A Teoria do Caos é muito, mas muito mais que um mero construto.
Não há Ordem sem Caos, e vice-versa, concordais?
Do mesmo modo não haveria Luz sem Escuridão.
Quente sem Frio...
Toda uma inescapável obediência à lei e princípio da dualidade.
Tudo tem o seu oposto.
Os opostos são idênticos em sua natureza, mas diferentes em grau. E os extremos sempre se tangenciam...
Um ontológico pêndulo energético-frequêncial que incessantemente se digladia por balanço, equilíbrio, ajuste e sentido.
Não confundir, todavia, com o dialético “caos induzido e ordem advinda” (no qual cada “solução implementada” é sempre planejada de antemão “àquele” e “àquela”) perpetrados, incessantemente, por “humanas mãos” que, ao longo da história da humanidade, consubstancia o maestrino enredo da perpétua batuta de poder.
Não é o que aqui tratamos.
O viés é supraestrutural.
É de outra ordem de grandeza.
Embora o caos faça parecer que tudo se move de forma aleatória, desordenada ou imprevisível, na verdade ele cria seus próprios padrões ao longo do tempo. Por mais caótico que possa parecer um sistema ele sempre segue uma desdobrada trajetória até culminar em certos e determinados desfechos. Esses pontos de destino são conhecidos como atratores. O conjunto de atratores de um sistema formará então um novo ordenamento que logo se desestruturará e assim sucessivamente ad infinitum.
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Com base em tão reveladoras ilações dá-se uma machadada na medula da determinística física clássica newtoniana.
O pai da gravitação (a charada universal que grassa e vige) defendia que é possível fazer previsões quando os dados observáveis “são perfeitos e expectáveis”.
No entanto, na práxis humana, nos fenômenos naturais e, sobretudo, nos desígnios sobrenaturais é impossível haver ou falar-se em “dados perfeitos e/ou expectáveis” o que torna todas as previsões a eles associados inviáveis.
Cada pequena variação – afirma-o, categoricamente, a teoria a que fazemos menção em epígrafe –, terá um efeito não linear em qualquer sistema complexo podendo desencadear enormes mudanças no decurso do tempo.
E haverá algo mais complexo que a vida – seja ela humana, ecossistêmica e/ou espiritual?
Esse não linear efeito alude ao fato de que nós nunca poderemos prever, individualmente, como um sistema caótico poderá evoluir a partir de uma condição inicial porque pequenas e insignificantes causas poderão ter consequências enormes. Mormente, os fenômenos não previsíveis ou não lineares (que plasmam a humana condição de ser) que por assim o serem são considerados caóticos, pois não há como controlá-los.
Tais sistemas, tidos como complexos e instáveis (toda a nossa humana condição de ser e o mistério em que ela transcorre), são baseados, portanto, na sensibilidade às condições iniciais – fenômeno que caracteriza a impossibilidade de prever resultados futuros devido às mutabilidades sutis que podem ocorrer no início dos processos.
Tais aparentes e insignificantes vicissitudes, metafórica e brilhantemente, passaram a ser cunhadas de Efeito-Borboleta – alegoria que ilustra a extrema sensibilidade dos sistemas caóticos às condições iniciais.
Imagina-lo assim: que o bater das asas de uma borboleta em determinado local poderá vir a desencadear uma sequência de fenômenos que, em última instância, descambarão num devastador tornado nas antípodas geográficas de tal mariposa voadura.
O Efeito-Borboleta destaca, pois, a profunda interligação de eventos aparentemente não relacionados e sugere que uma pequena mudança em uma parte de um sistema poderá levar a consequências significativas noutros, inclusive, em locais distintos. Ou seja, a cada evento em nossas vidas milhares de outros poderão ou não acontecer. E, assim, numa fração de segundos tudo poderá cambiar.
Nossas interações, decisões e emoções, a todo o momento, e por mais triviais que possam vir a ser, desencadeiam uma série de eventos que moldarão, iniludivelmente, o curso das nossas destinações.
Não só cada decisão; cada evento, em si, também.
Vide o corriqueiro e despretensioso exemplo infra:
Atrás de vós vem um senhor caminhando cuidadosamente com um café muito quente nas mãos, mas não percebe que vos agachastes para amarrar o cadarço. Ele tropeça em vós, derrama o café, se queima, fratura um dos pulsos e acaba precisando ir ao pronto-socorro para receber tratamento. O senhor que levava o café é piloto de aviões comerciais e, por conta do incidente, não consegue chegar a tempo para o voo programado e para o qual estava incumbido. Na pernoita hoteleira no destino para o qual voaria iria trair a esposa pela primeira vez com uma acompanhante. Com isso, o voo se atrasa e passa a ser realizado por um outro colega piloto. Uma das passageiras do voo iria para uma entrevista de emprego. Como não mais chegaria a tempo iria perder a vaga. Outro passageiro era um homem que viajaria para se casar e iria deixar a noiva esperando no altar. E havia também dois irmãos que queriam se despedir da avó que sofria uma doença terminal e acabariam por não conseguir lhe dar seu último adeus. E não o conseguiram porque o avião, que lá seguira seu curso, acabaria por se despenhar pouco antes de pousar por um erro de cálculo dos responsáveis pelo abastecimento de combustível...
Percebeis toda a entropia e escalar Efeito-Borboleta que na sequência do primeiro e insignificante evento se gerou?
Percebeis o impacto das extraordinárias urdiduras deste efeito nos affairs humanos?
Vê-lo eis, a todo o tempo, em perspectiva e, retrospectivamente, em vossas vidas quando parais para pensá-lo?
Já vos déreis conta desta inescapável e permanente tautologia existencial?
Relembrais de algum “acaso” do destino quando pensais numa decisão tomada/ evento ocorrido que cambiou, em algum momento, toda a vossa trajetória biográfica?
Inferis o quão poderoso, onipresente e impactante ele é?
Eco
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