Falemos de livre-arbítrio...
Às tantas, a páginas 201 a 204 de COSMION (Marco Paulo Silva, 2023), e após novo repto indagatório lançado por Irus a seu avô Ocram, lá nas alturas daquele miradouro, o vetusto discorre nos seguintes termos:
… “Luz e Trevas. Deus e o Diabo. Duas supra Entidades ou a Bipolaridade de Uma só? Um benigno, outro nefasto ou os dois num só? Nós não portamos essa condição binária em nosso âmago? Nós não fomos concebidos à imagem e semelhança do Criador?… Outra perspectiva, porém, de entendimento em torno da Divindade Suprema que poderá ser aventada é: E se a Transcendência for exclusiva, inabalável, hermeticamente inviolável e incorruptivelmente una em torno de tudo aquilo que é benfazejo, bondoso, clemente, harmônico e pacificador?... E não tendo como saber ou experienciar o Lado Sombrio, em Si, criou um monumental Meta-Enredo a que chamou “Humanidade”, dando-lhe um palco sustentável e energético – este lugar –, os instrumentos necessários para sobreviver e se impor: inteligência, raciocínio, destreza, criatividade e abstração, munindo-a de livre arbitrariedade e atuação polarizada entre o positivo e negativo?... O bem e o mal para, assim, “poder assistir de camarote” ao desenrolar e transcurso dos acontecimentos cênicos... Uma urdidura humana, um ensaio ficcional de modo a Se Permitir conhecer o Outro Lado... Deste Meta-Enredo Original, todavia, e até ao presente momento, vastas e pendulares meta-narrativas ocorreram. Em todas elas, atestada pela experiência de cada um de nós e potenciada pela faculdade dedutiva que possuímos, a moral constante da estória é a de que tudo aquilo que é bom, venturoso, deleitoso e triunfal é sempre esporádico e momentâneo, e que o antagônico martírio predomina, avassaladoramente, e de modo hegemônico... Não restam dúvidas de que, dentro desta minha hipótese aventada, o Realizador/Produtor Celestial há muito vislumbrou e percebeu o poder da Negatividade Sombria que, pela sua Positiva, Incondicional e Una essência, de outro modo não conseguiria entender... Que logo percebeu que o script humano é, pelas mãos duma Direção – as ditas cujas Estirpes – desvirtuado, Direção, essa, que a espaços ascende e assume o papel de organizá-lo, dirigi-lo e instrumentalizá-lo a seu bel-prazer, profanando-se e se afastando da essência a partir da qual, por Si, foi gerada... Terá Ele desistido da Sua obra e a confiada à própria sorte, tamanha a maldade e perversidade com que se revestiu?... Quererá Ele que, no desfecho do Seu Enredo, a Humanidade volte a encontrar o caminho da Luz e da Harmonia por sua conta e risco?”…
Uma mente loquaz e indagadora a do velho Ocram, sem dúvida.
Tantas questões hipotéticas por ele aventadas convergem, todavia, para o central problema em pauta: o do livre-arbítrio humano que denota a vontade livre de escolha e de decisão. A capacidade de escolha autônoma entre o que é certo ou errado realizada pela vontade dum indivíduo. O pórtico e a seara, portanto, da subjetividade e da individualidade, mas, também, da suspeição, do cepticismo, do viés, da permissibilidade, da relativização e da rebeldia...
Chegar a uma derradeira conclusão sobre o mesmo, ou melhor, sobre se terá sido, de fato, uma inserção Divina, como é massivamente tido como iniludível, exige, então, uma nuclear premissa. Partamos, pois, e em definitivo, do pressuposto criacionista e teológico de que não há ambiguidade Divina. Que Nesta só existe a emanação/manifestação de uma incondicional programação autogeradora de tudo e de todos, totalmente, acima e à margem do bem e do mal mundanos. Só amor, dádiva e doação. Ora, se o Criador de todos os designs e realidades não manifesta o bem e o mal por tal dualidade não existir em Si ou por Si, por que cargas d’água o materializaria na espécie humana?
Outrossim - Satã - entidade, também ela espiritual, mas que se situa, por banimento, numa escala de grandeza, digamos assim, intermediária, representa tudo o que há de ruim, maléfico e negativo na existência. Intermediária porque, na torrente verticalizada da Criação, se interpôs entre Deus e o Homem. Não somente se interpôs. Interferiu e sabotou... E de entre as manipulações levadas a cabo, o enxerto do livre-arbítrio terá sido, sem dúvida, uma das artes primordiais...
Sim! A conclusão final a que se chega é de que o livre arbítrio terá sido obra do diabo, jamais de Deus. O libelo probatório para tal constatação é tautologicamente ululante, diário e imparável em todos os quadrantes da práxis civilizacional.
O mal convivendo com o bem para gáudio da relativização e justificação de toda e qualquer coisa...
Quando o bem, que deveria ser incondicional, se relativiza, cede lugar ao mal, à perfídia e à perversão - é matemático!
Deus É o que É, logo toda a realidade que manifesta é o que é - é unívoca e premiada por mandamentos pétreos, inamovíveis, impolutos e inconspurcáveis; Para Satã ela (a realidade) é uma questão de ponto de vista, afetação e/ou contingência – e tudo vale…
Assim, num lugar plasmado na estrita ordem primordial e para o infinito desdobramento do amor, da estética, da harmonia, da beleza, da verdade e da justa integração de todos os elementos viventes, naturais e ambientais, criado para expandir benfeitorias, o bem e todo um espectro de criatividade artística numa ode aos nossos cinco sentidos, introduziram-se padrões e protocolos satânicos de reducionismo e enquistamento cognitivo, de arbitrariedade, dubiedade, do mal em si e per si, da inveja, da cobiça, da traição, da mentira e da servidão a uma tirânica reprogramação e interferência imposta, transgeracional, replicante e trágica...
Rebatam-no! Controvertam-no! Refutem-no!
Eco
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