(Desvendando Malaquias 2:16 e o Propósito Divino)
Quando eu escrevi o livro "Memórias da Leoa Negra - A Gripe Mortal", abordei esse assunto de maneira breve. A violência doméstica eternizada pela resiliencia pregada na religião. Frases como, "casou agora aguente", "casado uma vez, casado para sempre" ou até a expressão conhecida como adágio popular, "Até que a morte os separe".
Sei que já ajudei muitas pessoas a se despertarem sobre isso, pois sou neto de uma mulher (Valdelice) que viveu isso na pele.
Muitas vezes, no gabinete, ouço pessoas repetirem sem o menor conhecimento, que "Deus odeia o divórcio", uma frase que parece honesta e religiosa, mas que carrega um peso e, para alguns, uma punição eterna ou condenação à uma prisão perpétua. Mas será que é exatamente isso que a Bíblia diz?
Vamos mergulhar em Malaquias 2:16 e nos textos originais para entender o que realmente está em jogo, desmistificando ideias que, por séculos, foram distorcidas e usadas para oprimir, especialmente mulheres.
No hebraico original de Malaquias 2:16, a palavra usada não é sobre "divórcio", mas "repúdio" — shalak no hebraico.
Repúdio era o ato de abandonar a esposa, muitas vezes com violência, humilhação e sem qualquer proteção legal. Diferentemente do #divórcio (keritut), que envolvia a entrega de uma carta formal permitindo que a mulher fosse livre para se casar novamente, o #repúdio deixava as mulheres em um limbo cruel: sem sustento, sem direitos e ainda ligadas ao marido pela lei.
Era essa prática que Deus condenava em Malaquias, onde o texto menciona que os homens se "cobriam de violência" ao tratar suas esposas com deslealdade e abandono.
Por que, então, Deus permitiu o divórcio?
Não porque Ele o celebra, mas como uma concessão à "dureza de coração" humana (Mateus 19:8). O divórcio, no contexto bíblico, na verdade era uma proteção à mulher, um mecanismo para garantir justiça às mulheres repudiadas, dando-lhes liberdade para reconstruir suas vidas.
Sem a keritut, a mulher continuava legalmente presa ao marido, mesmo sendo abandonada ou maltratada.
Mas e as palavras de Jesus em Mateus 5:31-32 e 19:9, onde Ele parece dizer que casar com uma pessoa divorciada é cometer adultério?
Aqui, é crucial olhar o termo grego usado: apoluo, que significa "repudiar" ou "abandonar" sem a formalidade do divórcio. Jesus não estava condenando o divórcio legal (desazion), mas sim o abandono cruel sem a carta de divórcio, que deixava a mulher em uma situação de vulnerabilidade. Ele reafirmava o propósito original de Deus — a união matrimonial como ideal — mas reconhecia a necessidade do divórcio em casos de injustiça, como violência, traição ou abandono.
E quanto ao que Paulo diz em 1 Coríntios 7:10-11, sobre a mulher estar "ligada ao marido enquanto ele viver"?
Paulo especifica que essa ligação é "pela lei". Como a própria lei mosaica permitia o divórcio (Deuteronômio 24:1-4), o vínculo podia ser desfeito legalmente. Isso reforça que o divórcio, em situações de necessidade, é um direito, não um pecado.
Então, quem se divorcia pode casar novamente?
O ideal, segundo os princípios bíblicos, é buscar o perdão e a reconciliação, se possível. Mas, quando o divórcio é legal e justificado — especialmente em casos de violência, traição ou abandono —, a pessoa está livre para reconstruir sua vida, inclusive casando novamente.
Jesus e Paulo não impõem uma condenação eterna aos divorciados, como muitos sistemas religiosos sugeriram ao longo dos séculos.
Essa má interpretação de Malaquias 2:16 e de outros textos contribuiu para tragédias, especialmente para mulheres presas em relacionamentos abusivos, julgadas e condenadas por buscarem liberdade. A verdade é que Deus não deseja a opressão.
Ele odeia a violência(física ou psicológica) e a injustiça do repúdio, não o divórcio que protege e restaura. Com acesso aos textos originais, hoje podemos desmascarar essas distorções religiosas e entender que o coração de Deus é de justiça e liberdade para os oprimidos.
O propósito divino é claro: o casamento é sagrado, mas a maldade humana às vezes o corrompe. Nesses casos, o divórcio é uma porta para a restauração, não uma sentença de culpa.
Que possamos viver com perdão, buscar a reconciliação quando possível, mas também abraçar a graça e a liberdade que Deus oferece àqueles que sofrem.
Afinal, Ele veio para "libertar os cativos" (Lucas 4:18), e isso inclui romper as correntes de mentiras religiosas que pesaram sobre tantas vidas.
Que esse estudo possa abrir seus olhos e arrancar toda raiz de pesar ou condenação.
Deus te abençoe e te guarde.
Link do livro
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Sérgio Júnior
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