquer fetiche mercantil, possuindo os meios próprios e lícitos para tal, seria, com certeza, algo inenarrável.
Mas poder voltar para casa, ao final do dia, sem dor física ou mental, de plena saúde, portanto, com “as contas pagas”, é sempre o supremo dos sortilégios - não achais?
Tem coisa melhor que estar em nossa casa?
Haverá uma série de coisas boas nesta vida, com certeza que as há, mas, certamente, voltar para / estar em casa, creio, será uma unanimidade.
É comum, lá está, escutarmos que viajar é das melhores experiências que podemos levar desta vida – concordo, indubitavelmente –, mas acrescentaria que na surdina da experiência veraneante e dos horizontes mentais e existenciais que se expandem a partir dela opera sempre a sensação única e inenarrável de regressarmos a casa.
Trabalhar, por variadíssimas razões, é algo vital para nós. Mas a sensação de conforto e alento que sentimos sempre que voltamos para casa após um dia de labuta, goste-se ou não daquilo que se faça, não tem preço. Se a negativa citada for uma realidade mais ela (a sensação de conforto e alento) se fará impagável...
Lar é, portanto, sinônimo de refúgio sustentador do bem-estar físico e emocional.
Simbolicamente, representa a nossa psique e suas vicissitudes conscientes versus inconscientes.
Distingue-nos e dignifica-nos face ao outro.
A nossa memória, a nossa biografia e nossa forma de ser e estar encontra, no espaço doméstico, por um lado, um lugar, por excelência, de livre expressão, por outro, um ambiente de proteção, amparo e acolhimento uterino.
Fora dele, vimo-nos obrigados e submetidos a uma constante exigência adaptativa, a reprimir sentimentos, vontades, pensamentos, emoções e comportamentos, muitos deles, que desejaríamos expressar, até, gerando a todo o instante, desgaste, enfado e desconforto emocional.
De volta a ele, as máscaras e os filtros dissipam-se – voltamos a ser nós mesmos: íntegros, in natura, plenos e soberanos.
Obviamente, dentro de padrões e requisitos mínimos de dignidade humana, seja a casa modesta ou mais sumptuosa; humilde ou soberba; exígua ou ampla (mas sempre e sempre higienizada e arrumada), não há melhor lugar para se estar que não seja em nossa casa...
“Nossa”, por nós adquirida, conquistada, fruto, unicamente, de nosso esforço, esmero e mérito – oh, glória!...
De tal modo assim é que, reiteradamente, sempre que dela nos ausentamos, por mais que a experiência se faça deveras prazerosa e inesquecível, o retorno sempre se fará mais do que saudoso...
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