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E DÁ-LHE MAIS UMA SUMA... DE REALOGIA

“Memórias & Retalhos dum Eco Inteligente e Não Replicante”

Marco Paulo Silva
Por: Marco Paulo Silva Fonte: Juntando as peças com Intelecto lúcido & Cognição própria
25/10/2024 às 15h18 Atualizada em 26/10/2024 às 09h58
E DÁ-LHE MAIS UMA SUMA... DE REALOGIA

A psicologia, como humana ciência, conseguirá analisar as situações como um todo, abarcando a realidade externa, ou apenas a reação individual e psicológica do indivíduo que, assim, e erraticamente, a toma como real?

Nossa convicta resposta é tão só, e apenas, tudo o que segue ao "ou" da indagação em epígrafe. Ela estuda e abarca apenas um recorte da realidade – o que se processa na psique.

Não há um meio psicológico de estudar a relação entre o processo cognitivo e o objeto desse mesmo processo. O objeto, em sua abrangência, nunca faz parte do viés psicologista. Os estudiosos e profissionais da mente estudam apenas a componente subjetiva da equação e sua reação aos acontecimentos, e por isso nunca chegam ao cerne das questões, ao processo inteiro, ou seja, à relação que se estabelece entre a mente, o sujeito do processo cognitivo e a situação real.

Por outras palavras, a psicologia não tem como analisar, nem de perto nem de longe, a situação real, mas apenas as reações psicológicas a ela.

E não precisaremos de qualquer ciência externa a nós para compreendê-lo. Possuímos uma inata filosofia, um chamado epistemofílico, que a tudo precede e que se consubstancia como a melhor das aparelhagens analíticas para fazê-lo – pela indução, primeiro, e acima de tudo, e depois, então sim, via dedução.

Em contraponto toda a cultura que interiorizamos e educação que recebemos sempre nos leva a dar mais crédito à dedução, duvidando do raciocínio indutivo e vendo este como uma impressão ou pressentimento, e aquele como a coisa racional que pode ser comprovada cientificamente.

Mas tal prisma só parece ser o mais correto porque nós, evolutivamente, passamos a dominar o processo raciocinativo – nós o inventamos! Através dele enxergamos em toda a negociação com o real uma conexão lógica entre conceitos, mas relegamos a conexão fática entre as coisas. A primeira pode até representar a segunda, mas jamais sê-la em essência e substância.

A impressão com que ficamos é, assim, invertida – inversão, para não variar, é a palavra de ordem e, também, a fonte desta problemática –, porque confundimos o domínio que temos sobre os nossos próprios pensamentos e ideários como sendo o domínio do conhecimento de uma situação externa de fato.

E este tem sido o legado secular do subjetivismo psicologista, transversal a todas as ciências, sejam elas humanas ou as pomposas exatas, incrustado em todo o processo educativo e universitário do qual só uns míseros escapam...

Percebei onde está o erro e o crasso equívoco: as ideias transformam os símbolos que existem para expressar experiências em conceitos. Estes, por sua vez, são encarados como se tivessem por referência uma outra realidade que já não a realidade da experiência. E essa outra realidade, o psicologismo, já se faz distinta da experiência real. Por conseguinte, ideias e deduções com base nelas próprias são as responsáveis por deformar tanto a verdade das experiências quanto sua real simbolização.

Nós olvidamos por completo, e não sei se algum dia o colocamos realmente em prática, o enorme potencial intuitivo que possuímos, a saber: o da percepção interpretativa da experiência real e imediata do mundo que nos rodeia.

Mas o fato de colocarmos sempre as ideias em primeiro lugar, e a ditar o real, consubstancia uma tremenda corrupção contra o Ser. Um auto-sabotamento.

Sim! O Homem corrompe a sua existência quando passa a situar o pensamento antes do Ser, colocando-se numa posição de inferioridade em relação a si mesmo – como pode um artigo manufaturado (a ideia, o pensamento ou a dedução) ser superior à máquina que o fabrica?

