DE MORTE MATADA
Estamos morrendo há mais de 50 anos. E, enquanto agonizávamos anestesiados, comunistas silentes, obstinados, totalitários encarregavam-se de matar a educação brasileira. Com a UNESCO como verdugo, a escola hoje é o cemitério das sinapses neurais e deixou de ser o berço do conhecimento para se tornar num cercadinho para a socialização.
Pascal Bernardin, em seu livro Maquiavel Pedagogo, comprova, por meio de documentos que “o papel da escola foi redefinido e sua missão principal não consiste mais na formação intelectual, e sim na formação social das crianças, já que não se pretende oferecer a elas ferramentas para a autonomia intelectual, mas antes se lhes deseja impor, sub-repticiamente, valores, atitudes e comportamentos por meio de técnicas de manipulação psicológica” .
O Brasil está imerso num abismo, e a educação é terra arrasada. Todos os resultados em exames oficiais atestam o óbito de qualquer nível escolar. Mas, pior que os resultados dos testes, é a apatia com que eles são recebidos. Nenhuma lágrima, nenhum soluço, sequer a nostalgia pelo que foi perdido. Após duas gerações cavando própria cova, não é surpresa que não se enxergue o que acontece. A substituição das tradicionais disciplinas por tediosas abordagens críticas do “que rola por aí”, sepultou a finalidade primeira da escola. Ortografia, gramática, estrutura sintática, tabuada, operações matemáticas básicas, literatura, tudo devidamente enterrado para levantar a lápide onde está registrado: aqui jaz o conhecimento. E a foto no túmulo é a mão de um jovem de hoje segurando um lápis ou uma caneta. Nada mais emblemático da ausência de esforço e da falta daquele mestre que conduzia o aluno pela mão.
E para cativar uma plateia moribunda, a cada aula, o professor precisa se travestir de palhaço, animador de auditório e propor atividades que não inibam a criatividade e a espontaneidade dos alunos. E com todos os melindres, pois é proibido dizer ao aluno que ele fez algo errado ou exigir-lhe que melhore um trabalho, já que isso é condená-lo ad aeternum a um complexo de inferioridade do qual ele nunca se recuperará. E por falar em criatividade, o Brasil ficou 44º lugar, entre 56 países, num teste internacional sobre pensamento criativo. Com certeza, os especialistas criarão uma falácia para explicar como alguém consegue ser criativo, se sequer sabe pensar.
Nada, porém, é mais aterrador do que o pensamento enraizado de que nenhuma educação é necessária. Há, no Brasil, uma profunda aversão a qualquer atividade que lembre estudo, cultura. A ideia vigente hoje é de quem estuda está perdendo tempo precioso, já que poderia estar bebendo, ouvindo música pornográfica, desfilando seus silicones e oferecendo suas carnes para o abate. A morte do intelecto acontecendo gole a gole, bala a bala, funk a funk.
Em algum momento da vida adulta, já quase nos estertores, provavelmente essa geração será assombrada pela escassez, pela falta de significado nesta existência vazia, pela percepção de que a vida já não faça muito sentido. Talvez, num esforço derradeiro, até pensem em realizar algo. Mas, como desde crianças, foram doutrinados de que tudo é entretenimento, não estarão dispostos ao sacrifício e nem terão capacidade de concentração e tolerância às dificuldades inerentes a qualquer feito humano
E pior: como não foram ensinados a cuidar da própria vida, a assumir responsabilidades, como não aprenderam a produzir nada de relevante, condenarão o sucesso dos outros e a inveja do alheio serão os vermes a consumir o que resta do moribundo.
Querendo ser livres das restrições morais, estas gerações acabaram aprisionadas pela própria ignorância. Pensando numa vida de prazeres e isenta de responsabilidades, levantaram cercadinhos que se transformaram em muros intransponíveis e deles não sairão vivos.
A única saída: a autoeducação, fartamente disponibilizada em livros e nos meios eletrônicos. Para isso, é necessário escalar o muro, uma tarefa individual, solitária, silenciosa. Porém, o antídoto para a morte prematura.
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