A consciência é o epifenômeno extra-sensorial e estereoscópico mais misterioso da existência.
Em algum lugar deste reino sistêmico, há bilhões de anos, após a formação de estrelas, outros corpos siderais, átomos e partículas se reorganizaram em estruturas deveras complexas, uma delas, um grão, se levantou e disse: eu sou…
Uma micro estrutura feita de oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, cálcio e fósforo, os mesmos elementos que encontramos em rochas, águas e gases, mas que de alguma forma, e extraordinariamente, passou a tomar consciência de si.
Essa estrutura, em forma fractal, passou a ser eu, vós, aqueloutros…
Não é a fenomenologia mais inusitada, no sentido singular do termo, que conhecemos?
Como é possível que certa poeira (o ser de cada um), organizada de maneira específica e otimizada, se tenha tornado consciente?
Mas, afinal de contas, o que é isso de consciência?
E, de antemão, estará ela restrita aos cérebros humanos?
Pode um átomo ser ou se tornar consciente? Uma partícula?
Hoje seguireis por esta toca do coelho em busca, quiçá, do mistério mais profundo e transcendente da realidade.
A estranheza do estar consciente começa logo pelo simples fato de vós saberdes que estais vivos, que sentis, penseis, decidis, lembrais, desejais..., mas parai para pensar: por que sentis algo e não apenas reagis como uma mera máquina de estímulo-resposta?
O que em vós experimenta o sabor, o amor, o medo, a dor, a finitude?
Não é o cérebro em si, algo físico, localizável, mas algo que se sente, vivencia e experimenta, holograficamente, através dele…
Descartes já dizia: “penso, logo existo” – ainda que em cognitiva paralaxe, pois que a inferência correta é precisamente o contrário: existo, logo penso –. Ele, então, já intuía que tudo podia ser uma ilusão, menos uma coisa: o fato de nós, humanos, enquanto seres viventes, estarmos conscientes da nossa condição e estado.
Mas, insisto, será que só os humanos possuem tal faculdade?
E os animais, as plantas e os átomos?...
Duas das mais conhecidas teorias modernas que abordam a dimensão da consciência – a Teoria do Espaço do Trabalho Global; e a Teoria da Informação Integrada – dizem-nos o seguinte: a primeira afirma que a consciência surge quando certas regiões cerebrais trabalham em sincronia, permitindo memória, atenção e pensamento de alto nível, como se de um palco mental se trate no qual só uma coisa poderá estar em destaque por vez, mas em perfeita sincronia, afinação e harmonia.
Já a segunda teoria postula que consciência é o resultado de um sistema que possui um grau considerável de informação integrada. E se um sistema possui um nível elevado de informação a ponto de influenciar a si mesmo, ele tornar-se-á consciente em algum grau. Aqui a consciência não está no pensamento, mas na experiência daquilo que o cérebro é capaz de capturar a partir de si mesmo.
Caberá, então, a insistência (já decifrada na presente dissertação e perfeitamente inferida pela experiência de cada um): a consciência será localizável?
Terá existência física, palpável?
Não!
Por isso ser algo tão caracteristicamente fascinante…
Se admitirmos que bastam poucos pensamentos para considerarmos alguém consciente, e se reconhecermos que até um bebê terá consciência sem formar conceitos complexos, então talvez até um único disparo de um neurônio possa ser uma fagulha de consciência...
Se formos além, talvez como defendia acirradamente o jesuíta e profético Teilhard Chardin (tão acirrada profecia que se vem tornando na imposta realidade vindoura) sobre uma tal noosfera comandada por uma divinizada IA integradamente humana, toda matéria possui uma potencialidade de consciência, uma intelequia, uma tendência interna para se organizar e se tornar consciente.
Daqui adviria o conceito de pan-psiquismo – a ideia de que tudo tem, em alguma medida, consciência.
Spinoza já havia intuído isso ao afirmar que toda substância tem atributos de pensamento e extensão, ou seja, que mente e corpo coexistem em tudo.
Já sobre a profundidade filosófica e arquetípica da consciência – o que será essa experiência subjetiva única, esse tal sentir tão singularmente humano?
Jung nos deu uma grande pista: ela “não tem apenas uma função racional, tem, também, e, sobretudo, uma função simbólica, mitológica e profundamente arquetípica”.
Para Eric Newman, discípulo de Jung, a consciência “evoluiu através do confronto com a sombra, com o inconsciente”. Representada, pois, no mito do herói que desce ao submundo e retorna transformado como reflexo da jornada da própria consciência rumo à individuação…
Chegados aqui podereis inferir, pois, que a consciência é um processo, jamais um estado fixo.
E, talvez, e aqui tocareis no busílis mais fulcral desta temática que busco cutucar-vos com todas as minhas forças e garras:
A de que o mundo que percebemos também muda conforme evoluímos em consciência, pois que há um mundo exterior e um mundo interior que se moldam mútua e concomitantemente.
Mas o derradeiro mistério, podereis dizê-lo, persiste:
E se os próprios elétrons, prótons e partículas subatômicas tiverem um grau ínfimo de experiência consciente?
Na física quântica sabemos que partículas existem em superposição até serem observadas. Isso nos conduz ao revelador (a palavra certa seria “revolucionário”, mas ela foi, há muito, totalmente sequestrada pelo lado negro da força e, por assim ter sido, e tal ser vividamente conciencializado por mim, passou a ser banida do meu vocabulário) fenômeno do colapso da função de onda.
Será que a consciência de alguma forma participa disso?
É incontornável, ao entrarmos na seara da linguagem divina, que efeitos quânticos estarão envolvidos na origem da consciência.
Nosso cérebro é, pois, um lugar onde o colapso quântico acontece de maneira sistemática e organizada, abrindo espaço para a holografia mental, a todo o tempo, consciencializar.
Será esse o elã, o emaranhamento, entre a mente e a matéria?
Tal senciência ainda caberá ser aprofundada e iniludivelmente confirmada. Mas sabemos, indiscutivelmente, que a consciência é mais do que neurônios. É a imanência e a transcendência, juntas, se olhando no espelho…
Se toda consciência nasce da materialização frequencial e se toda matéria talvez contenha fagulhas de consciência, então tudo estará, de certo modo, interligado num campo etéreo e etérizado que conecta todas as coisas.
Independentemente de sermos ou não os únicos seres dimensionais capazes de refletir sobre isso, a desafiadora pergunta final a se fazer sempre será:
Como cuidar, desenvolver e fazer evoluir esse dom único?
A responsabilidade não estará num credo, num livro, numa receita ou em qualquer poção mágica, mas em cada um de vós – buscai-o!
A consciência não é apenas uma maravilha existencial, é um chamado, um dever, um imperativo…
Somos e encarnamos, individualmente, a divina transcendência se tornando consciente de si mesma.
E essa é talvez a tarefa mais sagrada das nossas vidas e a razão de ser para existirmos…
Eco