Está na mesa do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, um pedido da sociedade civil para liberação de um local para a construção de um monumento em homenagem aos voluntários da enchente de maio de 2024. No documento entregue em 31 de maio, está a justificativa de que “O monumento não será apenas uma estrutura física, mas um símbolo de união, coragem e espírito comunitário que definem o caráter do nosso povo. Será um local de reflexão, onde futuras gerações poderão aprender sobre o poder da solidariedade e a importância de se ajudar mutuamente”.
A iniciativa é do Movimento Nós Somos a Maioria, coordenado por Fabiano Rheinheimer. Ele diz que esse será um tributo justo e merecido àqueles que tiveram o impulso de ajudar o povo gaúcho, aos voluntários que foram para a água salvar vidas, aos verdadeiros heróis anônimos que não temeram por suas vidas e não mediram esforços no resgate. “O povo acordou e percebeu que a solução da enchente no Rio Grande do Sul não viria do governo, que o próprio cidadão era a força de transformação daquele caos em algo bom. É uma história real de heroísmo em meio à tragédia”, comenta.
A confecção do monumento será com recursos da iniciativa privada, com o envolvimento da sociedade na produção de projetos, sem nenhum custo para o governo.
“Em 1º de maio, eu e a minha esposa estávamos tomando café da manhã e tivemos o impulso de ajudar a salvar pessoas, ir para a água. Porém, logo percebemos que não tínhamos capacidade técnica, não fazíamos atividades esportivas na água, não tínhamos equipamentos. Então criamos uma campanha para ajudar com compra e doação de cobertores, e deu certo. No dia seguinte, 2 de maio, já levamos cobertores para o primeiro abrigo montado em Porto Alegre, no Pepsi On Stage, no Bairro Anchieta. Foi o começo. A nossa meta de ajuda inicial era de 1.000 cobertores, mas chegamos perto de 6.000 cobertores doados até o final de maio, quando encerramos esta ajuda humanitária.
A solidariedade foi tão grande que a nossa campanha também entregou chinelos, roupas íntimas e material de higiene pessoal destinado aos abrigos. Nós arrecadamos, na vaquinha, R$ 134 mil e os insumos não passaram por atravessadores. Tudo que compramos foi entregue diretamente nas mãos das pessoas que sofreram com a calamidade.
O nosso trabalho foi reconhecido via mídias sociais e empresas de outros municípios e estados nos procuraram para que fizéssemos a entrega das doações diretamente à população afetada. O receio de quem doava era justamente que as cargas fossem parar nas mãos erradas e não chegassem ao destino.
Com isso, recebemos cargas fechadas e seguimos o mesmo padrão de distribuição, dentre elas 10 toneladas vindas do Paraná; uma carga de 1.500 pás para fazer a limpeza das casas. Essa última doação veio de uma empresa de tecnologia, com faturamento de quase R$ 1 bilhão por ano, mas que não quis expor o nome da companhia. Os proprietários só queriam que as pás chegassem diretamente nas mãos das pessoas que fariam a limpeza das casas, e a gente conseguiu.
Nessa experiência de enchente e destruição a gente viu o melhor do ser humano, mas começou a ver algumas distorções de finalidade. E, na minha leitura, o mês de maio conseguiu compreender a etapa dos voluntários que foram para os resgates, salvamentos e acolhimento nos abrigos. Em junho, vivemos o retorno das pessoas para suas casas, pelo menos em grande parte. Há muito a ser feito, mas precisamos que os governos em todas as instâncias façam a sua parte.
Essa vivência foi muito simbólica, iniciou na entrega de cobertores no primeiro abrigo de Porto Alegre e seguiu até o retorno das pessoas às casas, com a entrega de materiais de limpeza, pás, botas, indo de porta em porta. No Mercado Público de Porto Alegre, nós fizemos um plantão para a entrega das doações.
Esse ciclo de envolvimento voluntário encerrou e não pode ser esquecido porque envolveu muitos brasileiros. É preciso deixar uma marca na capital gaúcha para nunca esquecermos do que somos capazes quando unidos.
Até hoje entram em contato comigo para distribuir as doações. Nesse final de junho chegaram dois caminhões com 20 toneladas cada vindos de Indaiatuba, São Paulo. Como não estou mais envolvido (voltei às atividades profissionais), direcionei para uma pessoa que segue trabalhando na linha de frente de distribuição nas vilas de Porto Alegre. É impressionante como as pessoas se esforçaram para ajudar o nosso RS”, conclui.
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