Ao abdicarmos do nosso poder de percepção e apreensão direta de perscrutar a realidade, ao aceitarmos trocar o padrão da objetividade pelo que a coletividade, a consciência de massa ou uma comunidade científica impõe – entidades abstratas (as três!) que devoram qualquer espírito livre, consciencioso, criativo e com intuição própria / individualizada –, sempre seremos atraídos para a escuridão da ignorância, incompreensão e padecimento.

A massa é educada e treinada (amassada) para fazer raciocínios cada vez mais precisos e mais exatos de um recorte, a mor das vezes, já deturpado, em detrimento da captação e entendimento da conexão lógica real, ou seja, da conexão entre os fatos em si mesmos.

Como é possível chamar de objetivo aquilo que é a própria mente a criar – as deduções –, e de subjetivo aquilo que resulta e é extraído da própria situação objetiva?

É, mais uma vez, a glorificação da inversão completa – concordam?

Eis uma das pragas da cognição moderna: a criatura necessita, afobadamente, tomar posição e ter convicções sobre inúmeras informações caoticamente validadas pelo infesto coletivismo. O mais curioso é que tais mentes são tão facilmente convencidas a se preocupar com absolutamente tudo o que é coletivo e quase nada com suas próprias vidas – eleições num outro lugar do qual nada sabem ou experienciaram minimamente; uma guerra num local distante; uma intriga envolvendo certo artista; o escândalo político do momento; a fofoca entre celebridades; o que quer que seja... E essas mesmas criaturas que desperdiçam horas em tais minudências e angústias, comumente, também alegam não ter tempo de ler isto ou aquilo, estudar, de fato, se exercitar ou realizar algo estético ou contemplativo, já que emitir uma opinião irrefletida sobre uma miríade de platitudes alheias a si lhes parece ser a ação mais importante que tudo o resto, até mesmo, que sua própria vida e aprimoramento. E, o que é pior, sempre ignorando a gravidade da sua doída ignorância.

A verdade afere-se na conexão das formas inteligíveis dos seres com as coisas em si e consigo mesmos.

Tudo o resto é pensamento.

O pensamento pode tocar a verdade em certos pontos, mas ele não pode ser a verdade.

Quando, por exemplo, alguém, após anos de estudo, recebe um diploma universitário em mineralogia, no ato em si, não há nenhum mineral / pedra presente. Só um colegiado, o reitor, os convidados, o que quer que seja para diplomá-lo e autorizá-lo a exercer a função. Aí ele move-se não no ambiente da relação dos objetos da sua ciência, mas no terreno das relações e formalidades convencionais – no domínio, portanto, da subjetividade coletiva, intersubjetiva, mas não no plano objetivo. A relação objetiva com a realidade, essa, é íntima, intransferível e silenciosa. O real conhecimento do citado formando só se dará, então, na hora em que ele, já mineralogista, pegar no mineral / pedra, perscrutá-lo(a) e ele(a) passar a revelar-lhe sua estrutura, composição e, portanto, algo da sua origem e da sua história. Depois disso, da parte do diplomado, o que existirá será só a transfiguração em símbolos e a comunicação dos mesmos com os pares, com a comunidade e / ou com os leigos. E a perda informativa e de gnose que há neste trajeto passará a ser imensa…

Em suma, em face de uma realidade tão ampla e vasta em si – que não foi criada por nós, que estamos longe de dominá-la e dentro da qual nos encontramos (ou seja, ao mesmo tempo diante e dentro dela) –, o lance do puro conhecimento sempre e só se dará no momento da nossa percepção face a ela.

  Eco

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Mónica silva Há 5 meses Lisboa Quanta sabedoria, não me canso de o dizer!????????????❤️
Maria Rosa Moreira PiresHá 5 meses Porto Alegre RSMais um magnífico artigo.
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Marco Paulo Silva
Marco Paulo Silva
Nascido, em 1975, e criado em Terras lusitanas, formei-me, academicamente, em Psicologia Clínica.
Na busca pelo binômio - independência financeira / vocação -, há mais de duas décadas que dedico minha vida profissional à investigação criminal e segurança pública.
A partir de 2020 enveredei numa saga literária cujas façanhas já deram azo a três diamantinas obras: COSMION, POMPA & CIRCUNSTÂNCIA e DZÁIT-GÁIST...
O futuro a Deus pertence...
Hoje, vivo em São Paulo, Brasil.
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